Mais uma vez, o amigo Armando tece seus precisos cmentários a respeito da vida dos dias de hoje e as distorções que grassam por aí. Armando vai além daquele be-a-bá do óbvio de que o Natal virou apenas festa de consumo e comilança. Leia o texto que ele me mandou ontem
+++++++++
Hoje, dia 17, fui surpreendido por uma notícia sobre:” “personal natal” – vira moda entre paulistanos” (OESP).
Por motivos que desenvolvo abaixo grafo esse natal com letra minúscula.
Se não, vejamos:
Natal é a comemoração do nascimento de Jesus, data magna das religiões cristãs, e que tem como objetivo SIMBÓLICO a confirmação do compromisso do cristão para assumir as diretrizes morais, apresentadas no Novo Testamento, no comportamento cotidiano.
Lembro-me dessas comemorações em minha infância, quando minha “nonna”, que trouxe de suas origens camponesas da Reggio Calabria, comandava um momento mágico: à meia noite, todos familiares sentados em torno da mesa de jantar, permaneciam em silêncio, rezando e refletindo sobre o ano que estava findando e o que então iniciaria, chupando sete uvas brancas. Esse era o compromisso com a representação de Jesus em nossas vidas.
Mas não havia a presença do presépio, que daria concretude a esse momento, e que só tomei contato décadas mais tarde, com o exemplo de minha querida “segunda” mãe, Viola Gabriela, há mais de dois anos no Oriente Eterno.
A “árvore de natal” não é representativa dessa comemoração, pois ela tem origem nos rituais pagãos nórdicos, por ocasião da invasão daquela região pelos romanos, quando foi proscrita a cerimônia de exaltação a Odim, em torno de sua representação no mais alto pinheiro da região, coberto de neve (os enfeites brancos), com a possibilidade de visualização das estrelas em meio a folhagem balançante (as luzes piscando), visto essa data corresponder ao solstício de inverno, com noite geralmente clara, e tendo a brilhante estrela polar, da constelação da Ursa Maior, em seu cimo (a ponteira).
Papai noel é uma representação da lenda do cardeal, por esse motivo a roupagem escarlate, Santa Klaus, que, também em noite de dezembro, teria levado às filhas de uma pobre viúva os respectivos dotes para que pudessem se casar, e colocados em meias na beirada da lareira, daí o presentear nessa data.
Misturaram tudo isso, com nítido rompimento com os significados.
Mas “personal natal”!!!???
É demais…
Explicando: é um “profissional” que tem como trabalho preparar uma festividade faraônica, com comes e bebes com tudo que a tecnicologia pode oferecer.
Logo teremos uma competição sobre qual é o “natal” mais mais!!!
Tudo em nome da “performance”, do visual, da ostentação… e o pobre do Jesus de escateio!!!
É o continente sobrepujando o conteúdo, o significante acima do significado, o cruel esvaziamento do simbolo…
As raízes são facilmente identificadas nesse Capitalismo que aí está: o que interessa é consumir, desde enfeites, passando pelos presentes e terminando na cerimônia do natal, em letra minúscula.
Caro Paulo, como minha “fixação” é a destruição do Estado, correndo o risco de lembrarem que quem procura porco ouve ronco em tudo quanto é canto, acho que esse movimento faz parte de um programa maior do Capitalismo em destruir as bases que sustentam o “mini-Estado” familiar, isto é, que nossas famílias tenham seus valores morais (aqui entendido dentro dos parâmetros preconizados por Max Sheler) e religiosos, sendo substituidos pela fascinação do comprar.
Tenho, cá para mim, que esse é um processo irreversível, comparando com os mecanismos silenciosos que o vírus HIV usa para infestar os seres humanos… e destrui-los!!!
Mas para minhas netas, independente da religião que elas venham a professar, resgatarei os princípios do Cristianismo: nós somos as manjedouras onde devemos fazer nascer dentro de nossas almas os princípios de Jesus, de Buda, de Gandhi, de Maomé e de todo aquela que me ajudar a repensar minha responsabilidade para com meu próximo.
E isso é um convite a você, leitor.
Obrigado.
Quem quiser ler Matéria do Estadão, citada por Armando, a respeito de Personal Natal Clique aqui
++++++++++++++++++
Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra
Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama