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Morar Sozinho

Globo Repórter agora há pouco foi sobre pessoas que moram sozinhas.  Li alguns anos atrás   que cerca de um terço  dos domicílios eram de um único morador.  De acordo com o programa, a proporção não é tão grande.

Descobri  que para muitos acontece o mesmo que se passa comigo.  As pessoas  transformam seus bairros em cidades do interior.   Particularmente,  tenho uma turma  que toma café de manhã na mesma padaria e outra, que à noite,  bebe cerveja nas mesas da calçada de um bar , a cinquenta metros de casa.  Aliás, terminado o programa fui para o bar e informado de que amanhã haverá churrasco no prédio de um dos frequentadores.

Meu carro, como escrevi  em outro texto,  parece fazer parte da estrutura da garagem, de tão raro que é ele não estar ali na minha vaga.

De acordo com o programa,  imensa maioria   mora sozinho por vontade própria.  Um rapaz contou que depois que saiu da casa da mãe, a relação deles melhorou muito.   Um casal está junto há muito anos, mas, cada um em sua casa.

Abaixo frases minhas sobre o assunto:

  • Sartre:  “o inferno  são  os outros”.  Millôr:  “mas o céu também”.  Um era  filósofo; o outro,  humorista.
  • Dizem que um homem cujas camisas estão sempre com botões faltando tem dois caminhos: ou se casa ou desquita.  Meu pai não queria  desquitar e aprendeu ele mesmo a pregar botões.  Não quero me casar  e  arranjei uma boa empregada.

Millôr e Ínfima Parte do Seu Ministério de Perguntas Cretinas (1)

Millôr Fernandes em seu Livro Ministério de Perguntas Cretinas, Editora Desiderata, 2006.   Tudo o que segue é do Millôr, exceto explicação minha.   Vai sem aspas, mas é dele.

Pergunta: Cão que ladra, não morde?

Resposta: Geralmente.  Mas tem cachorros que conhecem o Provérbio e latem só para tapear.

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Pergunta: Pé de vento, calça meia?

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Pergunta:  E um surdo pode dizer que houve um assassinato?

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Pergunta:  Se há nos restaurantes mesas reservadas, por que não há mesas comunicativas?

Comentário meu:  Sim, deveria haver mesas comunitárias.  Os que estão sozinhos poderiam ter a opção de se sentarem à essas mesas e, mesmo nessas mesas, conversarem ou não com o vizinho.  Aliás, nos tempos do meu pai havia restaurantes com uma mesa meio-balcão, onde se sentavam os que estavam sós.  Essa mesa tinha o sujestivo nome de cocho.* (leia ao final o significado de cocho)

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Voltando ao Millôr

Pergunta: Será mesmo verdade que os linotipistas** só comem sopa de letras?  E por falar nisso, você gosta de sopa de batata da perna?

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Se o Diabo se portar bem, vai pro céu?

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* Espécie de vasilha, em geral feita com um tronco de madeira escavada, para a água ou a comida do gado, para se lavar mandioca, etc.:

** explicação livre minha “quem operava antigas máquinas que faziam parte do processo de impressão de livros/jornais/folhetos”

Sartre, Millôr e Dois Paulos

Tema controverso,  O Eu e o Outro/Sociedade,  já rendeu bons comentários/frases.  Agora, Paulo D´Auria, meu amigo de Saraus,  fez verso muito lindo.

Lá vão, “por ordem da concepção”:

Sartre:  O inferno são os outros.

Millor:  O inferno são os outros, mas o céu também.

Eu: “O inferno são os outros (Sartre), mas o céu também (Millôr”). Durante muito tempo, apenas observei as duas frases.  Hoje, comento: um era filósofo; o outro, humorista.”

Agora, a beleza e o otimismo dos versos do poeta Paulo D´Auria.

O paraíso são os outros
o umbigo é o inimigo.
As asas são os outros,
umbigo é corda.

Muito lindo mesmo.  Entretanto, sobretudo  exatamente nesses dias, com hiper sobrecarga de estresse – causada por “outro”, não dá para fugir um milímetro de Sartre.   Por tudo que já passei, entretanto,  eu mereço que o futuro me reserve “momentos intermináveis e permanentes”  para enxergar o mundo como o Xará e o Millôr.  Que esse futuro chegue logo e dure  enquanto eu estiver aqui por esse maravilhoso Planeta Terra.   Deus há de me ouvir!!!

Falta de Estacionamento Inviabilizando Salvação da Humanidade e Fim de Noite Tórrido

Na Rádio, boa Publicidade de carro, da Fiat, salvo engano.

Em três circunstâncias o jovem dono do carro sai com a chefe.  Fim da noite, em frente à sua casa,  com elegância, mas   insinuante, ela pergunta:

– Você não  quer subir ao meu apartamento?

A continuação pessimista que imagino  da cena:

– Estacionar aonde??? Não vai dar!!!

Frase de Millôr mostrando que o problema de estacionamento não é de hoje:

– Jesus voltou mas não encontrou vaga para estacionar.

E assim, o Trânsito vai inviabilizando o prazer e até a nossa Salvação.

Observação: escrevi esse texto inteiro (à mão) durante  ínfima parte do tempo em que fiquei congelado no trânsito entre Pinheiros e Sto Amaro, para percorrer  menos de quatro, cinco quilômetros.  Não no horário de pico, mas às duas da tarde.  Chegando ao meu destino, óbvio, não havia lugar para estacionar.

