Arquivo da categoria: Artigos

Sena com S da Sasha tornaria escrita e leitura inviáveis!!!

A propósito do episódio Sasha da Xuxa e cena com s, leitor escreve comentário, em princípio democrático, entretanto, absolutamente equivocado.  Transcrevo o comentário:
O pânico que estão fazendo com essa garota é horroroso!!!!
É esse tipo de seguidor ou amigo que não se deve ter em qualquer site de relacionamento, esse bando de babacas entenderam que ela se referiu
à cena com ” C” o importante é entender a mensagem, e por mais idiotas que essas pessoas são elas entenderam.
(o negrito é meu)

Ora, se a linguagem passar a admitir essa democracia do leitor,  o caos se instala de tal maneira que se tornará impossível escrever;  ler, então, nem pensar!!!.

Vamos lá:

A Sasha não sabe ou se dá ao direito de escrever a cena de filme com s e todos vão entender por se tratar do mesmo som e do contexto.

Mas a coisa tem que valer para todos, não é mesmo???

Assim sendo, alguém pode escrever a palavra CASA assim: CAZA (afinal, é o mesmo som e no contexto, vai dar para entender). 

Um segundo alguém pode escrever Kasa (no contexto vai dar para entender, mas começa a complicar).  Ksa também tem o mesmo som e no contexto…

O verbo Passar (se) no sentido de acontecer, pode ser escrito, de acordo com o sugerido, paçar.

Com essas três palavras chaves (poderiam ser xaves, né???) já dá para escrever frase curtinha absolutamente indecifrável de acordo com a nova proposta.  Lá vai:

A sena si paçou na kza rocha  (cor roxa)!!!

Se ler uma frase  de meia dúzia de palavras já se torna o caos, imagine textos longos.

O Compositor Ari Barroso também era um excelente locutor de futebol, a ponto de as pessoas ouvirem qualquer jogo que ele transmitisse apenas para se divertir com seus comentários. 

Quando o jogador começava a enfeitar, ele era taxativo:

– Jogar pra frente e reto já é difícil e esse infeliz fica querendo dar de trivela!!!Tenha a paciência!!!

Plagio a teoria dele a respeito da “democrática” proposta de deixar cada um escrever como bem entender:

Muitas vezes, entender o que está escrito de acordo com as normas vigentes já é difícil e o meu caro, atencioso e participativo  leitor  quer propor uma coisa dessas!!!

Sasha Estuda em Colégio pra Gringo – Será que vale a pena???

A Sasha da Xuxa escreveu Sena ao invés de Cena no Twitter dela.  Xuxa irritou-se, discutiu com internautas e explicou o porquê do erro. “ para quem não sabe, minha filha foi alfabetizada em inglês.”

Suponho que a Sasha da Xuxa estude em colégio inglês/americano, coisa que nego rico acha chique.  Os ricos/chiques vão argumentar que é prático, pois já se  aprende uma segunda língua, quase que automaticamente.

Suponho também que esses colégios recebam, sobretudo, filhos de Diplomatas e  de diretores de empresas multinacionais.  Profissionais que, com suas famílias,  estão sempre de mudança por esse mundo, vasto mundo.

Muitas amizades que levamos pela vida a fora iniciaram-se nos tempos de colégio, ginásio e até mesmo primário. 

Aqueles  que estudam nesses colégios destinados a filhos de diplomatas e de profissionais  de empresas multinacionais ao longo da vida escolar perderão diversas amizades para o mundo vasto mundo.

Será que vale a pena  custo tão alto para se falar inglês???

Uma vez a cada dois meses, saio com um grupo de amigos dos tempos do primeiro colegial no Santa Cruz – 1971.  Aliás, um deles  já era meu amigo desde o ginásio.  Meu sobrinho de 26 anos tem, até hoje, amigos do primário, primeiro/segundo grau e Faculdade. 

