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PAZ E FRATERNIDADE – NA MISSA???

Amigo ou parente querido morre.

Triste,   você enfrenta todas as dificuldades que a metrópole lhe impõe para comparecer à missa de 7º Dia, solidarizar-se com os demais parentes e amigos e prestar   homenagem ao morto.

Até entrar dentro da Igreja,  a pequena lista de aborrecimentos pode ser, de maneira muito otimista, resumida a:
• Desmarcar compromissos já assumidos, 
• pegar trânsito alucinante, 
• negociar com o trombadão tomador de conta de carro e pagar apenas R$ 5,00 para estacionar na Rua, embaixo da Placa de proibido, sujeito à multa,
• Tomar chuva.

Dentro da Igreja,  muitas vezes com os pés encharcados, ingênuo,você supõe que vai poder ter paz para  desfrutar das  palavras reconfortantes programadas pela Igreja Católica para essas ocasiões.  Doce engano. Como quem cumprisse a mais ingrata e enfadonha missão,  a grande maioria dos padres nega-se terminantemente a flexionar as palavras.   Assim, você passa  cerca de 40 minutos ouvindo um zunido intermitente e permanece incapaz de identificar a grande maioria das palavras.  Às vezes , com certa dificuldade, você decodifica: um Deus, amor, trabalho.    As palavras seguintes, entretanto,  voltam a soar como zunido.  Entender o significado do que é dito,  é trabalho  que nem o mais bem intencionado dos santos que se dispusesse a comparecer à igreja seria capaz de realizar.

Em tempo:  a família do morto paga em média R$   250,00  por uma missa nas Igrejas dos bairros  da zona oeste.

E a Igreja Católica não entende porque perde fiéis a cada dia.

Saudades dos erros de português de antigamente

Em um supermercado pseudo-chic da Rua Pedroso Alvarenga no Itaim Bibi, dois produtos que pego não trazem preço na embalagem.  Passo no leitor de barras e, mais uma vez, nada de o  preço aparecer. 

Aí me lembrei da rigorosa professora Therezinha  de Português  do Ginásio. Dizia ela indignada:

– Problema não é a vizinha tocar a campainha à noite e pedir para usar o telefone.  O que irrita mesmo é ela pedir para dar uma telefonema.

Nos meus tempos de ginásio, era tudo mais simples, até os erros de português. 

Pois bem, voltando à arrogância dos dias de hoje. Supermercados pseudo-chics, naturalmente, têm funcionários pseudo- intelectuais. 

Informo o sub-gerente da ausência de etiquetas e da ineficácia da maquininha.  Nem preciso dizer a cabotina e presunçosa  resposta do nego; dou um prêmio para quem não acertar na mosca.  Lá vai a resposta  do pseudo ao quadrado (intelectual e chic):

– Eu vou estar informando  o setor responsável.

Em uma coisa  os dias de hoje são imbatíveis: na meta-irritação  – você ganha nova irritação ao tentar resolver irritação primária.

Ouvir a vizinha pedir para dar uma Telefonema e se irritar!!!  Ah, meu Deus –  A gente era feliz e não sabia!!!

Correr na Fórmula 1, o Auge. Assistir, o Tédio

Domingão,  corrida decisiva da Fórmula 1 no Brasil e mais, depois de anos e anos, um brasileiro tem chances de conquistar o título. Torço por Felipe Massa, naturalmente.  Aliás, conheço o pai dele desde muito antes mesmo de o piloto ter nascido.  Mas daí a dizer que vou ficar grudadado na TV, não são milésimos de segundos de distância, mas sim léguas.  E olha que estou bem acompanhado – por gente do ramo, inclusive.

Émerson Fittipaldi havia sido campeão da Fórmula 1 no ano anterior.  Eduardo, surfistão amigo meu, pedia carona na estrada que vai da praia de Pernambuco para o Centro do Guarujá.  Émerson pára, Eduardo entra no carro.  O Piloto confessa-lhe algo que, naturalmente,  jamais diria em público:

– Eu não entendo como alguém pode assistir a uma corrida de carro.

Émerson, eu também não.

