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A Lei da Palmada – Por Armando de Oliveira Neto*

Mais uma vez o amigo Armando, médico-psiquiatra, aborda tema importante, a lei que condena  castigos físicos impostos às crianças, conhecida por todos  como  Lei da Palmada.

Tão logo essa lei começou a ser discutida de forma mais ampla, solicitei a ele (ou talvez ele me comunicou que abordaria o tema) artigo a esse respeito. Assunto candente e muito constante   no começo deste ano, agora,  é  tratado aqui no Boca de maneira mais profunda e, ao mesmo tempo, de fácil compreensão para leigos.

A esse respeito, apenas uma curiosidade. Existe no Brasil uma teoria que diz: avô rico, filho nobre, neto pobre. Meu amigo José Vaidergorn há muito tempo me disse: filho de intelectual já é uma merda; neto, então, nem se fala.  Conhecia minha, filha de artista plástica   famosa, era incapaz de dar um pito nas filhas sem antes ler o que o Piaget achava do assunto.

Voltando a falar/escrever sério.

Com a Palavra, Armando de Oliveira Neto, que tem o poder de facilitar o entendimento de assuntos complexos.

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Em resposta, indignada por sinal, aos acontecimentos que giram em torno dessa famigerada “Lei da Palmadas” não poderia me esquivar de tecer alguns comentários sobre o tema.

Em resumo, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, de dia 15/02, em quadro sinóptico “Como fica”, encontramos que se define Castigo Físico como o uso da força física, que resulte em sofrimento à criança, tendo como exemplos palmadas, beliscões, empurrões e prevê, como Punição aos Infratores, acompanhamento psicológico e advertência judicial, inclusive com multa de 3 a 20 salários mínimos para médicos, professores e agentes públicos que não denunciarem castigos físicos, maus-tratos e tratamento cruel (Caderno C 6).

Lya Luft, em sua apresentação na Revista Veja (pg. 18, de 04/01/2012), escreveu que “não gosto do politicamente correto: ele muitas vezes tem um ranço de hipocrisia… considero a tal lei uma excrecência a mais na nossa legislação e na nossa cultura. E é perigosa, numa sociedade que vai ficando denuncista e policialesca, cada vez maiores seus olhões de big brother”, em referência ao romance de George Orwell. Denuncia, dessa forma, a criação de “um plano nacional de convivência familiar, no mínimo bizarro”.

A psicopedagoga Maria Irene Maluf, em Análise, no mesmo jornal acima citado, assinalou que “a disciplina como um fim é ruim de qualquer jeito… é imprescindível que cada um assuma o seu papel: aluno é aluno, pai é pai e professor é professor. Assumir isso detonaria o movimento atual em que todo mundo manda e ninguém obedece. Hoje falta educação de valores e a criança não recorre ao adulto, mas usa-o e o manipula para conseguir o que quer. Diz que a escola o está perseguindo e o pai, muitas vezes, embarca nisso… A idéia de que às vezes a viagem é mais importante que o destino funciona bem em educação. Principalmente quando se fala em disciplina”.

Apresentei as considerações dessas personagens para ilustrar que não estou sozinho nas reflexões que desenvolverei a seguir, embora traga algumas informações técnicas sobre a questão.

Questionar o que hoje se considera o “politicamente correto” seria uma repetição do que já foi abordado, mas aproveito para parafrasear o Prof. Dr. Walter Edgar Maffei: “um idiota saca e todos os outros vão atrás”, expondo a pouca capacidade reflexiva e questionadora a respeito de conceitos, quer novos quer reformulados os antigos.

Para se entender o significado da Palmada, há de se buscar na Etologia suas raízes: Konrad Lorenz e seus companheiros estabeleceram, desde os anos 30, o Estudo Comparado do Comportamento Animal, com o intuito de se compreender as atitudes do ser humano.
Para isso é preciso lembrar que nós da orelha para baixo somos completamente animais e para cima achamos que não somos, o que não corresponde à verdade, muito bem exemplificada nessa Lei da Palmada, que contém o conhecimento e a acuidade elaborativa de um muar.

Se não vejamos que em todas as espécies animais, que vivem em grupos, em sociedade, há regras rígidas de comportamento:
1.    Lobos obedecem ao líder da matilha, o alfa, que tem como obrigação, baseado na experiência, de escolher uma presa para o abate e todos os que participam da caçada acatam sua indicação. Aquele que não o faz pode ser banido do grupo, o que significa morte quase certa.

2.    Em manadas de elefantes, a aliá matriarca “ensina” fisicamente as regras de convivência entre os indivíduos e, ao atingir certa maturidade, os machos jovens são expulsos ao não aceitarem essas orientações. Há uma experiência funesta pelos resultados desastrosos na África onde uma região, onde os elefantes tinham sido exterminados, foi repovoada primeiramente por jovens machos, separados de suas manadas prematuramente, não tendo tempo hábil para aprender, com as mãe, tias e irmãs mais velhas, as regras de interação com os seres humanos. O resultado foi que acabaram invadindo as aldeias, saqueando as plantações, chegando a matar aldeões… até serem mortos.

3.    As galinhas obedecem à rigorosa ordem para a acomodação nas árvores, que pode ser observado nos galinheiros antigos das fazendas: as do grupo alfa dormem nos galhos mais altos e as ômega nos mais baixo, estando a serviço da lei do mais forte, pois se um predador aparecer alcançará primeiro as dos galhos inferiores. A disputa pelo melhor posicionamento no grupo pode ser constatado em qualquer praça onde tenha pombos, pois ao receberem alimentação comem primeiro os alfas, após uma breve escaramuça entre eles, quando confirmam ou modificam suas posições.