Em tempo, todos os citados no parágrafo acima  falamos inglês que aprendemos nos próprios colégios e em cursos paralelos

É Permitido Proibir

Marcelo Coelho, ótimo articulista da Folha de São Paulo, afirma na Ilustrada de Hoje que se “criou uma nova forma de legitimação política para os governantes.” De acordo com essa óptica,  “governante bom é aquele que proíbe  coisas”, diz ele. Aí, cita como exemplos a lei Cidade Limpa e a Lei Anti-fumo.

Não sei se a população de uma maneira geral aprova sempre o governante que proíbe coisas.

Eu, muitas vezes, sou a favor da proibição. Ao contrário do que pregava a libertária e fabulosa música do Caetano  Proibido Proibir,  acho, sim, que é preciso por limites.   Antes, talvez não houvesse essa necessidade pois as pessoas se pautavam pela teoria de que a liberdade de cada um ia até onde começava o direito do próximo.  Hoje,  a liberdade de que dispõem  os bárbaros (búfalos, como eu digo)   é ilimitada e os direitos do Cidadão que se explodam, cada vez mais confinados!!!

Cidade Limpa e  Lei Anti-fumo proíbem e são sucesso.  Proíbem a agressão – é lógico e por isso são sucesso!!!  Está mais do que claro  e é mais do que justo que o cidadão tenha  direito a uma paisagem limpa e também a não  chegar em casa fedendo a cigarro, como se fosse um cinzeiro.  Para não dizer respirar ar menos poluído  no trabalho e no descanso.

Como já escrevi, os mesmos lugares onde o fumo está proibido também deveria ser interditado para o uso de celulares.   Ninguém é obrigado a agüentar o vizinho de mesa, de sala de espera, de ônibus gritando  ao/no celular.  Muitas vezes, inclusive, coisas absolutamente íntimas e de muito mau gosto.  Ruy Castro escreveu em sua coluna que uma velha comentava em voz alta no celular que a neta não iria participar do campeonato de natação porque estava menstruada.  Médica anunciava para a colega – também no celular, também aos gritos – no meio de um restaurante lotado, que a paciente delas estava com Câncer. Esse problema  era delas duas e da paciente (que talvez a essa altura já esteja assistindo show ao vivo do Michael Jackson) e não de um monte de gente que estava ali para almoçar.
Amigo meu psiquiatra , Armando  de Oliveira Neto escreveu artigo fabuloso aqui no Boca no Trombone  intitulado – EM DEFESA DE UM CERTO MEDO http://bocanotrombone.ig.com.br/2008/04/30/em-defesa-de-um-certo-medo/.  Leiam, vale a pena.

Nesse texto ele mostra que atualmente ninguém teme mais coisa alguma.  Escreve Armando, antes de começar o artigo propriamente dito:  “Desenvolvo uma hipótese que a falência das estruturas sociais, aqui e lá fora também, é creditada ao desaparecimento do MEDO: não se tem mais medo de nada, as crianças do bicho papão, do homem do saco; o religioso não é mais um temente a Deus; as leis não punem e por aí caminham minhas reflexões.”

Resultado: búfalos nadando de braçadas e cidadãos acuados em seus direitos mais básicos.

Ouça a música PROIBIDO PROIBIR  do Caetano e sinta saudades do tempo em que era um  luxo necessário poder pregar isso
http://vagalume.uol.com.br/caetano-veloso/videos/proibido-proibir.html

RICO VOCABULÁRIO!!!

No começo, não era o verbo.  No começo era o Válido. 

Você deve se  lembrar.  Década de 70:  era só alguém dizer qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo – Que tal  um café???, por exemplo – e a possibilidade  de um pseudo-intelectual responder:  – Muito válida essa idéia!!!- era de mais de 90%.

Há cerca de quinze anos,  foram  as invasões do De Repente e do A nível de, expressões que não servem absolutamente para coisa alguma.  Ou seja, o “pseudo”  pode falar ou escrever quantos de repente e quantos a nível de ele quiser.  Se cortarem todos eles, não farão a menor falta; pelo contrário, será um alívio para o ouvido.

O válido era um ligeiro horror; o de repente e o a nível de,  horrores médios.  Mas, presta atenção, como diz um amigo, os chavões de hoje me fazem ter saudades deles!!!