Carta (não respondida) para Marta e Kassab

Mandei através de email a Carta abaixo para os dois candidatos a prefeito no 2. Turno da cidade de S. Paulo. Confirmei com os assessores de Imprensa de ambos o recebimento. O Assessor de Marta deixou recado na secretária dizendo que não conseguiu responder “por conta da grande demanda dos meios de comunicação”. A equipe de Kassab não deu qualquer satisfação. Vou votar em um dos candidatos. Agora, candidatos, cujas equipes não conseguem tempo, para responder uma carta, sei não…

Suponho que o eleitor e leitor do Boca no Trombone gostaria de ver respondidos/comentados as sugestões abaixo. Uma pena!!!

De qualquer forma, posso propor um exercício. Quem quiser, diga – através dos comentários – o que gostaria que o eleito faça a respeito do que foi aqui levantado.

É isso aí, bote a boca no Trombone, para isso que ele existe.

Boa eleição para nós todos.

São Paulo, Vésperas do 2. Turno

Prezados Candidatos Gilberto Kassab e Marta Suplicy:

Cordiais saudações.

Quando o dinheiro é curto – e isso é crônico no nosso carente país -, os bons administradores devem ser capazes de lançar mão de medidas inteligentes e simpáticas. Um bom exemplo foi dado pelo prefeito Mário Covas ao abolir a cobrança do bilhete de ônibus para idosos. O custo da medida para a prefeitura foi/é quase igual a zero, beneficiou/beneficia muito justamente milhares e milhares de paulistanos todos os dias e é imensamente simpática.

Além do Cidade Limpa, iniciativa da atual administração, que transformou a nossa cidade, há uma série de outras medidas que podem melhorar muito a qualidade de vida dos paulistanos, repetindo: melhorar muito.

Lá vão elas. Não se assustem. Não custam caro!!!

A poluição visual foi impiedosamente derrotada. Entretanto, muito mais nefasta do que a poluição visual é a poluição sonora, todo tipo de poluição sonora. O barulho do trânsito pesado de uma avenida, logicamente, incomoda. Mas o que incomoda mesmo é o barulho excessivo e irregular. E a irregularidade é cometida até mesmo pelas viaturas oficiais da polícia, corpo de bombeiros, carros de autoridades com sirenes absolutamente ensurdecedoras. Em relação a barulhos causados por veículos, ninguém deve escapar do controle/punição: o caminhão do gás, o vendedor de pamonha, o boyzinho de escapamento aberto, o carro de som que sai pelas ruas anunciando produtos do comércio local. Vale a pena lembrar que bares, boates e até mesmo shows oficiais promovidos nos Parques Públicos podem divertir/ entreter os freqüentadores, mas não podem tirar o sossego da vizinhança.

Após muitos anos fora do Brasil morando na Europa e, salvo engano, até no Oriente, famoso articulista da nossa imprensa disse que se preparou com empenho para que na sua volta à Pátria não sofresse em demasia como o choque cultural a que seria submetido. Já devidamente instalado, confessou que o suposto choque cultural não ocorrera. Entretanto que não estava suportando o “choque dos decibéis” (expressão dele). Mesmo a construção civil, segundo ele, nos países por onde passou, utiliza técnicas de modo a poupar os cidadãos do barulho excessivo. Estacas, naturalmente, têm que ser colocadas no local da obra. O barulho é grande, mas dura pouco Já as serras-elétricas, usadas durante toda a construção, deveriam ser proibidas em bairros residenciais e comerciais. As peças já chegariam no tamanho certo nas obras. Imagino que o articulista se referia a isso, entre outras normas/medidas tomadas no exterior.

Como dá para ver, tecnologia mais legislação bem feita mais ( e, principalmente,) fiscalização eficiente dão conta de resolver esse imenso e devastador transtorno a que o Paulistano é submetido permanentemente. Idéias para Fiscalização Eficiente, de uma maneira geral, serão dadas mais adiante.

Outra providência urgentíssima é reconquistar o Espaço Público para o Público/ para o cidadão. Mostrar que quem faz lei é o Poder Público. É isso mesmo. Aí o desrespeito é tanto que a coisa precisa ser tratada em sub itens.