Esses três exemplos ilustram a relação pautada pela hierarquia e verticalização das relações, assim como a transgressão dessa regra sendo castigada e isso pode ser observado, desde o início de nossa História, muito bem documentado no Código de Hammurabi e sua conhecida Lei de Talião, resumida pelo “olho por olho, dente por dente”.

Moisés recebeu de Jeová, além da Palavra Nominativa de Deus, doze Mandamentos, ou Leis, ou seja, uma codificação do SIM e do NÃO, o que seria permitido ou proibido pelas Leis Divinas e aqueles que não as obedecessem seriam punidos com a morte: incinerados (Sodoma e Gomorra), afogados (exército do faraó) ou simplesmente mortos (os primogênitos egípcios), lembrando que o primeiro a receber uma punição, e injusta por sinal, foi o Arcanjo Lúcifer.
Cronos devorava qualquer um dos seus filhos que remotamente o ameaçasse, mas foi morto e servido em banquete pelos sobreviventes comandados por Zeus que se apropriou de muitos dos comportamentos do pai.

A esse respeito há a leitura de Freud sobre esse banquete totêmico cujo significado foi apresentado no Complexo de Édipo: destrói-se o pai castrador e, ao ingerí-lo, está se apropriando seus valores, construindo-se as bases do seu Super-Ego, sendo esse processo considerado universal à espécie humana, mas também observável em todo reino dos animais que vivem em grupos sociais, ou seja, a substituição de uma geração de dominantes pela mais nova, geralmente com morte do perdedor.
O temor da perda até da vida passa a ser um dos constituintes do que seria a base do respeito à autoridade.

Na espécie humana esse respeito apoiou-se nas regras de relacionamento, com a inseparável punição à transgressão: o castigo tornou-se elemento edificador das relações humanas.

A codificação do Sim e do NÃO, nos dias atuais, está explicitada na Declaração dos Direitos Humanos, na Constituição, nas Leis, nos Códigos, na jurisprudência e nos usos e costumes do povo, assim como o sistema de punição para aqueles que a desobedecerem.

Prêmio ao SIM,  castigo  ao NÃO formam as bases da organização social, estruturadas desde os primórdios de nossa cultura e aplicadas pelos representantes dos deuses, os curandeiros, e depois os reis, imperadores e suas representações atuais nos presidentes, primeiros-ministros e até ídolos, na evolução da complexa trama das relações humanas ao longo da história e, na atualidade, os Códigos, como o Penal, deveria versar sobre o tema Castigo.

Pavlov e Skinner descreveram, na Psicologia Comportamental, as implicações do Prêmio e do Castigo no comportamento humano.

Em relação às crianças, tema central desse escrito, a História nunca lhes foi favorável relembrando os primogênitos dos egípcios, assim como os escritos na Idade Média em relação à morte de infantes, quando as mães lamentavam mais a perda de um porco que a de seu rebento.

No romance “Oliver Twist” o tratamento dado ao pequeno protagonista denunciava a violenta forma de se lidar com crianças na Inglaterra vitoriana, que nos anos 70 solicitava, em anúncios com imagens radiológicas de fraturas afixadas no Metro, aos adultos que não as maltratassem a esse ponto.

Mas houve uma mudança paradigmática na forma de se entender as crianças.

A partir dos anos 60 e 70 houve uma nítida mudança no modo de se entender e educar e, como exemplo, lembro-me que apanhei, assim como meus colegas de bagunça, de régua de madeira ou fui levado pendurado pela orelha até a sala da Diretoria do Colégio, onde ficava de castigo até minha mãe me buscar, sabendo que depois teria que me explicar ao velho, o que geralmente não conseguia por motivos óbvios e então se completava a punição aos feitos que realizara.
Hoje, não sei se por lenda ou folclore, uma criança, que foi repreendida pelo professor, ameaçou-o dizendo-se ser filho de fulano que tinha muito dinheiro e que poderia expulsá-lo da escola e que teria sido confirmado quando o diretor exigiu retratação do pobre docente.

Quando trabalhava em atendimento de professores em um grande hospital da capital, ouvi muito relatos coincidentes, inclusive com reportagens em jornais e revistas, nos quais eram ameaçados até de morte pelos alunos que tinham tirado notas baixas ou reprovados por qualquer outro motivo.

Assim lá se foi para o esquecimento o conceito de verticalização das relações com as crianças e, para não ser pessimista com a ideia de inversão,  penso numa horizontalização: crianças passam a ter tanto poder quanto os adultos.

E muito do que se diz sobre crianças cabe perfeitamente nesse alerta, e isso não é de hoje, pois, em sua Tese de Livre Docência para a Cadeira de Pediatria da Faculdade de Medicina da USP, o Prof. Dr. Pedro de Alcântara, em meados dos anos 40, definiu “hipertrofia de autoridade” como sendo o comportamento de crianças que dominavam seus pais, sintetizado no exemplo de uma pequena paciente que exigia “maçã se não tiver”.

Em outro escrito apresentei minha interpretação sobre esse fenômeno: ao se educar crianças pautadas na satisfação de seus desejos (drogas, sexo e rock & roll), criamos futuros consumidores que movimentarão as engrenagens da nossa economia, sendo essa a vertente familiar da “obsolescência programada”, o que me deixa incrédulo e desesperançoso quanto a uma possível mudança.

Para que isso tenha alicerce em nossa cultura parental há necessidade da mudança em alguns conceitos, sendo o do binômio SIM x NÃO e o de Castigo os mais importantes.

O que é SIM e o que é NÃO?

Houve tempo que os Dez Mandamentos foram suficientes para essa codificação, mas, com o vertiginoso aumento da complexidade das relações humanas em nossa época, não é mais possível neles nos pautarem em nossas ações.

