Arquivo da categoria: Crônicas

Coma e Beba de Tudo. Não Engorda…

Agora é espírito de Festas; comer e beber de tudo.

Afinal, Hebe Camargo, que há tão pouco tempo nos deixou e já faz tanta falta, com humor e muita sabedoria decretou:

– O que engorda não é o que você come entre o Natal e o Reveillon, mas  sim o que você come entre o Reveillon e o Natal.

Hebe, que na eternidade se possa comer de tudo à vontade sem engordar do Dia de Reis ao Reveillon. O período entre Reveillon e Dia de Reis que se dedique apenas a um merecido  descanso para o fígado.  E o principal, Champagne  todos os dias aí em cima e, obviamente,  selinhos sem fim.

Fica com Deus, Hebe Querida!!!

Corinthians, Tal Qual Heróis Mitológicos, Chega com o Rabo do Dragão

Vem Corinthians, vem pros Braços da Fiel!!!

Infelizmente, não dá para receber e retribuir cada abraço de torcedor.

Mas vem  desfilar em carro aberto pairando acima dessa multidão de loucos.  Já é  mais que suficiente para retribuir todo o carinho que o time e os competentes cartolas têm recebido ao longo dos últimos tempos.

Propp, estudando  a mitologia, mostrou estrutura que sempre se repetia: o herói recebe determinada incumbência do Rei – como matar o dragão, por exemplo – viaja para um território/ reino vizinho, combate (e mata) o dragão, traz um pedaço do rabo do dragão para provar seu feito, é recebido com festas e se casa com com a filha do Rei.

É exatamente assim que está se desenrolando essa epopéia versão século 21. E, se Deus quiser, muitas vezes vai se repetir  porque nós merecemos!!!

Timão Levanta o Rabo do Dragão, digo, Nosso Troféu de Bi-Campeão!!!

Queria falar apenas do aspecto emocional da coisa.  Mas o Corinthians merece tudo isso porque se preparou com competência e profissionalismo.

Mas a hora é mesmo de  paixão, lá vai:

– Chega mais Timão pra junto da Multidão!!!

Calçadas Cheias, Tática da Fórmula 1 – Vá no Vácuo…

Véspera de Natal. Calçadas “cheias de multidões”, barraquinhas de camelôs,  tática da fórmula 1: vá no vácuo.

Pegue um pedestre que ande no ritmo que você gosta, se for grandão para os lados, melhor.  Aproxime-se a uns 30/40 centímetros  dele e meta  bronca. É exatamente o mesmo príncipio do vácuo no automobilismo.  O carro da frente “abre” o ar.  O de trás, não tem a resistência do ar,   desgasta menos o motor.

Traduzindo, o cara da frente abre o caminho entre a multidão para você  passar; antes que a multidão retome a forma inicial, você,  que está no vácuo,  avança.  As trombadas com todo mundo ficam para ele – você só faz avançar.

Essa estratégia  permite que na calçada você desgaste menos sua integridade física, muito mais preciosa do que o mais caro motor de fórmula 1.

Ou se você for menos esportista e mais belicoso, pense que o cara da frente é o seu ariete.

Ariete é uma “máquina de guerra” usada na Idade Antiga e Idade Média para romper mulhas. Seria mais ou menos como um tronco bem grosso de uma árvore  com uma ponta, alças para os guerreiros carregar e investir com força e violência contra as muralhas ou portões de fortalezas ou povoações inimigas a serem conquistadas.

O cara grandão à sua frente  funciona como um ariete, com a vantagem de que você nem precisa carregá-lo, tampouco encostar nele.

E se você for pensar bem, locomover-se de carro, e até mesmo a pé,  está se tornando verdadeira guerra ou, na melhor das hipóteses, esporte perigoso.  Daí, apropriar-se da idéia do vácuo na Fórmula 1 ou do velho ariete  nem parece tão exagerado assim.

E vamos às Compras!!!

Inferno!!!

Corinthians – Espetacular e Emocionante

Já ouvi que a ida de torcedores corinthianos para o Japão é  o maior deslocamento humano entre continentes em tempos de paz.  Também já ouvi que essa informação não procede.

Seja como for, lembrei-me de quanta riqueza há no futebol 

James Michener,  no seu livro Ibéria, diz que o Carnaval do Rio de Janeiro é a festa mais espetacular do Mundo.  E diz também que a Procissão de Sexta-Feira Santa em Sevilla é a festa mais emocionante e “emocional” promovida na Terra.

Pois bem, a torcida corinthiana é capaz de proporcionar algo comparável ao Carnaval do Rio de Janeiro, quanto à sua grandeza, como também momentos de profunda emoção, como a da Semana Santa em Sevilla.