Comerciantes fazem vitrines que avançam sobre as calçadas, além de muitas vezes exporem seus produtos fora dos limites de suas lojas. Esses mesmos comerciantes, certamente a pretexto de impedir que ambulantes se instalem diante de suas lojas, constroem floreiras de concreto sobre as calçadas. Constroem, edificam. O atrevimento é tanto, a certeza da impunidade é tal que eles deixam estateladas em concreto provas de suas irregularidades/arbitrariedades.

Os ambulantes, todo mundo sabe, estão irregularmente sobre as calçadas lutando para sobreviver. É compreensível e até louvável uma certa tolerância com eles. Agora, o direito de o cidadão, seja ele rico ou pobre, se locomover pelas calçadas é inalienável. Assim sendo, o ideal era haver empenho efetivo da prefeitura, associações de comércio e lideranças locais de arranjar áreas vagas para instalar ambulantes. Cá entre nós, não sou capaz de oferecer idéia alguma além dessa.

Ainda a respeito de comerciantes/comércio regularmente estabelecidos. É inconcebível que em ruas de comércio de trânsito intenso como a Teodoro Sampaio – em Pinheiros – (certamente isso acontece em diversas ruas comerciais da cidade) seja permitido o estacionamento com ou sem zona Azul. Se isso favorece o comércio local, prejudica imensamente toda a população. Não dá para entender uma rua de trânsito intenso onde haja uma pista exclusiva para ônibus, uma para automóveis e outra para estacionamento. Por mais que se esforce, uma pessoa de inteligência razoável, e bom senso idem, não vai conseguir entender. Isso sem contar que nas transversais dessas ruas – onde em geral o estacionamento é permitido com cartão de zona azul – sobram vagas o dia inteiro.

Já que o assunto é zona Azul, lá vai sugestão de medida quase tão simpática quanto a do prefeito Mário Covas isentando velhinhos de pagar condução. Trata-se de providência extremamente justa que irá, inclusive, propiciar um clima de cordialidade entre os paulistanos. Determinar que não haja mais necessidade de se colocar a placa do veículo no Cartão da Zona azul. Assim sendo, se eu estacionei por quinze minutos na Zona Azul e não vou mais estacionar o carro na próxima hora, eu posso ser cordial e oferecer o meu cartão para o proprietário do carro que está estacionando e que, muito provavelmente, também não usará mais do que quinze ou vinte minutos do tempo a que o mesmo cartão ainda dá direito.

Prezados candidatos, idéia tão simpática quanto a medida do prefeito Mário Covas de isentar velhinhos de pagar ônibus eu não consigo lhes oferecer. Entretanto, essa do cartão de zona Azul “reaproveitável” não é de se jogar fora, hein!!! Por falar em jogar fora, ainda há o aspecto ecológico da coisa: economia de papel, celulose, produtos químicos de impressão, diminuição de lixo. Vou lhes confessar uma coisa, caros candidatos. Essa idéia não é minha. Logo que surgiu a Zona Azul, o usuário não precisava colocar a placa do carro e os cartões eram reaproveitados. Nessa época, era comum se presenciar cenas de camaradagem entre os motoristas que estavam saindo e os que estavam chegando na Zona Azul.

Voltando ao Espaço Público para o Público do qual a Zona azul me afastou por uns pares de parágrafos. Determinar e dar prazo muito curto para que todos os condomínios/comerciantes retirem essas imensas cestas de ferro que instalaram junto ao meio fio para colocar lixo. Trata-se de verdadeira afronta, tanto ao pedestre que precisa ficar desviando quanto para o motorista que estaciona o carro e não consegue abrir a porta. Além de determinar a retirada, exigir que a calçada seja entregue exatamente como era antes de tal atrevimento. Quem quiser pode e até deve construir esses cestos. Entretanto, esses cestos precisam obrigatoriamente estar dentro do terreno do condomínio, talvez com um dente na grade frontal (dente para o lado de dentro, naturalmente. Os espertinhos imediatamente vão pensar em fazer um barrigão sobre a calçada, é lógico.!!!!!!) No meu prédio (é apenas uma coincidência pq não sou síndico) existe essa cesta colocada dentro do terreno do condomínio. Mas tenham a certeza de que se essa cesta estivesse sobre a calçada, na ata da primeira reunião de condôminos após o fato, já haveria registro de protesto de minha parte.