Quando criança, eu  assistia aos seriados no clube, antes da vinda da televisão; os mocinhos eram facilmente reconhecidos, pois usavam chapéu branco, cavalo branco, revólver branco e principalmente assumiam uma postura ilibada frente aos bandidos, que eram maus, com chapéu preto, cavalo preto, etc. Os primeiros terminavam bem, com as mocinhas, e os bandidos mal, presos. Hoje os bandidos são mocinhos;  justiceiros  não mais usam chapéus pretos, e combatem os mocinhos que são corruptos, assassinos…

E depois se culpa os brinquedos de armas como os grandes incitadores da violência na sociedade e não os enredos que permeiam as relações humanas: quanta inocência, aqui entendida em sua concepção etimológica, ou seja, quanta falta de ciência e conhecimento.

Quando se estuda o referencial comunicacional do SIM e do NÃO, pode-se notar que há duas componentes, a digital e a analógica.

A digital é aquela representada pela leitura direta da comunicação, o NÃO e seu significado, o impedimento, a obstrução, o bloqueio.

A Analógica é aquela que necessita o estabelecimento de uma relação com o fato, um paralelismo, uma coerência, uma complementação, podendo estar a serviço de um reforço ou de um enfraquecimento do significado.

O NÃO, que nos interessa, deve ser complementado por vários atributos comunicacionais como um semblante fechado, uma sisudez, sobrancelhas contraídas, rima bucal arqueada, gestual de membros superiores firmes, entonação de voz grave, com aumento do volume, toques corporais incisivos e, se necessário, palmada!!!

É assim que qualifico a palmada, uma comunicação analógica confirmatória e complementar do NÃO.
Aviso aos inocentes: palmada não é surra, maltrato…

Orquestra-se no seio de nossa cultura, ocidental burguesa capitalista, uma estratégia de alijar o NÃO de mais um de seus instrumentais, a PALMADA, construindo e confirmando a premissa que o “Brasil é o país da impunidade”. As sequelas das extirpações desses instrumentais podem ser encontradas em qualquer noticiário atualizado envolvendo a relação crime/castigo e agora chegando ao mundo infantil.

Espero ter, pelo menos, acrescentado alguns pontos de reflexão sobre o tema, contribuindo para sua opinião a respeito da “Lei da Palmada”.

Armando de Oliveira Neto  S.P. Abril de 2012

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*Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra
Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama

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Se quiser ler mais esclarecedores e oportunos  artigos  de Armando de Oliveira Neto, clique aqui – O primeirO texto que vai aparecer é esse mesmo e o segundo  não é do Armando, apenas cito seu nome para corrigir leve injustiça que eu havia cometido.  Os seguintes são dele.  Desfrutem e aprendam com quem entende.

A Real Utilidade das Novelas e dos Big Brothers da Vida…

Não sou e não gosto daqueles que, para justificar que viram uma coisa na tv, dizem:

– Estava passando em frente à televisão e vi …

Aliás, eu nem precisava explicar isso,  tantos foram os elogios que sempre fiz ao teleteatro da Globo, a mais alguns programas bons como Ronnie Von, CQC; atualmente acho excelente o Agora é Tarde, com Danilo Gentile, Ultraje a Rigor (um dia ainda escrevo sobre a “inveja” que tenho do QI de gênio do Roger), Marcelo Mansfield, Léo Lins e Murilo Couto.

Novelas (leia-se encheção de lingüiça)  e Big Brother,  esse nada absoluto,….   são “fundamentais”. Fundamentais  para muitos telespectadores, que,  como eu,   chegam tarde em casa.

Assiste-se  ao Jornal Nacional. E enquanto  dezenas de milhões,  por esse Brasil adentro/Brasil afora,   ficam extasiados com brothers/sisters e enredos-enrolados eternamente, já que termina novela, começa novela,   dá para  jantar sossegado e não perder o programa que vem após,  em geral coisa boa, como Grande Família, outro seriado e até o Globo Repórter, quando o assunto é interessante.

Salve Novela!!!  Salve Big Brothers!!!

“Personal Natal” e Reflexões – Por Armando de Oliveira Neto

Mais uma vez, o amigo Armando tece  seus precisos cmentários  a respeito da vida dos dias de hoje e as distorções que grassam por aí.  Armando vai além daquele be-a-bá do óbvio de que o Natal virou apenas festa de consumo e comilança.  Leia o texto que ele me mandou ontem

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Hoje, dia 17, fui surpreendido por uma notícia sobre:” “personal natal” – vira moda entre paulistanos” (OESP).
Por motivos que desenvolvo abaixo grafo esse natal com letra minúscula.

Se não, vejamos:

Natal é a comemoração do nascimento de Jesus, data magna das religiões cristãs, e que tem como objetivo SIMBÓLICO a confirmação do compromisso do cristão para assumir as diretrizes morais, apresentadas no Novo Testamento, no comportamento cotidiano.

Lembro-me dessas comemorações em minha infância, quando minha “nonna”, que trouxe de suas origens camponesas da Reggio Calabria, comandava um momento mágico: à meia noite, todos familiares sentados em torno da mesa de jantar, permaneciam em silêncio, rezando e refletindo sobre o ano que estava findando e o que então iniciaria, chupando sete uvas brancas. Esse era o compromisso com a representação de Jesus em nossas vidas.

Mas não havia a presença do presépio, que daria concretude a esse momento, e que só tomei contato décadas mais tarde, com o exemplo de minha querida “segunda” mãe, Viola Gabriela, há mais de dois anos no Oriente Eterno.

A “árvore de natal” não é representativa dessa comemoração, pois ela tem origem nos rituais pagãos nórdicos, por ocasião da invasão daquela região pelos romanos, quando foi proscrita a cerimônia de exaltação a Odim, em torno de sua representação no mais alto pinheiro da região, coberto de neve (os enfeites brancos), com a possibilidade de visualização das estrelas em meio a folhagem balançante (as luzes piscando), visto essa data corresponder ao solstício de inverno, com noite geralmente clara, e tendo a brilhante estrela polar, da constelação da Ursa Maior, em seu cimo (a ponteira).