Inventaram uma língua nova!!!

Não se diz mais que uma pessoa é legal, inteligente, bacana.  Reduziu-se tudo isso a:  PODEROSA.  Que POBREZA!!! 

Mas ainda pode piorar.  Sujeitos  com os atributos (será que quem fala poderoso sabe o que é atributo???) acima também podem ser DIFERENCIADOS!!!

Os ditos diferenciados  não gostam de uma roupa, de um restaurante.  Para dizer que gostam, exclamam:

– Tal coisa é a minha cara!!!

Afe!!!

Também tem o Tudo de Bom que deve ser mais ou menos aquilo que é a minha Cara – cara deles, naturalmente – já que dentro dessa riqueza morfológica, tô fora!!!

Dá até para fazer um  diálogo:

Vamos combinar: com certeza,  vai bombar.

O outro apresenta alternativas, digo, eventos:

– A gente dá uma passada, vê o que tá rolando. Aí a gente  liga (faz o gesto pondo  o dedão no ouvido e o dedo mínimo na boca) pra Galera. Se der caixa postal,  a gente pede pra retornar a ligação.

Caiu a minha ficha!!!  Quem sabe,   a gente já alavanca outra balada para amanhã.

Que saudades do Válido.  Vou me dar direito, não a um chavão, mas um verso:  Eu era feliz e não sabia!!!

Terminando com lamento modernoso:

NINGUÉM MERECE!!!

Zona Azul “Reaproveitável” – Bolso e Meio Ambiente Agradecem

A partir dessa quarta-feira, o talão de Zona Azul sobe nos Revendedores Oficiais  de R$ 18,00 para R$ 28,00 e as folhas avulsas serão vendidas a R$ 3,00.  

É um ótimo momento para a Prefeitura tomar medida  simpática para todos aqueles que usam a Zona azul.
Aliás, trata-se de providência extremamente  justa que irá, inclusive, propiciar um clima de cordialidade entre os paulistanos.  Basta  a Prefeitura determinar  que não será necessário se colocar a placa do veículo no Cartão da Zona azul. Assim sendo, se eu estacionei por quinze minutos na Zona Azul e não vou mais estacionar o carro na próxima hora, ao deixar a vaga que  ocupava, eu posso ser cordial e oferecer o meu cartão para o proprietário do carro que está estacionando e que, muito provavelmente, também não usará mais do que quinze ou vinte minutos do tempo a que o mesmo cartão ainda dá direito.

Uma mesma folha pode servir para três – até quatro – motoristas.  Como diz Danuza Leão, com todo o charme que lhe é próprio,  tem melhor do que isso???

Quando o dinheiro é curto ( e isso é crônico no Brasil), simples medidas administrativas – de custos baixíssimos – podem se constituir em algo fundamental  e  fazer grande sucesso.  O prefeito Mário Covas isentou velhinhos (idosos – termo mais politicamente correto) de pagar condução.  O custo para a cidade foi ínfimo;  a providência , justíssima e, principalmente, simpática!!!

Idéia tão simpática quanto a medida do prefeito Mário Covas não sou capaz de ter,  Entretanto, essa do cartão de zona Azul “reaproveitável” não é de se jogar fora, hein!!!  Por falar em jogar fora, ainda há o aspecto ecológico da coisa:  economia de papel, celulose, produtos químicos de impressão, diminuição de lixo.

Vou fazer uma confissão.  Essa idéia não é minha. Logo que surgiu a Zona Azul, o usuário não precisava colocar a placa do carro e os cartões eram reaproveitados. Nessa época, era comum se presenciar cenas de camaradagem entre os motoristas que estavam saindo e os que estavam chegando nas área de Zona Azul.

Minha ou não,  duvido que qualquer paulistano seja contra!!!

Mãos à obra;  ou melhor, bem mais rápido e simples, mãos à caneta, Prefeito e Vereadores!!!! 

Talvez – prefeito e vereadores –  políticos estejam precisando melhorar a imagem que a população tem de vocês. Talvez!!!