Ainda sobre calçadas para pedestres, acabar com esses balcões de Valets Parking (ridículo ter que escrever em Inglês). O restaurante pode oferecer esse serviço, mas não pode ocupar a calçada e, menos ainda, determinar a proibição de se estacionar em frente ao seu estabelecimento. Reiterando, cabe à prefeitura fazer leis e escolher onde se pode e onde não se pode estacionar.

Essa próxima idéia/medida visa até mesmo a segurança. Determinar e dar um prazo para que a numeração de todos os imóveis da cidade esteja uniformizada. Assim sendo, todas as casas, prédios, lojas no limite do lado direito (pode também ser o esquerdo) a uma determinada altura do chão – 1,50 metros acho que está de bom tamanho – tragam a numeração uniforme. Nos lugares de maior poder aquisitivo, esses números devem ser iluminados desde o fim da tarde até o início da manhã. Faça uma experiência e tente chegar a uma casa pela primeira vez durante a noite e mesmo durante o dia. É impressionante a criatividade de cada morador de esconder o número de sua casa, isto quando se dignam colocar o número. Nessa neurose obsessiva de medo que vivemos, muitos acham seguro simplesmente não exibir o número da casa. E o cidadão de dentro do carro vai guiando, caçando número, ao invés de olhar para frente. Chega a ser ridículo!!!

Por falar em neurose obsessiva de medo, que saudades dos tempos em que se encontrava um amigo no trânsito, acenava para ele e falava um pouco mais algo qualquer coisa. Com o insufilme (nem sei como se escreve e meu dicionário não traz a palavra), acabou tudo isso!!! Meu carro não tem insufilme. Espero que quando for comprar carro novo essa praga de insufilme não venha compulsoriamente grudada no vidro. Aliás, a lei permite esses vidros fúnebres nos carros???? Ou, como diria minha professora de francês, existe uma lei, mas não pegou??? Não é uma boa hora de fazer essa lei pegar, como diria o nosso ex-presidente, agora senador Collor de Melo: “Duela a quem duela”???

Finalmente, não seria justo que todo mundo tivesse o direito de fumar desde que não estivesse em ambiente fechado???? É aquela história: ao se permitirem e se estabelecerem áreas de fumantes e não fumantes, aos não fumantes – em todos os restaurantes de que me lembre (exceto no fabuloso Camelo) – couberam os piores lugares. Há algum tempo, ouvi uma jornalista da Rádio Band News observar exatamente isso: não fumantes sempre com a pior área nos restaurantes. Sem contar que não é uma mera plaquinha onde se lê fim da área de fumantes – que vai impedir a fumaça de passar para o outro lado. Só rindo mesmo!!! No Camelo há uma sala completamente isolada só para fumantes fumarem enquanto comem e tossirem a vontade. Olhar a nuvem de fumaça que se forma na famigerada sala dá pena

Agora, o calcanhar de Aquiles de tudo isso: a fiscalização. Minha sugestão é que a Prefeitura e Sub-prefeituras tenham um corpo de fiscais polivalentes com poderes para efetivamente multarem tudo o que estiver errado, determinar as providências, dar prazos e voltar a multar, sempre em progressão aritmética ou até mesmo geométrica, caso as providências não tenham sido tomadas.

Prezados candidatos, acho que vale a pena reforçar o quanto mais puder esse calcanhar de Aquiles da Fiscalização. Ao mesmo tempo vai ser necessário aprimorar a legislação. Cá entre nós, diante do benefício de que todos usufruiremos, o esforço até que não é tão grande assim.

Agradecendo todas as providências que serão tomadas por quem for eleito, mesmo aquelas que exijam forças por demais hercúleas, aguardo resposta.

Boa sorte nas Eleições e que vença o melhor para a Cidade!!!

Atenciosamente

Paulo Mayr
Cidadão paulistano desde 1954 – ano do 4. Centenário de S. Paulo

Celulares Anti-búfalos

A Tecnologia na fabricação de celulares não pára e, como todos sabem, esses famigerados aparelhinhos tornaram-se verdadeiros computadores, MP3 e até televisores.

