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Marinha sofre com falta de Pessoal

Guilherme Lobo, engenheiro sempre presente no Boca no Trombone, e seu colega Prof. Dr Rui Botter têm dado inúmeras entrevistas para os principais jornais do País, sobre a carência de Oficiais de Marinha Mercante e conseqüente obstáculo para o aumento da exploração e produção de petróleo brasileiro. Globo, Estadão, Diário de Pernambuco, Gazeta Mercantil, “Portos e Navios, revista especializada, fundada há 51 anos, já fizeram reportagens de destaque com eles sobre o assunto.

Boca no Trombone não podia ficar atrás e também abre espaço para que apresentem suas considerações.

O assunto é um pouco técnico, mas a leitura vale a pena. Dois gráficos que havia no texto original não entraram aqui. De qualquer forma, dá para entender.
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Resumo do “Diagnóstico da Disponibilidade de Oficiais de Marinha Mercante de 2008 a 2013” realizado pelo Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica

Realizado pelos Prof. Dr Rui Botter e Engº Guilherme Lobo

A carência de Oficiais de Marinha Mercante desponta como óbice relevante para o aumento da exploração e produção de petróleo brasileiro. Atualmente (agosto 2008) navegam na Bacia de Campos cerca de 180 embarcações de Apoio Marítimo, demandando aproximadamente 1.500 Oficiais Mercantes.

Oficiais Mercantes são profissionais graduados em cursos superiores em um dos dois seguintes Centros de Instrução [CI] administrados pelo DPC – Diretoria de Portos e Costas:
• CIAGA, [CI Almirante Graça Aranha] no Rio de Janeiro
• CIAGA [CI Almirante Braz de Aguiar

Ao final de 2007 o sistema operava com carência de 6% (demanda de 2.724 Oficiais e Oferta de 2.568) conforme dados apurados pelo “Diagnóstico da Disponibilidade de Oficiais de Marinha Mercante de 2008 a 2013” realizado pelo Departamento de Engenharia Naval da Escola Politécnica. As providências tomadas pelos armadores, ademais dos sacrifícios dos marítimos, Oficiais e Subalternos, impediram que esta carência desestabilizasse o sistema.

Porém a perspectiva é de agravamento. Caso não sejam tomadas medidas contundentes para reverter esta situação, o citado Diagnóstico prevê que esta carência atinja 869 Oficiais em 2.010 (24% da Demanda de 3.643) e 1.419 Oficiais em 2.013 (32% da Demanda prevista de 4.465). A boa vontade e profissionalismo dos marítimos, aliada à competência dos armadores, conseguirá procrastinar o colapso, porém mantida a cadência atual à certa altura o sistema colapsará. A seguir prancha que exibe as principais cifras do Diagnóstico.

Oferta de OMM’s (Oficiais de Marinha Mercante) significa alunos que concluíram o curso ministrado nas instalações do CIAGA ou CIABA e estão qualificados para iniciar o PREST, estágio a bordo de 6 meses para Oficiais de Máquinas e de 12 meses para Oficiais de Convés. Somente a conclusão deste estágio que os cadetes recebem o diploma e portanto o título de Oficial de Marinha Mercante.

A preocupação com as conseqüências desta carência tem mobilizado autoridades governamentais, sindicatos e armadores e pode ser avaliada pela copiosa cobertura dedicada ao tema pela imprensa especializada.

A magnitude dos danos potenciais desta carência tem ultrapassado os meios marítimos. Sem embargo, surpreendentemente, a Grande Impressa tem dedicado amplas matérias sobre o tema, inclusive com matérias de capa. A título de exemplo:

• “USP: apagão marítimo está próximo”: capa de O Globo de 4 agosto 2008 seguido de extensa matéria
• “Falta de oficiais pode causar “apagão” marítimo no País”: capa de Gazeta Mercantil de 24 julho 2008 seguido de extensa matéria

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Navegar constitui o objetivo maior de um Oficial de Marinha Mercante soa como tese indestrutível. Entretanto, considerados os 2.134 alunos que concluíram o curso (qualificados para o estágio a bordo), apenas 541 estão embarcados conforme o “Diagnóstico da Disponibilidade de Oficiais de Marinha Mercante de 2008 a 2013”, resultando uma taxa de opção por bordo de 25%, ou como usualmente denominado pelo mercado, uma taxa de evasão de 75%.

Neste contexto embarcado significa vinculado à operações marítimas de um dos seguintes quatro segmentos:
• Cabotagem ou Longo Curso de bandeira brasileira
• Navegação de Apoio Marítimo em águas brasileiras
• Transpetro. A rigor Transpetro navega Cabotagem ou Longo Curso; porém seu porte justifica seja classificada à parte
• Plataformas de Petróleo em águas brasileiras

Esta taxa de evasão de 72% não constitui um ponto fora da curva da série histórica. Sem embargo o cálculo da taxa de evasão de qualquer ano a partir de 1977 até 2007 revela cifras sempre superiores a 64%. A seguir a compilação dos dados apurados pelo Diagnóstico:

O fenômeno da evasão profissional ocorre em qualquer profissão. Toda faculdade precisa formar duas frações: uma militará; a outra evadirá. Sob a óptica econômica, este fato trivial se torna crítico quando a profissão em pauta apresenta uma previsão de Oferta menor que a Demanda.

Já sob a óptica emocional espera-se que algumas profissões apresentem taxas de evasão pequenas: médicos, militares. A julgar pela reação de espanto do mercado marítimo perante as taxas de evasão ao redor de 70%, é justo incluir Oficiais Mercantes na categoria de profissões associadas à uma imagem de reduzida taxa de evasão.

A importância da Marinha Mercante para o desenvolvimento nacional; as taxas assustadoras de evasão apuradas; a perspectiva de agravamento desta carência; os limitados orçamentos com fundos públicos do CIAGA e do CIABA requerem sejam apuradas as principais causas desta evasão.