Daniel Alves, Bendita Exceção Brasileira!!!

Talento todo jogador brasileiro tem de sobra (fazer generalizações a favor  é uma delícia).  Manter a  concentração durante o jogo em si são outros 500 (500 mil euros no caso dos nossos meninos de ouro). Tá vendo, generalizações negativas são antipáticas, mas, infelizmente, quase sempre verdadeiras a esse respeito.

 Daniel Alves, aos 42 minutos do 2. tempo, apenas  seis minutos após entrar em campo, ao bater aquela falta, felizmente, contrariou essa teoria.   Digo felizmente muito menos pelo gol salvador que marcou do que por um detalhe. A compenetração que demonstrou  durante todo aquele lapso de tempo entre a “permissão” do líder, também exemplo de seriedade e empenho, Kaká , para bater a falta até colocar a bola no ângulo foi impressionante.  Ele pegou a bola com a mão, olhou firme para ela.  Sério, sempre muito sério,  colocou no gramado e partiu para o chute fulminante.

A falta dessa atitude de compenetração em jogadores brasileiros em momentos decisivos sempre me chamou  atenção.  Eles caminham displicentemente para chutar um pênalti.  Pênalti é algo tão raro, tão importante que Nélson Rodrigues dizia que o Presidente do clube é quem devia cobrar.  Os geniais jogadores da Copa de 82 tiveram essa seriedade ao cobrar aqueles pênaltis??? 

Sempre observei isso, naquele tempo o Lula não tinha soltado o verbo nas suas metáforas e eu já usava uma metáfora tão ao gosto do presidente.  Eu dizia: 

– É curioso, o tenista Bjorn Borg ( ganhou, entre outros, cinco ou seis vezes o Torneio de Wimbledon) dá aproximadamente 150/200 saques por jogo.  A cada saque, sua concentração é total.  O jogador brasileiro cobra um ou dois pênaltis por mês,  um pênalti na vida e outro na morte em Copas do Mundo.  Pois é, apesar de tudo, ele vai para a bola com a mesma  tranqüilidade que se vai para cama na hora de dormir.

Que a atitude de Daniel Alves sirva de exemplo não só para jogadores de futebol patrícios como para muitos profissionais – de todos os níveis – que muitas vezes em momentos decisivos tem a displicência dos irresponsáveis na hora do pênalti.

Burocracia vai dar belo passo, mas ainda faltam léguas!!!

A aprovação pelo Senado do recibo anual de contas pagas é mais do que bem-vinda  e mais do que tardia.  Agora, o texto só precisa ser sancionado pelo presidente Lula. De acordo com matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo, ” O envio do recibo terá de ser feito até maio do ano seguinte. Diversas empresas terão que enviar comprovantes – prestadoras de serviços de água, luz, telefone, escolas e empresas de cartões de crédito -. Somente os consumidores que estiverem em dia com seus pagamentos poderão receber a declaração de quitação anual.”

É um grande progresso se comparado ao que ocorre hoje.  Segundo nota do Jornal O Estado de São Paulo de  21/3/04, recibos precisam ser guardados por: Condomínios, 5 anos; Iptu 10 anos; Luz, gás e telefone 1 ano;  água 2 anos,; Imposto de Renda – inúmeros documentos (pasmem!!!) 10 anos; Apólice de seguro, 1 ano após o final da Vigência.

De qualquer maneira,  a coisa poderia ser muito mais fácil ainda para o cidadão.  Caso o consumidor tivesse algum débito, todas as contas daquele serviço trariam aviso de débito.  Caso as contas estivessem todas quitadas, haveria aviso  na conta a vencer: NÃO CONSTAM DÉBITOS ANTERIORES.  Paga essa conta, ficaria mais do que provada a ausência de débito.

Com meia dúzia e meia de documentos, todos poderíamos provar que não devemos nada a ninguém.  Imaginem que beleza todas as pastas dos nossos arquivos magrinhas, magrinhas.  Que despoluição visual!!!  Que espaço (físico mesmo) para circular boas energias ao invés de poeira e mofo!!!