Segundo ouvi no rádio, só a Nokia vende 15 celulares por segundo, todos os segundos.

Pois bem, lanço uma proposta/desafio que Nokia e todos os demais fabricantes deveriam considerar seriamente e se empenhar para por em prática.

Criar aparelhos que amplificassem a voz de maneira absolutamente fantástica. Mas tão fantástica que se o usuário que estiver falando, fosse além de um super-ultra suave sussurrar, aquele que está do outro lado, para não ter os tímpanos danificados, precisaria desligar imediatamente.

Não sou cruel.

Cruel é o búfalo que fica ao meu lado, onde quer que eu esteja, gritando e me obrigando a ouvir coisas que eu não quero e nem tenho a menor obrigação de escutar.

Para terminar, três frases minhas (tenho outras) sobre essa desgraça.

1) O celular é capaz, inclusive, de eliminar a acintosa sutileza de um japonês.

2)O celular implodiu os preceitos mais rudimentares de educação.

3) Todo búfalo tem celular. Na verdade, o celular tornou búfalos seus usuários. Mais ou menos búfalos, porém búfalos.

O ideal mesmo seria um mundo sem celular – óbvio!!! Não é frase – apenas conclusão lógica do texto.

Antes que me perguntem. Eu não tenho celular. Espero jamais ter.

É TUDO DESCARTÁVEL 2 – TRISTE MEDALHA!!!

Computador, automóvel e até mesmo amigos viraram produtos descartáveis, como já se viu, para meu desespero – sujeito romântico, ou clássico, conforme me rotulou um sobrinho quando tinha uns quatro, cinco anos e estava aprendendo adjetivos na escola.

O desperdício é tanto que um paradoxo, de proporções gigantescas, estatela-se diante de meus olhos e cérebro. Muito provavelmente eu esteja errado e a humanidade está certa, seria muita pretensão minha pensar o contrário.

Vivemos uma época da obsessão pelo politicamente correto, sobretudo pelo ecologicamente correto.

Meu querido e saudoso amigo Celso, velho fabuloso de 83 anos, que dominava computador igual um menino de 15, piloto de jato, recém-falecido, detestava as onças que atacavam rebanho de sua fazenda na região amazônica. Dizia ele, brincando naturalmente

– Se você matar uma onça e o fiscal do Ibama vir, mate-o também.

Falava isso porque, salvo engano meu ou falha de memória, crimes ecológicos são punidos com prisão em flagrante. Por assassinato, salvo engano, responde-se em liberdade.

Curioso paradoxo assola essa sociedade que venera ecologia a ponto de a vida de uma onça valer mais do que a de um ser humano.

Até alguns anos atrás, todo mundo tinha em casa garrafas de cerveja e refrigerantes vazias.

Hoje, joga-se tudo no lixo. Por mais que se diga que o vidro das garrafas será reciclado e voltará em forma de novas garrafas, logicamente há desperdício em se produzir o que já estava pronto e apto para uso depois de um simples processo esterilização. E o conteúdo se torna mais caro. E o consumidor paga a garrafa e joga no lixo. E o lixo só faz aumentar. E Isso só faz agravar a falta e a sobrecarga de aterros sanitários. E… . E… … E … Paradoxo, atrás de paradoxo…

Cerveja em lata, então, nem se fale. Para começar, como diria minha Tia Ciloca/Carioca, cerveja em lata devia ser proibida por lei, só por conta do quanto prejudica o sabor e, principalmente, a temperatura.

Faz algum sentido substituir a simpática e econômica garrafa grande das tradicionais confraternizações em bares, praias e restaurantes que servem três amigos ao mesmo tempo pelas individuais, dispendiosas e insossas latinhas???

Sem contar a…. adivinha??? Poluição!!!

Mas aí entra a fabulosa criatividade brasileira. Já que nem em futebol o Brasil consegue mais ser campeão, o país tornou-se imbatível na reciclagem de latinha de cerveja. Por isso, dia sim e outro também, a todo momento, crianças, jovens e velhos miseráveis de todas as idades estão a “explorar” (eufemismo para coisa tão degradante) latas de lixo.