Papai noel é uma representação da lenda do cardeal, por esse motivo a roupagem escarlate, Santa Klaus, que, também em noite de dezembro, teria levado às filhas de uma pobre viúva os respectivos dotes para que pudessem se casar, e colocados em meias na beirada da lareira, daí o presentear nessa data.

Misturaram tudo isso, com nítido rompimento com os significados.

Mas “personal natal”!!!???

É demais…

Explicando: é um “profissional” que tem como trabalho preparar uma festividade faraônica, com comes e bebes com tudo que a tecnicologia pode oferecer.

Logo teremos uma competição sobre qual é o “natal” mais mais!!!

Tudo em nome da “performance”, do visual, da ostentação… e o pobre do Jesus de escateio!!!

É o continente sobrepujando o conteúdo, o significante acima do significado, o cruel esvaziamento do simbolo…

As raízes são facilmente identificadas nesse Capitalismo que aí está: o que interessa é consumir, desde enfeites, passando pelos presentes e terminando na cerimônia do natal, em letra minúscula.

Caro Paulo, como minha “fixação” é a destruição do Estado, correndo o risco de lembrarem que quem procura porco ouve ronco em tudo quanto é canto, acho que esse movimento faz parte de um programa maior do Capitalismo em destruir as bases que sustentam o “mini-Estado” familiar, isto é, que nossas famílias tenham seus valores morais (aqui entendido dentro dos parâmetros preconizados por Max Sheler) e religiosos, sendo substituidos pela fascinação do comprar.

Tenho, cá para mim, que esse é um processo irreversível, comparando com os mecanismos silenciosos que o vírus HIV usa para infestar os seres humanos… e destrui-los!!!

Mas para minhas netas, independente da religião que elas venham a professar, resgatarei os princípios do Cristianismo: nós somos as manjedouras onde devemos fazer nascer dentro de nossas almas os princípios de Jesus, de Buda, de Gandhi, de Maomé e de todo aquela que me ajudar a repensar minha responsabilidade para com meu próximo.

E isso é um convite a você, leitor.

Obrigado.

Quem quiser ler Matéria do Estadão, citada por Armando, a respeito de Personal Natal  Clique aqui

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Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra
Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama

A Invasão da USP e a Desconstrução do Estado – Por Armando de Oliveira Neto*

Mais uma vez, o psiquiatra   Armando de Oliveira Neto, meu amigo e leitor do Boca,  dá sua abalizada opinião sobre tema do momento.  Ele analisa a “Invasão” da USP.  Segue abaixo:

Da mesma forma que você, caro Paulo, fico inconformado com algumas facetas da nossa Pátria e a recente invasão da USP por “alunos” fez-me pensar sobre as causas e consequências dessa manifestação.

Nas aulas de Organização Política e Social, aprendi que o Estado era sustentado por três Instituições basilares: o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, cada um com suas funções específicas, como elaborar as Leis, cobrar as suas aplicações e executá-las, de forma sintética.

Mas tal não ocorreu no decorrer de mais um deplorável acontecimento de nossa História: a “invasão” da USP.
Se não vejamos:
1.    Um jovem estudante foi brutalmente assassinado num dos estacionamentos da USP.
2.    Latrocínio é crime previsto em Lei.
3.    A comunidade, sensibilizada e mobilizada, pede, e é atendida, para que haja policiamento ostensivo, ou seja, que o Estado se faça presente e que se cumpra a Lei.
4.    Maconha e seu manuseio é crime, também previsto em Lei.
5.    Três “estudantes” são presos pela polícia no estrito cumprimento da Lei.

Até aí, tudo bem e dentro da Ordem Pública, mas o que se segue constitui, a meu ver, mais um passo no processo de desconstrução do Estado, impetrado tanto pelo dito Estado quanto pelo povo, ou parte dele, que se fez ouvir:

1.    “Estudantes” tentam evitar as prisões, mas no meu entender tentam desmontar o Estado, por meio da quebra jurídica vigente.
2.    Uma pessoa, identificada como sendo líder do governo na Assembleia Legislativa, assume ostensivamente posição contra as prisões e a favor da invasão do prédio da Filosofia e Letras: essa pessoa, notando que não o qualifico como cidadão, “fazedora” das Leis e que deveria ser um dos mais ferrenhos defensores delas, posta-se contrário à sua aplicação. Identifico-o como mais um “desconstrutor” do Estado.
3.    Instala-se outro Estado, o dos “estudantes”, dentro e contrário ao Estado de Direito, com nova ordem legal: maconha e invasão à vontade.

A cena acabou?

Não!!!

Cenas dos próximos capítulos de “desconstrução”:

1.    Após idas e vindas os “estudantes” decidem acatar as determinações legais e abandonar as instalações da USP, que poderia ser considerada a retomada dos ditames legais, um retorno à Ordem primeira.
2.    Ledo engano: “estudantes”, dentro da recém-criada nova Ordem Legal – A Dos “Estudantes”, decidem não acatar as orientações emanadas do seu próprio grupo e assim derrubam, desconstroem, o Novo-Estado e criam outro Novo-Estado dentro e contra o Novo-Estado, com outra ordem jurídica dentro da ordem dentro da ordem…

Parece mais uma cena esquizofrênica de nossa esquizofrênica sociedade, mas assim não a considero, uma vez que entendo que faça parte de uma orquestração que se nos apresenta desde muito, o conceito da relação de dominação, e que foi bem definida na atualidade pelo “projeto de poder do PT”, tal como foi tratado pelos meios de comunicação.

Outros exemplos, desnudados pelos noticiários, ou em filmes como “Tropa de Elite” 1 e 2, são encontrados na corrupção de nossas polícias, de nossos governantes, no dia a dia de nossas cidades, etc.