Para comemorar,  poderiam ser organizadas festas com imensas fogueiras de papel em cada bairro, cada rua.  Ou, mais ecologicamente correto, as centenas de milhares de toneladas papel recolhidos poderiam ser recicladas em favor de inúmeras instituições de caridade. 

Legisladores desse nosso Brasil, empenhem-se para que cheguemos a isso rapidamente.   Não me falem que é difícil porque vou ser obrigado a sapecar o Bordão do Boca:  o homem já chegou à Lua há quase 40 anos e aqui não se consegue coisa tão simples e tão útil!!!

Educação Formal e Educação Informal – ambas imprescindíveis

Escrevi o texto abaixo há muitos e muitos anos, já publiquei aqui.  
Infelizmente, acho que a cada dia que passa  ele se torna mais atual.  
É longo, cheio de idiossincrasias, e legal. 
Quem não gostar que meta o pau, pra rimar!!!  
Em tempo, quem gostar também pode escrever!!!
****************************

Celulares e seus donos disparam em todo lugar a qualquer hora do dia e da noite; cachorros metem o focinho em sua canela nas ruas/parques/lojas/shoppings/padarias; você tem que, literalmente, fugir de carros que invadem calçadas em velocidade para entrar ou sair de garagens, quando não para estacionar nas próprias calçadas. Essas situações, entre inúmeras outras a que somos submetidos diariamente, mostram que Pedro Nava não exagerou quando disse não se lembrar de um único dia de sua vida em que tivesse saído de casa sem ser agredido. Aliás, como costumo dizer que  desde sua morte (suicídio), alcançamos imenso progresso: hoje, o caminhão de gás, o alarme, que também dispara e não pára, e o cachorro do vizinho (ah, mais uma vez o cachorro!!!) nos poupam o trabalho de sair de casa e até mesmo de levantar da cama. Você é invadido em seu sono, sua mais profunda intimidade, que deveria ser, até mesmo por lei, preservado.

A tese de mestrado de um conhecido meu, em cuja casa me hospedei, mostrava, entre outras coisas, que há dois tipos de educação – a formal e a informal. Provavelmente ele abordava outros assuntos mais inéditos, dos quais não me lembro, mesmo porque esse dois tipos de educação já foram estudados na pedagogia.

A formal a criança “aprende” na escola – ler, escrever, quatro operações, história, geografia e etc.

A informal  adquire-se em casa, no convívio com os pais, irmãos, tios, vizinhos, amigos, pais de amigos…

É a educação informal que dá conta de fazer com que a criança aprenda manusear talheres, tratar com consideração os mais velhos, não interromper quem está falando.  Aliás, aqui cabe um lamento: pais de todos os níveis sociais, de todas as culturas, levaram anos ensinando isso. Se imaginarmos que cada pai já falou pelo menos uma vez a respeito do assunto para seu filho e multiplicarmos por bilhões de habitantes, chegaremos a números espantosos. Pois bem, o celular atirou, precipício abaixo, infinitas horas de dedicação de civilizações inteiras. Hoje, duas pessoas estão conversando. O celular de uma delas toca. Sem o mais tênue constrangimento, ela atende, conversa a vontade, e deixa o outro com cara de idiota esperando. Aliás, celular e cachorro constituem capítulos especiais.

Apropriando-se da “tese” do meu conhecido, percebe-se que o grande problema, paradoxalmente, é a precariedade daquilo que ele chamou de educação informal. É aí que se encontra a causa da imensa maioria das pragas que assolam nosso dia a dia. Porque uma relativa educação formal todos possuem: o serralheiro sabe (relativamente) lidar com ferro, sabe fazer contas; a faxineira sabe (relativamente) fazer faxina e entende o eventual bilhete que a patroa deixa e assim por diante.

Parece até ironia, mas esse meu conhecido/anfitrião era o exemplo mais perfeito de que ele e sua tese haviam acertado na mosca.