Que triste medalha essa da reciclagem!!!

É Tudo Descartável!!!

Descartável, como todos imaginam, quer dizer que se pode ou se deve descartar. Meu Aurélio Eletrônico até dá exemplo: Fraldas
Descartáveis.

O verbo Descartar, por sua vez, ainda de acordo com meu Aurélio, significa:

1) “rejeitar (a carta de baralho que não serve, devolvendo-a à mesa);
2) Pôr de parte, não levar em conta, afastar uma hipótese
3) Pôr de parte; deixar de usar ou jogar fora após o uso. Exemplo Dada a injeção, descartou a seringa; Descartou-se das lâminas usadas.
4) Livrar-se de pessoa ou coisa incômoda, enfadonha ou importuna: Exemplo. Tudo fez para descartar-se do repórter.”

Como se vê, Aurélio e sua equipe tiveram razoável bom senso ao dar exemplos: cartas inúteis no jogo de baralho, hipóteses que se demonstram infrutíferas, lâminas de barbear usadas, coisas e pessoas incômodas, enfadonhas e inoportunas, como nós jornalistas.

Acontece que a sociedade não tem esse bom senso e cautela, tornando tudo descartável, a começar pelas pessoas – enquanto fulano tá servindo, quer como amigo, companheiro de viagem, parceiro de negócios, empregada doméstica, beleza. Depois, descarta-se, lixo!!!

Quem não concordar com esse tipo de relacionamento pode e deve relutar, é muito saudável e edificante.

Mas quanto a coisas materiais, tudo aquilo que era considerado bens de consumo duráveis – automóveis, eletrodomésticos, computadores – até alguns anos atrás, virou descartável, tal qual fralda, fio dental e lâminas de barbear. Meu computador anda empacando. Meu técnico, sujeito oriental, econômico e de muito bom senso, foi taxativo:

– Seu computador tem 6 anos, tá velho, troque já.
Meu computador é ótimo, mas alguns programas recentes, necessários para ler documentos atachados em emails o sobrecarregam demais, tornando-o verdadeira tartaruga para todas as tarefas.

Lembro-me que quando tinha uns 17 anos, uma geladeira de casa foi trocada. Nos oito anos seguintes, acho que houve mais umas três trocas.

Quanto mais medíocre o povo e mais pobre, paradoxalmente, mais descartáveis e até perecíveis torna as coisas. Na Europa, freqüentemente se vêem carros com mais de vinte anos circulando pelas ruas. Por aqui, muitas pessoas despeitadas e invejosas cultuam o carro do ano como bem supremo. Famoso janotinha, após ter sido barrado em um grupo, foi para a Imprensa e botou a boca no Trombone:

– Enquanto eu ando de BMW (salvo engano meu) do ano, a maioria daquele pessoal tem carros com mais de 10 anos de uso.

Palito de fósforo, fio dental, amigos, computadores, carta de baralhos, carros que não sejam BMWs do Ano é tudo descartável!!!

Viva a mediocridade!!!

Acabou a luz, acabou tudo!!!

Virou rotina: dia sim, dia não, falta energia em bairros da Zona Oeste da cidade.

Antigamente, acabava a luz, bastava abrir um pouco a cortina ou persiana e tocava-se a vida pra frente: reuniões podiam ser mantidas; escrevia-se à máquina e o telefone funcionava. Vou falar o óbvio. Hoje é tudo eletrônico, nem mesmo telefones funcionam nos apagões. Sem contar o estresse de estar escrevendo, preenchendo uma planilha, acabar a luz e você não saber o que foi salvo e o que ficou no éter cibernético.

Em Belém do Pará, onde todos os dias chove rápida e torrencialmente em determinada hora da tarde, a população marca os compromissos para logo após a chuva. Desse jeito, os paulistanos serão obrigados a tomar a mesma atitude e marcar compromisso para antes ou depois do apagão – com desvantagem suplementar: a chuva é pontual e o apagão, temperamental!!!

Para terminar, frase minha mostrando que a coisa é bem mais feia ainda do que parece:

Um mero apagão deixa patente a vulnerabilidade de toda a civilização urbana contemporânea. E o pior: não se pode nem tomar um café expresso!!!

