As populações vão se concentrando nos grandes centros, tornando os espaços cada vez menores. Se mais gente precisa conviver em menos área, é fundamental que todos tenham noções de limites. É a velha história da qual certamente os jovens nunca ouviram falar e a grande maioria dos não tão jovens já deve ter esquecido: a liberdade de cada um vai até onde começa o direito do próximo. Para alguns de nós, nenhuma novidade.
Mas o que vem acontecendo é justamente o contrário. Os sem educação, Búfalos como eu chamo, têm a mais cristalina certeza de que a liberdade deles é ilimitada, o outro que fique resignado de ter seu direito violentamente invadido.
Nesse exato momento, a loja de som para automóveis embaixo do meu escritório está com o Som no último volume: música sertanojo mas com aquele contrabaixo que faz tremer os vidros dos prédios em volta.
Se alguém for reclamar, é capaz de ouvir do dono da Loja que ele está trabalhando. Ora, ele que teste quantos equipamentos de som quiser, na altura que seus tímpanos agüentarem, mas com fones de ouvidos, naturalmente. Ele não pode incomodar toda a vizinhança.
Hoje mesmo presenciei cena fabulosa. Um pedestre, com uma criança no colo que chorava muito, estava na calçada em frente ao estacionamento da padaria. Nisso vem uma desses Peruas Jeeps, com vidros nigérrrimos, como de praxe, e, em velocidade, enfia o carro em cima do pedestre. O pedestre deu um pulo. Caso não tivesse feito isso, ele e o filho seriam atropelados violentamente na calçada. O pedestre fez um gesto levantando a mão. A mulher perua que saia da perua ainda reclamou alto:
– Fica aí parado no meio da calçada e o que é que tá reclamando!!!
O sujeito, certamente não querendo expor o filho de colo a situação constrangedora, foi-se embora em silêncio. Fosse o pedestre um cara esquentado e o búfalo do volante, sujeito que não admite ser contrariado, a coisa terminaria em violência brava.
Está mais do que na hora de o governo ficar atento para o quanto esse vandalismo, essa barbárie, já se tornaram corriqueiros e começar a promover campanhas através de todos os meios a esse respeito. Eventualmente até criar leis/ normas/portarias para coisas tão óbvias.
É lógico que daqui para frente só vai piorar. O Desarmamento foi derrotado no plebiscito. Situações desse tipo temperadas com armas de fogo…
Em tempo, meu caro amigo Zé Vaidergorn, leitor assíduo do Boca, disse que sou muito injusto quando chamo esses vândalos de búfalos, que são dóceis. Concordo inteiramente com ele!!! Sou mesmo imensamente injusto com os búfalos animais – os animais de quatro patas, bem entendido!!!
Adorei o último parágrafo. Especialmente da segunda frase.
Agora falando sério. Apesar de achar que palavras bem-colocadas consigam aniquilar o inimigo, parece que o sentido de “poder” e “força” no Brasil estão um tanto quanto distorcidos. “Força” é força no braço. Dia desses soube que o lema do nosso Exército é “Braço Forte, Mão Amiga”. Como não somos um país de leitores – 45% acabam de confessar que não gostam de ler -, é provável que alguns só estejam lendo a primeira parte do slogan. É isso aí, brava gente. brasileira …