Sempre que falo ou escrevo,  fico comovido e lágrimas saem do meus olhos.

Há mais de trinta anos, fui de São Paulo ao Maracanã para assistir às quartas de final do Corinthians,  contra o Fluminense, salvo engano. Programa de fanático de carteirinha: o ônibus nos deixou na porta do Estádio quarenta minutos antes do Jogo e voltou para S. Paulo, meia hora depois de o jogo terminado. Cerca de 15 horas de viagem para assistir a 90 minutos de futebol.

Pois bem, adivinhe quem estava na torcida bravamente enfrentando todo esse sofrimento!!!

Pensou??? Pense mais um pouco…
Resposta: Um cego!!!

Corinthias e corinthianos são  Espetaculares e pura emoção, a um só tempo: o Carnaval do Rio  e a Semana Santa de Sevilha!!!

Números e Escrita “Matam os Mortais”

Pessoas embaralham-se com número, é fato.  Nem falo de grandes operações, mas de simples algarismos mesmo, um ao lado do outro, formando números de documentos e, principalmente, de telefones.

Na mensagem da secretária eletrônica do escritório, peço para a pessoa dizer o nome e, ressalto para falar pausadamente o telefone.

Os recados são mais ou menos assim:

– Aqui é o    Jo-ão   da Sil-va,    o pe -drei -ro      co- nhe -ci- do     do    en- ge- nhei- ro     Ro ber to.     Meu     te le fo ne   é:

E aí metralha um monte de algarismos, sem  pausa alguma, com velocidade incoparável até  à  de qualquer locutor de futebol,

Com esse novo nove na frente do número, então,  chega a ser engraçado.  Conhecida minha, com Título de Mestra, outro dia, não  percebeu que seria muito mais inteligível se ela dissesse o “novo nove”, desse  uma rápida pausa e ai fosse dizendo os quatro números seguintes, nova pausa, e,finalmente, para ficar livre, os quatro últimos números.  A mestra disparou: 987382157.  Sem problemas, basta repetir umas cinco vezes o recado na secretária que se acaba descobrindo o número.  Como diz a garotada, simples assim…

Outro problema, que fica para outra hora,  é escrever.  Escrever, então, é martírio até para muitos intelectuais.  O caso que tenho é fabuloso.  Mas, fica para outra hora.

Não Há Temas Virgens; Tampouco Algo Sobre o Qual Seja Impossível Escrever

Mil anos atrás, ainda na Faculdade de Jornalismo na USP, duas colegas e eu fizemos super matéria,  incluindo  entrevista, inédita com Zé Bétio, que ganhou quatro páginas do Folhetim, suplemento dominical da Folha, o máximo em termos de reportagem na época.  Aí, eu e elas começamos a procurar temas virgens.  Embora todos dissessem que não havia tema algum sobre o qual nada tivesse sido feito,  ainda descolamos mais três, igualmente inéditos, também publicados na Folha.

Longa troca de emails essa semana com o assíduo leitor Pawlow,  titular de um blog, discutíamos sobre  temas importantes e não importantes para se escrever a respeito.  Ele dá imensa prioridade para temas de peso, que lhe permitem mostrar destreza.

Já eu, sou exatamente isso; isso ao contrário.  Pouco minutos  atrás acabei de publicar um texto sobre assunto bobinho ,  porém divertido; pelo menos divertido para se escrever,  a respeito de declarações polêmicas de Luana Piovani.

Acabei de publicar aqui no blog, lembrei-me das reportagens inéditas   no Folhetim e Folha, lembrei-me da saudável polêmica com o amigo Pawlow e cheguei à  agradabilíssima conclusão.  Lá vai.

Tanto quanto não existem assuntos virgens, também não há tema sobre o qual não se possa fazer um registro curioso, interessante; na pior das hipóteses, engraçadinho – assim mesmo no diminutivo.  Graças a Deus é isso  e eu aproveito o máximo dessa teoria (conclusão)  que acabei de inventar.  Ficaria contente de convencer o amigo Pawllow.

Leia meu texto bobinho sobre La Piovana – Clique Conheça o Blog do Pawlow, CADERNOS,  recheado de textos densos, porém bem mais esporádicos do que os meus.  Se não tiver tempo de folhear  muitas páginas dos Cadernos, leia ao menos essa sensível crônica/ensaio sobre Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, já mencionado  muitas vezes no Boca, inclusive muito recentemente. Clique

Meu Sonho de (Não) Consumo

É personal isso pra cá, personal aquilo pra lá; “in English, of course.”

Pois eu queria ter apenas dois.  Em português, naturalmente, já que não sou acometido pelo complexo de vira-lata que assolapa o Brasil.  A saber:

  • amolador de facas/tesouras pessoal e
  • comprador pessoal

O amolador de facas e tesouras  pessoal iria em casa três ou quatro vezes por semana e deixaria todas as facas tais quais navalhas.