Uma pergunta deixa um “gosto amargo de coisas perdidas”: será reversível?

Acho que não e seria bom alguém informar à nossa “presidenta” que ela é governante de um país sem governo, estadista de um Estado sem Estado…

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*Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra
Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama

Complexo de Vira-Lata é Coisa Antiga, Atesta o Leitor Sidney Barbosa

Uma vez mais, sinto-me obrigado a transformar comentário do do assíduo   leitor  e  divertido Sidney Barbosa  em Post.  Agora,  as perspicazes  teclas de seu computador  metralham o Complexo de Vira-Lata que acometeu até o nosso ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.   Particularmente, eu acho que esse acirramento do complexo de Vira-Lata tem menos de quarenta anos.   Digo, acirramento dos aspectos ridículos da coisa.  Já para o Sidney, isso é coisa dos tempos coloniais.  Acho que ele está certo e eu também.  Começou lá atrás fraquinho, mas hoje é avassalador e insuportável de tão rídiculo.

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Rápidas Considerações e Histórico do Complexo de Vira-Lata – Por Sidney Barbosa.

Mayr, vou brincar de escrever. Nelson Rodrigues era incrível, leia mais sobre o complexo de vira-lata que ele diagnosticou, (como um psiquiatra/analista de nossa sociedade classe média, nos contos “A vida como ela é”),  sobre o  qual ele  gostava de zombar:

“Ou expulsamos de nós a alma da derrota ou nem vale a pena competir mais. Com uma inferioridade assim abjeta, ninguém consegue nem atravessar a rua, sob pena de ser atropelado por uma carrocinha de Chica-Bon.” (artigo na Manchete Esportiva, 19/5/1956 – do livro “A pátria em chuteiras – Companhia das Letras).

Muitas vezes o cronista fazia esforço para levantar nossa auto-estima e usava e abusava da imagem do futebol:

“Olhem Pelé, examinem suas fotografias e caiam das nuvens. É, de fato, um menino, um garoto. Se quisesse entrar num filme da Brigitte Bardot, seria barrado, seria enxotado. Mas reparem – é um gênio indubitável. Digo e repito – gênio. Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los, com intima efusão: “Como vai, colega?”. (idem, crônica de janeiro/1959 – edição especial da Manchete Esportiva).

Esse defeito de caráter ataca e é celebrado principalmente a classe média brasileira e as pessoas que orbitam a sua volta, nas reuniões sociais onde se busca de “estatus”. Nesse ambiente onde um suspeita do outro, mas na qual gostam de comparecer e mostrar aos seus pares as suas conquistas materiais (carros, jóias, roupas, etc). Também é onde gastam um dinheiro que lhes faz falta para se confraternizarem com pessoas das quais não gostam.

O povo, o povo mesmo, esse que anda de busão, que trabalha, de mãos calejadas, roupas sujas da labuta, que mata um leão por dia para alimentar a família e manter a própria dignidade, ama, ama muito o Brasil e, nem um pouquinho se sente inferiorizado. Longe disso, este povo ama o seu povo e a cultura brasileira. Ama tudo o que é do Brasil, embora ele, governado por outros interesses, muitas vezes lhe faça mal. Mas é essa classe laboriosa que constrói a pátria, a cidadania e luta pelos seus direitos.

A classe que sofre de CVL, (formada em parte por pessoas que acham que um diploma universitário é suficiente para colocá-los no Monte Olimpo, mas não fazem esforço para galgá-lo – “cacête, que língua a nossa! Galgá-lo !!”), conhece o mundo através de pacotes turísticos de sete dias pagos em doze prestações, passa a vida a olhar aquele espelho e a se chamar entre si de “excelência”, enojada de nossas coisas.

Pois bem, se já não me perdi no diálogo, vamos em frente. CVL é coisa antiga. Vem lá da época colonial. “Ajunte-se a isto a natural desafeição pela terra, fácil de compreender se nos transportarmos às condições dos primeiros colonos… não havia pendor a meter mãos destinadas aos vindouros; tratava-se de ganhar fortuna o mais depressa para ir desfrutá-la no além-mar. … Desafeição igual à sentida pela terra nutriam entre si os diversos componentes da população” (“Capítulos da Historia Colonial” – Capistrano de Abreu – série Pensamento Brasileiro – Editora Itatiaia). Chega de citação, né !, tá ficando chato.

Daí que isso vem há tempo; e, de tempo em tempo aparece coisa nova pra aborrecer quem ama de fato o Brasil e que trabalha por ele e quer deixar para os filhos e netos algo melhor e mais igualitário do que recebemos.

Agora, encasquetaram com Lula e seu modo de falar. Como se não fosse normal que um presidente que veio do povo falasse a língua do povo. Mas essa mesma classe, (pseudo erudita, que ama o poeta Manuel Bandeira e lamenta que ele não escreva em francês),  esqueceram de ler o seu poema: “A vida não me chegava pelos jornais nem/ pelos livros./ Vinha pela boca do povo, na língua errada/ do povo./ Língua certa do povo./ Porque ele é que fala gostoso o português/ do Brasil./ Ao passo que nós/ o que fazemos/ é macaquear/ a sintaxe lusíana.”

Também não faz muito, a moeda do real copiou o dólar americano “In god we trust”. No Real colocaram “Deus seja louvado”. Contudo, nossa geração, que passou pelas diversas crises econômicas e sofreu os diversos planos econômicos queriamos mesmo que contivesse algo como “Is what God wants”, ou “Seja o que Deus quiser”.

Não vai aqui nenhuma critica à Deus e aos religiosos. Longe disso. Porque a este respeito, é nosso querido Nelson Rodrigues quem encerra o assunto: “O cara que não acredita em Deus merece passar a vida amarrado a uma perna de mesa, andar de gatinhas e condenado a beber leite numa cuia de queijo Palmira”.