Estava na casa de um sujeito de refinada educação formal – possuidor de título de mestre. Pois bem, quanto à educação informal, não vou definir. Limito-me a relatar dois fatos sem fazer qualquer comentário:

1) Os vinhos, razoavelmente bons que levei para ele, foram servidos em copos de massa de tomate.

2) O banheiro que tinha espelho não tinha água na pia e vice-versa. De certa forma era prático, pois o simples barbear já me deixava com a consciência tranqüila de que podia dispensar o Cooper diário.

Parece engraçado mas, como diziam os versos de Billy Blanco, cantados por Elis Regina , “o que dá pra rir /dá pra chorar/problema só de hora/ e lugar”. E na maioria das vezes é de chorar mesmo.

Outro dia fui obrigado a mudar de lugar em um restaurante pois era impossível suportar o perfume de duas peruas que se sentaram à mesa ao lado.

Frescura minha??? Um caso a parte??? Pois bem, seguem-se outros. Poderia relatar dezenas em diversas situações. Vou me restringir a dois ou três.

Durante 25 anos, fui vizinho de político de imenso prestígio e muito bem conceituado em nossa República. Naquele tempo, não havia 0,00001% do pavor de seqüestro/assalto que “assaltou” o país nos últimos tempos. Pois bem, sua mulher, bacharel em Direito do Largo São Francisco, duas quadras antes de chegar em casa, metia a mão na possante buzina de seu carro do ano importado e só largava depois que o empregado abria-lhe o portão. Aliás, o empregado, embora tenha trabalhado nessa família por algumas décadas, permanecia analfabeto.

Infelizmente, vou ter que baixar bem o nível.

Um ótimo técnico em computação e o segundo homem mais importante no Brasil de uma das maiores multinacionais do planeta, com quem já tive a desventura de jogar tênis, têm em comum duas coisas: a sólida educação formal que lhes permite dominar ciências altamente complexas em seus ofícios e a renitente recusa em usar lenço, embora ambos tenham renitente renite alérgica. É isso mesmo – os dois assoam o nariz com a mão. Aliás, André Agassi, um dos dois únicos tenistas vivos a terem conquistado os quatro torneios do Grand Slam, além de também não ser adepto do lenço, faz questão de expulsar impurezas do nariz na direção da câmera de televisão (leia-se bilhões de telespectadores) que o está focalizando em primeiríssimo plano.

Saudoso Pedro Nava, acho que começo a entender porque você não agüentou a barra!!!

Burocratas não Inventem!!! Vocês não são Guimarães Rosa!!!

Pelo que pude perceber nos últimos 10 dias, começa a surgir um termo pseudo-chic que amanhã vai “poder estar ameaçando” a praga do gerúndio. Não comemore. É tão idiota quanto.  Trata-se do POSIÇÕES – que, tal qual o gerúndio, serve para tudo e não serve para nada.
A mensagem eletrônica do telefone  do Poupatempo, sempre desperdiçando tempo do contribuinte,  depois de dar boas vindas avisa ou avisava (o Poupatempo ficou de corrigir a coisa), “a mensagem está sendo gravada para o aprimoramento de nossos serviços.  No momento, todas as nossa posições estão em atendimento. Por favor, tente mais tarde” E a Linha caia.   Desperdiça tempo porque deveria informar de cara, (na língua que fosse) “que as posições estão em atendimento” ao invés de dizer que a mensagem (suponho que seja a conversa que o cidadão terá com o funcionário do Poupatempo) será gravada, quando não haverá mensagem/conversa alguma!!!
Imagina-se que Posições signifiquem  telefonistas, atendentes.  Criativo, não é mesmo???
Já o caixa de auto-atendimento da  Nossa Caixa Nosso Banco pede que o cliente digite o ano de Nascimento com duas posições.  Posições aqui significariam números, dígitos, algarismos.
De duas uma, ou essa palavra é a mais polivalente que existe ou a criatividade/imaginação- para não dizer o termo certo  que tb termina com dade – dos nossos burocratas não tem limite.  Observe-se que ambas instituições são governamentais, públicas – A Caixa, parece, foi ou está sendo comprada pelo Banco do Brasil. Ou seja, o português usado deveria ser correto e sóbrio, a léguas de modismos e/ou imbecilidades/invencionices!!!!
Mário, grande amigo meu, sujeito muito inteligente, disse uma vez que cada um deveria poder escrever como quisesse.  Argumentei que eu poderia escrever  casa com z; outro poderia escrever Kasa,  outro ksa, sem o primeiro a,  só com K;  não precisei nem continuar e ele imediatamente percebeu que era impossível o que propunha.

