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É TUDO DESCARTÁVEL 2 – TRISTE MEDALHA!!!

Computador, automóvel e até mesmo amigos viraram produtos descartáveis, como já se viu, para meu desespero – sujeito romântico, ou clássico, conforme me rotulou um sobrinho quando tinha uns quatro, cinco anos e estava aprendendo adjetivos na escola.

O desperdício é tanto que um paradoxo, de proporções gigantescas, estatela-se diante de meus olhos e cérebro. Muito provavelmente eu esteja errado e a humanidade está certa, seria muita pretensão minha pensar o contrário.

Vivemos uma época da obsessão pelo politicamente correto, sobretudo pelo ecologicamente correto.

Meu querido e saudoso amigo Celso, velho fabuloso de 83 anos, que dominava computador igual um menino de 15, piloto de jato, recém-falecido, detestava as onças que atacavam rebanho de sua fazenda na região amazônica. Dizia ele, brincando naturalmente

– Se você matar uma onça e o fiscal do Ibama vir, mate-o também.

Falava isso porque, salvo engano meu ou falha de memória, crimes ecológicos são punidos com prisão em flagrante. Por assassinato, salvo engano, responde-se em liberdade.

Curioso paradoxo assola essa sociedade que venera ecologia a ponto de a vida de uma onça valer mais do que a de um ser humano.

Até alguns anos atrás, todo mundo tinha em casa garrafas de cerveja e refrigerantes vazias.

Hoje, joga-se tudo no lixo. Por mais que se diga que o vidro das garrafas será reciclado e voltará em forma de novas garrafas, logicamente há desperdício em se produzir o que já estava pronto e apto para uso depois de um simples processo esterilização. E o conteúdo se torna mais caro. E o consumidor paga a garrafa e joga no lixo. E o lixo só faz aumentar. E Isso só faz agravar a falta e a sobrecarga de aterros sanitários. E… . E… … E … Paradoxo, atrás de paradoxo…

Cerveja em lata, então, nem se fale. Para começar, como diria minha Tia Ciloca/Carioca, cerveja em lata devia ser proibida por lei, só por conta do quanto prejudica o sabor e, principalmente, a temperatura.

Faz algum sentido substituir a simpática e econômica garrafa grande das tradicionais confraternizações em bares, praias e restaurantes que servem três amigos ao mesmo tempo pelas individuais, dispendiosas e insossas latinhas???

Sem contar a…. adivinha??? Poluição!!!

Mas aí entra a fabulosa criatividade brasileira. Já que nem em futebol o Brasil consegue mais ser campeão, o país tornou-se imbatível na reciclagem de latinha de cerveja. Por isso, dia sim e outro também, a todo momento, crianças, jovens e velhos miseráveis de todas as idades estão a “explorar” (eufemismo para coisa tão degradante) latas de lixo.

Que triste medalha essa da reciclagem!!!

É Tudo Descartável!!!

Descartável, como todos imaginam, quer dizer que se pode ou se deve descartar. Meu Aurélio Eletrônico até dá exemplo: Fraldas
Descartáveis.

O verbo Descartar, por sua vez, ainda de acordo com meu Aurélio, significa:

1) “rejeitar (a carta de baralho que não serve, devolvendo-a à mesa);
2) Pôr de parte, não levar em conta, afastar uma hipótese
3) Pôr de parte; deixar de usar ou jogar fora após o uso. Exemplo Dada a injeção, descartou a seringa; Descartou-se das lâminas usadas.
4) Livrar-se de pessoa ou coisa incômoda, enfadonha ou importuna: Exemplo. Tudo fez para descartar-se do repórter.”

Como se vê, Aurélio e sua equipe tiveram razoável bom senso ao dar exemplos: cartas inúteis no jogo de baralho, hipóteses que se demonstram infrutíferas, lâminas de barbear usadas, coisas e pessoas incômodas, enfadonhas e inoportunas, como nós jornalistas.

Acontece que a sociedade não tem esse bom senso e cautela, tornando tudo descartável, a começar pelas pessoas – enquanto fulano tá servindo, quer como amigo, companheiro de viagem, parceiro de negócios, empregada doméstica, beleza. Depois, descarta-se, lixo!!!

Quem não concordar com esse tipo de relacionamento pode e deve relutar, é muito saudável e edificante.

Mas quanto a coisas materiais, tudo aquilo que era considerado bens de consumo duráveis – automóveis, eletrodomésticos, computadores – até alguns anos atrás, virou descartável, tal qual fralda, fio dental e lâminas de barbear. Meu computador anda empacando. Meu técnico, sujeito oriental, econômico e de muito bom senso, foi taxativo:

– Seu computador tem 6 anos, tá velho, troque já.
Meu computador é ótimo, mas alguns programas recentes, necessários para ler documentos atachados em emails o sobrecarregam demais, tornando-o verdadeira tartaruga para todas as tarefas.

Lembro-me que quando tinha uns 17 anos, uma geladeira de casa foi trocada. Nos oito anos seguintes, acho que houve mais umas três trocas.

Quanto mais medíocre o povo e mais pobre, paradoxalmente, mais descartáveis e até perecíveis torna as coisas. Na Europa, freqüentemente se vêem carros com mais de vinte anos circulando pelas ruas. Por aqui, muitas pessoas despeitadas e invejosas cultuam o carro do ano como bem supremo. Famoso janotinha, após ter sido barrado em um grupo, foi para a Imprensa e botou a boca no Trombone:

– Enquanto eu ando de BMW (salvo engano meu) do ano, a maioria daquele pessoal tem carros com mais de 10 anos de uso.

Palito de fósforo, fio dental, amigos, computadores, carta de baralhos, carros que não sejam BMWs do Ano é tudo descartável!!!

Viva a mediocridade!!!