Um abraço.

Sidney

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Mais algumas manifestações explícitas de Complexo de Vira-lata (CVL, para facilitar).   Há CVL na Ecologia, moda, negócios, entre milionários na praia, entre milionários no Campo, no Shopping,  Assolando Inteletuais e até duas honrosas exceções: Hering e Computadores  Positivo.  Clique aqui

Xixi na Cama na Micro-crônica e Na Psicanálise

Amigo Vasqs, sempre presente aqui no Boca, mandou  um dos seus divertidos e sutis micro-textos que me fizeram lembrar piada fabulosa.

MICRO-TEXTO

Título: Diário

O Otávio largou o diário sobre a mesa. Janela aberta, entrou um vento e folheou página por página. Adianta pedir pro vento não espalhar? Agora todo mundo sabe que o Otávio escreve diário, que dormiu com os pais até doze anos, urinou na cama até os 15, usa cueca do Piu-piu, é virgem, votou no Zé Serra e, pobre, torce pro Palmeiras. *

PIADAS **

Estava no consultório do gastro, pai de cineasta bem famoso, e ele pergunto sobre aspectos psicológicos.  Eu disse que havia feito psicanálise. Ele:

-Sei uma piada muito boa.

Eu me antecipei com a minha piada (digo, de domínio público)  e ele repondeu:

– A minha é muito melhor.

Lá vão as duas.

Minha (mais uma frase).  As três hipóteses de acabar uma análise:  ou morre o analista, ou morre o paciente ou acaba o dinheiro  do paciente.

A dele.  Sujeito de 25 anos urinava na cama.  O pai mandou o cara para se tratar na Europa com uns discípulos do Freud.  Depois de cinco anos, o sujeito desembarca e o pai todo ansioso pergunta se ele havia se curado.

Resposta:

– Pai, continuo urinando na cama.  Mas agora eu me ORGULHO disso!!!

Não precisa nem falar o seu voto.  As duas são boas.  Mas a que o médico contou é infinitamente melhor.

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* Conheça Ostras ao Vento, Blog do Vasqs, Clique aqui

**Conheça Mais Piadas  do Boca no Trombone, Clique aqui Todas as piadas estão relacionadas a algum fato que estava acontecendo quando os posts foram escritos.  Não são apenas as piadas em si.

Leitor Sidney Barbosa Conta História Mórbida Divertidíssima!!!

Já não é a primeira vez que sou obrigado a transformar comentário do leitor  Sideney Barbosa  em post, de tão hilário.  Dessa vez, o assunto é morte e correlatos, com direito a banho no defunto. Divirta-se!!!

Mayr, dá sim pra lembrar de alguns velórios e dar boas risadas. Conto uma, se prometer não espalhar. Uma vez, faz muitos anos, fomos pescar, eu e um amigo que não é, digamos prá ser educado, não é lá muito igual aos outros. Pois bem. Chegando lá no rio longe a beça, o pirangueiro (homem que mora as margens de rio), achou por bem morrer de morte súbita. Tinha na vizinhança uma filha. Considerando que não era mais a propósito pescar, resolvemos socorrer a familia. Fui pra cidade de carro, com a filha, providenciar as coisas do funeral. Meu amigo ficou no rancho velando o morto. Isto é, cheirou daqui, cheirou dali, achou que o morto não estava lá muito limpo e já tinha até cheiro de morto passado. Quando retornamos, encontramos o defunto nú estendido numa cama de molas (sem o colchão) secando ao sol. Ele arrumou uns materiais de limpeza e com uma vassoura de pelo deu um banho bem dado no falecido. Restauramos a moralidade, o papa-defunto vestiu o morto com um terno emprestado e o levou para a cidade. Antes de voltar pra casa resolvemos passar no velório. Os parentes e amigos do morto nos agradeceram muito pelo auxílio prestado. Apenas estranharam o cheiro de sabão em pó e amaciante de roupa que exalava do defunto. Um abraço.

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Valeu, Sidney – Não nos prive por muito tempo de seus casos hilários

Se quiser ler outro post do Sidney: clique aqui

Links dos posts aqui do Boca  que originaram esse comentário/post  do Sidney:

Clique aqui zero – Meu Epitáfio

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Minhas Perguntas ao Cabo Anselmo – Por José Renato Nalini*

O Desembargador José Renato Nalini fez parte ontem da Bancada do Programa Roda Viva da TV Cultura que entrevistou  controvertida e famosa personagem da política brasileira, o cabo Anselmo.  Cabo Anselmo  iniciou  suas atividades na esquerda e depois passou a colaborar com a Revolução de 1964.

Doutor Nalini, por fim, fala que mesmo após a entrevista, não conseguiu formar opinião sobre Cabo Anselmo.

Abaixo, as considerações do Desembargador Nalini a respeito da noite de ontem, as perguntas que queria ter feito mas, infelizmente, não teve oportunidade, já que eram diversos entrevistadores, assunto vasto e tempo curto.

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Convidado a participar do revival do RODA-VIVA no formato antigo, procurei revisar o que sabia sobre o polêmico personagem que ficou conhecido como “Cabo Anselmo”.

Após a leitura do material encontrado nas fontes de pesquisa disponíveis, elaborei 12 questões, das quais pude fazer duas. Eram elas:

1) Como foi que o senhor chegou a ser Presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil aos 23 anos? Qual havia sido a sua formação política para chegar a esse posto?

2) O discurso pronunciado em 25.3.1964 e que deflagrou o golpe e deposição de João Goulart não foi escrito pelo senhor (foi escrito por Carlos Lamarca). Mas o conteúdo refletia a sua posição política?

3) Quando o senhor foi preso, em 30.5.1971, vivia com Edgar Aquino Duarte, amigo dos tempos da Marinha. Sabe o que foi feito dele? O senhor tem algo a ver com isso?