Em tempo, ao contrário do que muita gente pensa, facas cegas são perigosas; facas-navalhas, não.

A faca cega obriga o usuário a fazer muita força.  Por mais força que se faça, ela não corta mesmo o que precisa ser cortado e, pior, a faca escapa do objeto e vai em direção ao corpo ou à mão/braço e até ombro  que segura o tal objeto.

Facas-navalhas cortam o que tem que ser cortado, pronto e ponto.  Digo, cortam só que têm que cortar e não cortam barrigas, tampouco dedos.

Quanto ao comprador pessoal, se possível, sujeito exatamente com as minhas  medidas.    Anti-consumista obsessivo, eu estabeleceria uma rotina anual.

Ele viria à minha casa, eu lhe daria uma relação de compras, cinco minutos, no máximo,  de explicação.   E ele sairia à caça.  Visitas a costureira para eventuais e prováveis acertos nas roupas, óbvio, ficariam por conta dele.

Após a parada na costureira, ele  nem me mostraria nada.  Colocaria tudo nos  armários, guarda-roupa  e só voltaria no ano seguinte.

Ia me esquecento.  E  a cada dez anos,  ele é   quem aguentaria aquela conversinha chatíssima de vendedores de carro.

Seria a Felicidade Suprema.

Andar a Pé

Carro me dá duas sensações  opostas: de imensa liberdade para poder ir à noite a um restaurante distante sobre o qual ouvi falar.   E também de prisão.  Quando estou a cerca de dois quilômetros do lugar onde tenho que chegar, assim que posso,  estaciono para me ver livre.  Se tem metrô, e é fora dos  do horários de pico,  não há possibilidade de eu ir de carro.

Agora,  os grandes prazeres mesmo são  andar a pé e  de bicicleta (se vivesse em cidade e bairro planos,  meu carro mofaria na garagem).

Sem contar a sensação de liberdade que o caminhar e a bicicleta proporcionam (embora reconheça que andar de  bicicleta no dia a dia  seja  bem arriscado em São Paulo), você encontra pessoas que não via há tempos e pode conversar, ainda que rapidíssima troca de palavras.

Eu e Fernanda, vizinha próxima de bairro, todos os domingos damos longas caminhadas. Feriado de sexta-feira, lá estávamos nós andando.  Na Caiubi,  rua da antiga sede do Glorioso Clube Caiubi, próximo à Igreja, encontro  colega meu de Faculdade, hoje jornalista híper famoso.  Foi o caso de rapidíssima, porém carinhosa, troca de palavras.

Ontem, estava de bicicleta,  mulher na calçada me cumprimenta.  Paro.  Vou logo dizendo que sou mau fisionomista.  Era outra colega de faculdade que não via há  anos, que também mora no bairro.  Ela pegou meu telefone, disse que ainda se encontrava com alguns colegas e que eu seria convidado para o próximo almoço deles.  Chego em casa há pouco,  recado de outra colega comum me convidando para o almoço.

Hoje, no tradicional passeio a pé de todos os domingos com a Fernanda,  troco saudações com Juca Kfouri, que conheço de vista.

O carro certamente teria me privado de tudo isso.   Fazer o que, né???  Amanhã, estarei lá, estancado/ congelado no meu cubo de gelo preto(cor do meu Corsa) em várias momentos do dia  e diversos pontos de São Paulo!!!

O Meu Espírito de Porco – Porco Palmeirense!!!

Corinthiano,  mas  vou assistir  Palmeiras e Botafogo.  Rara exceção, não estarei secando o Palmeiras e, sim, torcendo a favor para que se livre, o quanto antes,  da estressante possibilidade de rebaixamento.

Se é que se pode dizer, serei um Espírito de Porco, Porco como sinônimo de Palmeiras.

Boa Sorte  PORCO VERDÃO /VERDÃO PORCO ou ainda VERDE PORCÃO!!!

E mais, à noite, vou comer Pizza de Balcão na  Padaria/Pizzaria Palmeiras, na Albuquerque Lins!!

ESCREVER

Amigo, que conheci por conta do Boca, que também tem  blog, escreve muito, muito  pouco.  E isso me fez lembrar fatos/situações/casos  sobre o escrever.

Escrever é difícil e trabalhoso.  Tanto que Cortazar, preciso,  disse “escreve-se com a pena e corta-se com o machado”.  Infelizmente é assim mesmo.

Escrever de forma concisa  é mais trabalhoso ainda. É famosa a história  do  o editor que  ligou para um intelectual e pediu artigo sobre determinado assunto.  O sujeito disse que escreveria três laudas.  O editor disse que queria apenas duas.  Resposta do articulista.