Guimarães Rosa podia inventar palavras; burocratas de plantão, não.

Meu amigo Zé Vaidergorn (o do post do Poupa tempo) foi definitivo:

– Posições em atendimento??? Deve ser puta trabalhando!!!

Não Banho e Mesquinhez Inglesa

Meu post de anteontem sobre barbas, barbudos, banhos de banheiras e não banhos de ingleses recebeu  vários – para os padrões do Boca,  naturalmente – comentários.

Costumo responder cada comentário individualmente.  Para facilitar a coisa e também por  ter percebido que o assunto ingleses ainda não se esgotou,  retomo o tema; conto mais detalhes da minha experiência vivendo  na casa de  uma família classe média típica. Foi bem legal.  Mas notei que diversas coisas curiosas na rotina dos ingleses que também foram lembradas por alguns leitores. http://bocanotrombone.ig.com.br/2009/03/24/barbudos-x-barbeados-banheira-x-chuveiro/ 

Durante os dois meses que passei lá em Bournemouth, cidade ao sul da Inglaterra, próxima a Londres, viajei todos os fins de semana. (saia  sexta à tarde e voltava domingo para dormir). Assim, a questão dos três banhos semanais a que tinha direito foi ligeiramente amenizada.

Ainda no setor higiene,  jamais vi algum dos donos da casa (um casal, mais a filha) com cara de quem tivesse tomado banho.  O único contato que presenciei deles com a água não foi dos mais agradáveis. 

Uma  Uma noite, entro na cozinha e o que vejo???  O dono da casa lavando a cabeça na pia da cozinha.  Na volta ao Brasil, contei isso para meu pai, que comentou com um amigo nosso inglês.  Ele  garantiu que era normal, na Inglaterra, as pessoas lavarem a cabeça na pia da cozinha. O porquê disso não fica claro.  Como disse Caetano, “eu não consigo entender sua lógica.”  Entender ou não entender não tem importância.  Grave é usar a louça e comer comida lavada na pia que também serve para lavar cabeça,  e sabe-se lá se não deixei de ver coisas piores…

Um leitor do Boca fala, até de maneira rude, do mal cheiro das inglesas (leia no comentário do post de ontem)  Ele  está muito bem acompanhado. Famoso e prestigiadíssimo  personagem da política,  tido como mulherengo,  diplomata em Londres, ao responder a uma amiga se havia gostado das Inglesas, foi taxativo:

– São bonitinhas, mas muito mal lavadinhas…
 
Voltando à minha experiência com a família inglesa,  passo aos pequenos  truques, golpinhos que me aplicaram. 

Paguei aqui no Brasil uma determinada quantia para a Escola que freqüentei e outra quantia que foi diretamente para a família que me hospedou.

Está mais do que implícito que um quarto alugado durante o inverno em uma casa na Inglaterra tenha calefação.  Pois não é que a dona de casa me disse que a calefação não estava incluída e que eu deveria pagar.   Não quis brigar e concordei. Ela me deu o valor semanal da calefação. Argumentei que pretendia viajar todos os finais de semana e que preferiria pagar por noite a calefação, quando eu, de fato, estivesse usando.  Ela não concordou.  Cobrava sempre por sete noites, embora só ligasse cinco vezes por semana.

Eu e o Javier, mexicano que também estava ali hospedado,  éramos apenas meios de a dona de casa, landlady, reforçar o orçamento.  Nada além disso.