4) Por que o Diretor do DOPS carioca à época do golpe de 1964, Cecil Borer (*1913-+2003), disse dois anos antes de morrer, que o senhor já servia ao DOPS do Rio, ao Cenimar – Centro de Informações da Marinha e à CIA?

5) Aquela versão de fuga auxiliado pelo Polop – Organização Política Operária, não reforça a tese de colaboracionismo anterior a 1971? Por que o senhor tinha a chave da cela e foi autorizado a sair pela porta da frente da prisão sob a desculpa de se encontrar com uma mulher? Todos os presos gozavam dessa regalia?

6) Quantas pessoas morreram em virtude de sua delação?

7) Há pelo menos duas versões de sua cooptação pelo sistema que antes combatia. Uma delas é a de que houve tortura. Outra, a de que foi seduzido pela argumentação convincente do delegado Sérgio Paranhos Fleury, de quem veio a se tornar amigo. Qual delas é a verdadeira?

Qual a sua mensagem para um jovem – não necessariamente marinheiro – que queira ingressar na política brasileira em 2011?

9) Qual o saldo da atuação da esquerda após 50 anos?

10) A que o senhor atribui a dificuldade na obtenção de documentos comprobatórios de sua existência civil? Houve tentativa de obtenção de segunda via do assento? Tentou fazer um registro tardio? (não sabia, até então, que ele foi registrado aos 6 anos).

11) Qual o seu atual relacionamento com os amigos da fase 1964/1971? E com os da fase 1971 até à morte do Delegado Sérgio Fleury? Com quais se relaciona ainda hoje?

12) Valeu a pena?

Confesso não ter uma opinião formada sobre o entrevistado. Consegui que ele assumisse a falta de ideologia ao se confessar um ator quando da leitura da famosa carta. Terá sido ator durante toda a entrevista? Chocou-me a tentativa de atribuir à Soledad a responsabilidade por sua morte cruel e infamante. E por sugerir que os fins justificaram os meios. Acenou com a intenção de “serenar os ânimos, impedir a guerra civil” ao delatar os amigos. Ainda que isso importasse na morte deles.

Enfim, ao afirmar que “vive em paz consigo mesmo e com Deus” deixou-me dúvidas sobre essa misteriosa capacidade das pessoas de removerem da consciência tudo aquilo que possa causar desconforto.

Será que na “Comissão da Verdade” alguma verdade virá a ser dita? Ou estaremos condenados a nunca saber qual foi o seu efetivo papel nesses tempos de obscurantismo que aconteceram ainda ontem e que reclamam urgente acerto de contas?

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Como o doutor Nalini, todos os que assistiram ao programa ficaram com muitas perguntas sem respostas.  Próximo Capítulo, “Comissão da Verdade”.  É torcer para que esse lado obscuro da nossa história, nem tão recente assim,  seja um pouco mais desevendado.

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*José Renato Nalini é Desembargador do TJSP, ex-Presidente da Academia Paulista de Letras.

Assalto a Banco e Fundação de Banco – A Dúvida Permanece

O dramaturgo alemão  Berthold Brecht, antes da metade do século passado,  já perguntava:  o que é um assalto a um Banco se comparado à Fundação de um Banco?

Vasqs, o bam bam bam das mini-crônicas, meio século depois, em seu Blog Ostras ao Vento, retoma a coisa:

“Noticiário barra-pesada
Atenção. O banco Cifrão S.A. obteve um lucro líquido de 30 bilhões de dólares nos últimos 12 meses. Até agora ninguém foi preso.”

Deleite-se com as mini-crônicas, desenhos e outros gêneros de literatura do Vasqs no seu blog  OSTRAS AO VENTO .  Aliás, leia lá sobre o lançamento do livro dele no dia 3 de setembro,  na Livraria HQMix Pça Roosvelt, 142, centro de S. Paulo, das 17 às 21 hs.

Finalizando, mas ainda em Tempo: até o José Simão  costuma citar o Vasqs em suas colunas

Roney Giah, Compositor e Tudo Mais – Por Léo Nogueira

O amigo Léo Nogueira é letrista.  Conhece o poder da síntese, mas não o exerce.  Seus textos  no blog O X do Poema são longuíssimos, sempre.  Roney Giah, também amigo do Caiubi,  é músico renomado, com alguns prêmios internacionais.  Veja o Perfil que Léo fez do Roney em  na concorrida seção do X do Poema –  Ninguém me Conhece.

Colar e copiar textos, às vezes, implicam em pequenos problemas aqui no Blog.  Um trecho abaixo vai sair mal diagramado, visual feio e, pior, letra pequena.  Não há o que se possa fazer.   Mas vale o sacrifício.

Divirtam-se:

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Roney Giah, Compositor e Tudo Mais – Por Léo Nogueira.

Quando comecei a frequentar o Clube Caiubi, uma das coisas que mais me chamaram a atenção foi a quase ingênua atmosfera de rebeldia, própria da juventude dos compositores e de suas canções, cheias de frescor e originalidade. Contudo, notava-se certo amadorismo. Por vezes o compositor não passava segurança na hora de interpretar sua própria canção e terminava por estragá-la. Mas isso também pertencia ao pacote “espírito rebelde”. Os erros eram aplaudidos e, de tão condescendente que era a plateia, o mesmo compositor, na terceira ou quarta tentativa, já mostrava melhor desenvoltura.

A juventude tem a seu favor o aspecto tempo (os mais velhos chamam a esse aspecto “espectro”), pode se dar o luxo de errar e aprender. E o Caiubi era um movimento jovem. Mesmo os não tão jovens assim que lá chegavam aprendiam logo a ostentar essa bandeira juvenil, ainda que em espírito. Foi nessa época que apareceu por lá Zé Rodrix. Veio. Viu. Gostou. Voltou. E ficou. E trouxe com ele a bagagem da experiência adquirida em tantas décadas de estrada. Ele olhava no olho do erro e sabia cegá-lo.