Call centers – lei deveria garantir espera em silêncio

Decreto que endurece regras para call centers (ah, esses malditos terminhos em inglês) deveria também determinar que o consumidor terá sempre a possibilidade de ligar para números de telefones gratuitos para fazer quaisquer reclamações que sejam. Afinal, reclamação já pressupõe dor de cabeça.

Atualmente, o sujeito começa a levar baile dos 0800 – gratuitos – e desiste. Tenta daqui, tenta dali, descobre outro telefone da empresa que não o obriga a tanta perda de tempo. Mas ele paga por essa ligação.

Pagar para ter dor de cabeça é demais. Na verdade trata-se, como costumo dizer, de meta-dor de cabeça – o sujeito tem uma dor de cabeça/aborrecimento extra para resolver aborrecimento/dor de cabeça anterior/primária.

E não basta limitar o tempo de espera em até dois minutos no máximo. Ainda para poupar o cidadão de uma segunda meta-dor de cabeça, literalmente falando, é fundamental que a lei/decreto garanta ao consumidor o direito de esperar ser atendido em absoluto silêncio, sem ser bombardeado por musiquinhas e propagandas estúpidas e ensurdecedoras exatamente da empresa que o está submetendo a tal suplício.

E o bê-á-bá do óbvio!!!

Búfalos Precisam de Cabrestos

As populações vão se concentrando nos grandes centros, tornando os espaços cada vez menores. Se mais gente precisa conviver em menos área, é fundamental que todos tenham noções de limites. É a velha história da qual certamente os jovens nunca ouviram falar e a grande maioria dos não tão jovens já deve ter esquecido: a liberdade de cada um vai até onde começa o direito do próximo. Para alguns de nós, nenhuma novidade.

Mas o que vem acontecendo é justamente o contrário. Os sem educação, Búfalos como eu chamo, têm a mais cristalina certeza de que a liberdade deles é ilimitada, o outro que fique resignado de ter seu direito violentamente invadido.

Nesse exato momento, a loja de som para automóveis embaixo do meu escritório está com o Som no último volume: música sertanojo mas com aquele contrabaixo que faz tremer os vidros dos prédios em volta.

Se alguém for reclamar, é capaz de ouvir do dono da Loja que ele está trabalhando. Ora, ele que teste quantos equipamentos de som quiser, na altura que seus tímpanos agüentarem, mas com fones de ouvidos, naturalmente. Ele não pode incomodar toda a vizinhança.

Hoje mesmo presenciei cena fabulosa. Um pedestre, com uma criança no colo que chorava muito, estava na calçada em frente ao estacionamento da padaria. Nisso vem uma desses Peruas Jeeps, com vidros nigérrrimos, como de praxe, e, em velocidade, enfia o carro em cima do pedestre. O pedestre deu um pulo. Caso não tivesse feito isso, ele e o filho seriam atropelados violentamente na calçada. O pedestre fez um gesto levantando a mão. A mulher perua que saia da perua ainda reclamou alto:

– Fica aí parado no meio da calçada e o que é que tá reclamando!!!

O sujeito, certamente não querendo expor o filho de colo a situação constrangedora, foi-se embora em silêncio. Fosse o pedestre um cara esquentado e o búfalo do volante, sujeito que não admite ser contrariado, a coisa terminaria em violência brava.

Está mais do que na hora de o governo ficar atento para o quanto esse vandalismo, essa barbárie, já se tornaram corriqueiros e começar a promover campanhas através de todos os meios a esse respeito. Eventualmente até criar leis/ normas/portarias para coisas tão óbvias.

É lógico que daqui para frente só vai piorar. O Desarmamento foi derrotado no plebiscito. Situações desse tipo temperadas com armas de fogo…

Em tempo, meu caro amigo Zé Vaidergorn, leitor assíduo do Boca, disse que sou muito injusto quando chamo esses vândalos de búfalos, que são dóceis. Concordo inteiramente com ele!!! Sou mesmo imensamente injusto com os búfalos animais – os animais de quatro patas, bem entendido!!!