Drauzio Varella, em sua coluna de hoje na Folha de São Paulo, conta que os homens americanos tomam a precaução de saírem do quarto quando a camareira está fazendo seu serviço. Diz ele ainda que foi uma pena que Dominique Strauss-Kahn, Diretor Gerente do Fundo Monetário Internacional, cogitado para concorrer à presidência da França, não soubesse disso e se metesse na confusão em que se meteu. Varella cogita ainda da hipótese de que Kahn, por viajar demais, possa ter confundido o país em que se encontrava, julgando estar “no Brasil ou em um outro país permissivo como o nosso, no qual um homem endinheirado pode atacar mulheres mais humildes com total liberdade.”
Presenciei bem de perto um episódio nos Estados Unidos, mil anos atrás, que mostra como a lei é rigorosa e não faz qualquer espécie de concessão. Luís, garoto brasileiro rico, filho de banqueiro, cara inteligente, que mais tarde viria a estudar engenharia na Politécnica, quis fazer gracinha típica de brasileiro e quebrou a cara.
Julgando-se muito esperto, deu as costas para a câmera de segurança da Loja de Departamento e colocou um pequeno lenço dentro da calça. O que ele não sabia é que havia outra câmera que filmou toda a cena.
Os seguranças dão linha. Quando ele pagou outras compras que fizera, saiu da loja e se encontrou comigo e outras brasileiros, um sujeito gigantesco chega ao seu lado, diz que ele havia furtado um lenço e, sem encostar a mão nele, nem ao mesmo aumentar o tom de voz, determina que Luís o acompanhasse.
Aluno de bons colégios, além de ter tido aulas particulares, falava bem inglês. Mas nessa hora, esqueceu tudo.
Como eu era o mais velho do grupo, o responsável pela segurança do supermercado me chamou para servir de intérprete.
Ao saber da história, vou logo dizendo para o segurança que não havia qualquer problema, já que Luís iria pagar a peça que furtara e tudo se resolveria.
Certamente divertindo-se com minha ingenuidade, o chefe da segurança diz:
– Meu amigo, as coisas aqui não funcionam assim. Eu já chamei a Polícia.
Ainda me achando o rei da conciliação, insisti que ele pagaria e iríamos embora.
A polícia chega, pega o passaporte dele, preenche uma ficha e de maneira a não deixar qualquer dúvida diz para mim:
– Explica para seu amigo que o nome dele foi para o computador central do órgão que trata de assuntos de turistas aqui. O nome dele não saia mais de lá. Quer dizer que se ele cometer a mais mínima infração nos Estados Unidos, seja no ano que for, ele será imediatamente deportado.
Como se vê, a Lei lá vale para todo mundo, tanto para o meu amigo, na época um garotão com jeito de surfista, quanto para o Ban ban ban da Economia Mundial.
Em tempo, nem o segurança da Loja, menos ainda o policial, fizeram qualquer pergunta sobre mim, nem mesmo se eu também era brasileiro.