E com Zé RodrixCaiubi começou a dar os primeiros passos rumo ao profissionalismo. Sim, havia muito o que fazer, vários dos compositores que ali se apresentavam e mostravam belas canções nunca tinham subido num palco antes. É preciso frisar que, como a principal bandeira do Caiubi era (é) a música autoral, sobravam compositores e faltavam intérpretes, o que fazia que os próprios compositores se fizessem intérpretes.

Mas todos sabemos que a melhor propaganda é a que faz o público satisfeito, o chamado boca a boca. E, quando menos se esperava, o público aumentou e, com ele, vieram outros artistas. E quer uma coisa melhor pro artista que tocar onde o público está? Assim foram chegando outros nomes, uns se sentindo em casa, como o grupo Rossa Nova, a dupla Carol Pereyr e Márcio Pazin; outros sondando o espaço, como Ito Moreno e Adolar Marin; alguns no meio termo, como Élio Camalle; sem falar nos que vinham de fora, como Clarisse Grova e Alexandre Lemos… Cada um acrescentando sua experiência de estrada ao Clube (a bem da verdade, o Rossa Nova vem dos tempos das vacas magras).

E foi aí que, numa daquelas noites, meio como quem não sabe exatamente onde está pisando, penetrou pela velha rua Caiubi 420 um tipo alto, loiro, de olhos claros, como que recém-chegado da Finlândia ou da Dinamarca… Ah, trazia um violão (não entrava tão desavisadamente assim…). Sentou-se e passou a escutar atentamente os que se apresentavam. Até que chegou sua vez. A humildade dele não subiu ao palco. O que se viu (e se ouviu) naquele momento foi um camarada personalíssimo, tranquilo, seguro, prender a plateia com suas belas canções de inusitadas letras, violão bem tocado e uma voz que, se fechássemos os olhos, nos remeteria ao canto negro dos irmãos americanos da metade superior do globo. Só que em português.
O nome do moço: Roney Giah. E eu errei o país, seus genes tinham mais a ver con una bella pastasciutta. Na segunda segunda lá estava ele de novo. E na terceira. E na quarta. Logo ele era tão de casa, que a primeira noite foi se tornando cada vez mais longínqua. Mas Roney, apesar de certo ar principesco, não pensava duas vezes em arregaçar as mangas e ajudar com o que fosse possível, desde tocar um violão sobressalente na canção de um colega até manusear a mesa de som. Acho mesmo que se preciso fosse ele faria as vezes do garçom.
Roney, raciocínio rápido, entendeu na hora o espírito da coletividade caiubista. Diria até que o melhorou, pois não trazia em si nenhum tipo de ostentação. Dominava com segurança seu ofício e isso lhe bastava. Trocamos CDs e (observação: sempre quando falo que troquei CDs, de minha parte me refiro a algum CD da Kana, pois, pra felicidade geral da nação, não possuo um pra chamar de meu – por enquanto! – será uma ameaça?) pude ouvir, maravilhado, sua competência muito bem amparada pela qualidade sonora e musical de Mais Dias Na Terra, CD com boa quantidade de possíveis hits radiofônicos valorizado ainda mais pelo brinde de belas letras.

Certa vez ameaçamos uma parceria, mas ficou só na ameaça. Roney chegou a vir em casa, onde labutamos bastante em prol do desenlace de duas canções, que nos venceram pelo cansaço e continuaram no limbo, na qualidade de duas meias canções. Com o tempo, percebi que no quesito parceria o espírito coletivo de Roney enfraquece um pouco, talvez porque tudo o que queira expressar em suas canções o faça por meio de suas próprias palavras.

E chegou o grande dia do lançamento do Mais Dias Na Terra no MIS (Museu da Imagem e do Som). E, mais uma vez, Roney mostrou todo o seu profissionalismo num show afiado, empolgante, cheio de climas, com ensaiada banda e seu protagonista efervescido, apoteótico como se estivesse num Rock in Rio, a exemplo dos shows de seu colega Ricardo Soares. Aliás, talvez o grande defeito do show (pra que não falemos só de flores) tenha sido sua larga duração, pois, como a plateia estava gostando, Roney preferiu satisfazê-la a deixá-la com o gostinho de quero mais.

Mas a trajetória de Roney vai além do MIS e do Caiubi. Ele esteve nos States estudando música com feras e lhes apre(e)ndendo também a tecnologia. Emplacou pequenos sucessos e conseguiu até contrato com uma gravadora (inglesa). Mas antes disso sua música já tinha passeado pelo Prêmio Visa, batido na trave no Prêmio Tim e no Grammy Latino, sua guitarra já esteve a serviço da banda do etc. etc. Dá até preguiça copiar aqui tantos feitos. Façamos assim, abaixo vou postar o link pra seu site e vocês poderão notar como o moço é “rodado”.

Contudo, Roney também tem defeitos. E nós, os baixinhos, adoramos procurar defeitos em figuras como ele. Foi assim que, com muito custo, percebi que ele vez em quando pisa na jaca com a “flor do Lácio”, mandando um “ter” em vez do “tiver”, respirando no meio de um “pá… ssaro” y otras cositas, digo, other things. Mas ele não quer nem saber. Pode alegar (com razão) que não passa de inveja de quem está impedido (não pelo juiz) de fazer gol de cabeça, e continua no ataque, Queimando A Moleira, Co’as Goela E Tudo, preparando dois ou três novos CDs simultaneamente, acreditando que é só dessa forma que pode justificar seu pedido diário de renovação de passaporte terreno, pra passar Mais Dias Na Terra.

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Ouça algo mais de Roney aqui.

Leia as letras aqui.

Roney também está no Caiubi.

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