– Eu não tenho tempo para escrever duas laudas.

Vinte anos atrás, fiz alguns cursos de criação literária.  Nesses cursos,  apenas eu e um outro  levamos a coisa a sério e produzimos contos bem razoáveis (alguns dos meus estão aqui no Blog – categoria contos).  Os outros participantes do curso ficaram enrolando e não escreveram praticamente nada.  Um deles, arquiteto, sujeito inteligente e muito  legal, literalmente, não escreveu uma única  letra.  Dizia sempre:

– Está tudo aqui na minha cabeça.

Repetindo, não escreveu uma única letra  o curso inteiro.

É famosa também a história de um jornalista que ficou cerca de seis meses em um grande jornal.  Graças a ele, foram produzidas excelentes reportagens durante sua   curta permanência  no jornal.

Quando foi embora, descobriram que a máquina dele não tinha fita.  Ou seja, durante o tempo em que permaneceu na redação,  ele também, tal qual meu conhecido do curso, não escreveu uma única letra.

Para compensar esses casos curiosos de negos brilhantes. Logo que eu acabei a Faculdade, era copy/sub-editor de esportes em jornal popular.   Arrumava os textos dos repórteres e os que chegavam  das Agências Via Telex,  dava títulos, fazia legenda para fotos; basicamente, isso.

Minha máquina de escrever naquele jornal tinha uma fita azul.  Pois bem, chega para minha página  reportagem de um repórter relativamente idoso, que,  por ironia, tinha o mesmo nome de um dos maiores escritores do país.  Jornalista das antigas, que começou lá de baixo e chegou a repórter.  Os textos dele começavam falando da unha encravada de um determinado jogador de um time, passavam  pela estratégia de jogo do técnico, e terminavam  com o empréstimo de milhões de reais (a moeda era outra) que o presidente do clube havia conseguido.  Tudo isso, sem um único ponto final.  Da unha encravada ao empréstimo, as coisas iam se atropelando e nada de ponto final para separar assuntos.  Parágrafo, então, acho que ele nem sabia do que se tratava. Era um tal de por outro lado,  no entanto, dando continuidade.  Absurdo.

Voltando à minha máquina de escrever  que tinha tinta azul.  Pego duas laudas, reescrevo tudo , com pontuação, naturalmente.  Por milagre, dava para aproveitar as duas últimas linhas do velho repórter da velha guarda.  Ao final do meu texto, corto com estilete as duas linhas  do cara e colo com cola ao final do que eu  havia reescrito.  Explicação necessária porque hoje copiar e colar são coisas diferentes, feitas sem tesoura;  menos ainda, cola.

O sujeito percebeu, não gostou e veio falar comigo.  Delicadamente expliquei que os assuntos precisariam estar mais separados e consegui contornar a coisa.

Outro repórter da minha idade, que já estava lá há mais tempo, me viu explicando para o cara e foi direto:

– Faz o que tem que fazer e não explica nada.  Senão você vai ficar o dia inteiro explicando porque esses caras escrevem muito mal mesmo (usou termo mais real – escrevem mal para ca…).  Não explica!  Corta!

Escritor famoso, cujo nome não me lembro, conta que para compor uma música, pintar um quadro, o sujeito precisa ter instrumentos, pincéis e telas e noções e técnicas  mínima para produzir algo, por pior que seja.  Já escrever, segundo ele, todo mundo acha que escreve.  Resultado, é uma infinidade de gente  querendo  lhe mostrar algo que escreveu.  99% de coisas horrorosas.

Finalmente, parente minha,  mil anos atrás, em data como dia das mães, dia dos pais, escreveu  texto daqueles bem cheio de chavões e o texto foi publicado em jornal de bastante prestígio de S. Paulo.  Outro parente, sujeito muito gozador, não teve dúvidas.  Ligou para ela,  disfarçou a voz e disse que era o dono do Jornal que estava telefonando para dar parabéns pelo artigo.  O plano do gozador era fazer a piada, dizer que quem estava falando era ele, e não diretor algum do jornal,  e dar boas risadas junto com nossa parente.  Acontece que ela foi se entusiasmando, se entusiasmando tanto, que o parente terminou a conversa sem se identificar.  Até hoje, ela tem certeza de que o diretor do jornal telefonou para saudá-la pelo brilhante texto.

Votando ao meu amigo do começo que tem um blog e escreve muito pouco.  Se a pessoa quer escrever, tem que escrever, escrever  sobre tudo.  Não adianta ficar esperando o assunto perfeito.  E tem que escrever mesmo, para não ficar igual ao meu outro amigo que passou o curso inteiro de criação literária e não escreveu uma única letra.  E ,  finalmente, tem que ficar atento para não ser vítima de trotes.