Perguntou-me ainda se eu queria que ela lavasse minha roupa e já foi logo dando o preço.  Falei que era coisa relativa: como ela já podia dar o preço sem saber quanta roupa seria?  Ela foi clara: esse preço é para a quantidade de roupa  que pessoa normal usa por semana : duas camisas, duas meias e duas cuecas. Agradeci e disse que eu mesmo levaria para a lavanderia.

Curioso é que mesmo quando queria ser simpática e mostrar eficiência, ela era seca e até meio rude.  Elogiei bastante os ovos mexidos do café da manhã. (scramble eggs, certamente escrevi errado) de lá. Imediatamente, me responde:

– Às terças e quintas  (lembro-me que eram exatamente esses os dias) tem.

Sou cara extremamente justo, o que é certo é certo e, como já disse e repeti, detesto desperdício.  A dona da casa pediu que avisasse sempre com antecedência quando fosse viajar no fim de semana, para que ela não comprasse comida para mim.  Perfeito.  Nada de desperdício.

Meu pacote de hospedagem compreendia: quarto de domingo a domingo,  café da manhã e jantar de segunda a sexta e as três refeições do sábado e do domingo. 

Como já  disse,  todos os fins de semana, viajei.  Ou seja, deixei de consumir sete refeições a cada fim-de-semana.  Passei lá seis semanas, logo foram  exatamente 42 refeições que, embora tenham sido pagas, não foram consumidas.
 
Uma noite, durante o jantar, ela me pergunta em que dia eu iria embora.  Falei que seria dali a dois sábados.  Ela diz:

– Pois bem,  o café da manhã do sábado em que você vai embora, você vai ter que me pagar porque a escola só me paga até sexta-feira.

Eu falava legal  inglês e entendi perfeitamente.  Mas, por segurança, confirmei em Portunhol com o mexicano Javier.  Pedi que não comentasse nada, mas lhe disse que iria denunciá-la para a escola. E a escola, muito provavelmente  iria descredenciá-la na mesma hora.  Se eu tivesse consumido todas as refeições previstas, perfeito que ela cobrasse essa extra. 

Detalhe: alguns brasileiros levam lembrancinhas típicas daqui, um anelzinho de água marinha e outras besteiras baratinhas para a dona da casa..  Eu havia levado  três quilos de café da melhor qualidade,  panela própria para esquentar a água, bule, coador e xícaras de porcelana pintadas a mão.  Isso não vem ao caso.  O que conta é que eu deixei de consumir 42 refeições e ela quis me cobrar um ovo, uma torrada e uma xícara de café (aliás, que eu havia lhe dado).

A história acaba assim: fui-me embora na 6. Feira.  Deixei barato, não denunciei na escola e  não teve o quebra-pau anunciado. Nesse momento em que escrevo, acho que agi mal: devia ter denunciado.

Ingleses não são efusivos, abraços e beijos não jorram por lá com parte de cumprimentos.  Mas é lógico que depois de conviver um mês e meio, por mais frio que sejam todos os envolvidos,  na despedida, apertam-se as mãos e até um beijinho e abraço  fazem parte da coisa. 

Eduardo e Marina, brasileiros que iam comigo ao Aeroporto e passaram em casa para me apanhar de táxi, ficaram impressionados porque, já dentro do táxi, limitei-me a um aceno com a cabeça de despedida.

Quatro anos após, morei cerca de quinze dias em casa de família americana.  180º  opostos.  Conto logo mais. 

Para terminar legal, a receita do fabuloso scramble eggs.

Ovos mexidos da Markham Road 103 – endereço da casa  da família em Bournemouth

Fazer uma torrada de pão de forma com manteiga.  Mantê-la quente.
Reservar.

Em uma panelinha pequena, derreter manteiga, quebrar um ovo e, quando começar a fritar, colocar uma colher de leite, diminuir o fogo, por sal e pimenta do reino.  Mexer e quando estiver no ponto (eu gosto mole) colocar sobre a torrada quente.   Comer acompanhado de  café forte servido na xícara grande.  É muito bom!!! Gotinhas de Tabasco, um pouco redundante, já que vai pimenta do reino,  também são bem-vindas (acho que agora bemvindo é tudo junto)!!!