Frase minha : “Ficar a ver navios” é muito  melhor do que ver ônibus em congestionamento.

Só masoquista discorda!!!

Millôr Matando a Pau; Agora, lá em Cima!!!

Conscientemente, já prestei algumas homenagens ao Millôr e à sua sabedoria  que  vão   fazer muita falta.  Insconscientemente, a área de trabalho do meu blog,  com muita freqüência e com  justiça, também o homenageia.  Todas as vezes que clico o botão devido para inserir novo texto,  antes de se abrir o espaço para eu escrever, o Blog  vai para  um post antigo  para o qual  dei o título MILLOR MATANDO A PAU, SEMPRE!!!

Talvez seja outro o recado que a área de trabalho queira me dar.  Algo do gênero:  Veja lá o que você vai escrever para não decepcionar o mestre.  Pelo menos, ver o nome do Millôr estampado na tela todas as vezes que vou escrever algo novo me dá responsabilidade e, de certa forma, amparo.  Tem funcionando.

Millôr Matando a Pau, Sempre mostra  aquilo que a todo momento estou a comentar:  não é que os jornalistas/humoristas sejam preguiçosos e se repitam.  A nossa história é que não muda há séculos. Aliás, com muito propriedade, José Simão diz que o Brasil é o País da Piada Pronta.  Um dos textos do Millôr se chama Conversa Antiga.   É de 1950.  O outro, Incredulidade, é de 1954.  E, pelo jeito, em 1950/54, a corrupção já era coisa antiga.   Aliás, no Brasil, acho que desde 1550 já fosse prática antiga.    E se você é dos bobinhos que pensa que corrupção nasceu com o Mensalão, para rimar, vai ter decepção!!!  Aproveito e falo de outros aspectos correlatos da coisa.  Se quiser ler, vale a pena.  Clique aqui

Mas o que eu queria mesmo hoje para homenagear Millôr  é contar historinha que também está nesse post.  Fiz uma frase a partir de frase excelente do Millôr.  Entrei no site dele, redigi  poucas linhas  em que eu dizia ser um frasista e coloquei a frase dele e a que fiz a partir de sua frase.

Adivinha o que aconteceu.   O próprio Millôr respondeu dizendo que havia gostado muito e me mandando um abraço.  Pode ser que algum funcionário do site tenha respondido.   Mas estava assinado simplesmente MILLÔR.  Lá vão frase do Millôr e a Minha, a essa altura, elas já estão de tal forma integradas e nem vale a pena separar.  Se o mestre aprovou, é porque deve ser isso mesmo.

Lá vai:

(…) “um cara muito opinativo raramente tem opinião própria (Millôr)” – e o mais grave: escolhe sempre ser porta-voz do que há de pior.

É impressionante, não é mesmo???

Se o céu era bom, porém, monótono, a partir de agora, torna-se divertido e estimulante.

Fique com Deus, Millôr ;  mas dê sossego para Ele.

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O amigo Vasqs mandou a ilustração abaixo.

Desenho Vasqs

Conheça o site do Vasqs  Ostras ao Vento –

Big Sisters – Cérebros Ocos Dentro de Lindas Cabeças

Salvo imenso engano, foi Millôr quem disse algo assim:  “A pressa é inimiga da perfeição, mas a ejaculação precoce pode produzir belas crianças”

Dá para estabelecer um paralelo olhando para as gostosonas do Big Brother, enquanto não começa “As Brasileiras”.  Lá vai o paralelo:  cérebros ocos podem estar dentro de belíssimas cabeças de moças sobre corpos deliciosos.

A Morte nos Versos de Millôr e na Piada Popular

Mais uma vez (e vou repetir muito isso daqui pra frente), lanço mão da sabedoria e versatilidade do Millôr.

POESIA   MELANCÓLICA   OLHANDO  UM    LIVRINHO   DE   ENDEREÇOS – Millôr Fernandes

Caderninho preto

(Espécie de Anais)

Onde estão escritos

Todos os locais

Em que os amigos

Já não moram mais

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Naquela semana, alguns anos atrás, tinha contado para o meu pai piadinha muito boa.  Lá vai:

A maior preocupação de dois jovens que jogavam muito bem futebol era descobrir se havia futebol após a morte.  Assim, eles combinaram que o primeiro que morresse iria se empenhar para de alguma forma aparecer e avisar para o outro se havia ou não futebol.  Um deles morreu muito cedo e cumpriu a promessa.  Apareceu para o outro e contou:

– Legal, meu,  lá tem futebol.

O que ainda estava por aqui ficou eufórico.  O outro concluiu:

– E você já está escalado para o jogo do próximo  mês !!!

Pois bem, eu e meu pai  estávamos de carro  na região do Estádio do Morumby.  A cada rua que eu entrava, ele lia o nome e dizia:

– Esse aí era juiz quando eu comecei a advogar.     (como se sabe, só pessoas mortas podem dar nomes às ruas).

Virava um esquina, e meu pai:

– Esse formou-se no ano em que entrei na faculdade.

No terceira ou quarta rua batizada com colegas dele que já estavam no andar de cima, como o rapaz da piada, eu disse:

– Pai.  Pára com isso.  Daqui a pouco um deles vai aparecer e dizer assim:

– Hiram, já estamos polindo a placa da sua rua.

Contei para uma sobrinha e ela morreu de rir.

Millôr Matando a Pau, Sempre!!!

CONVERSA  ANTIGA- MILLÔR  FERNANDES

(…)

Ah que tempos, Dona Santa!

– E que moral, seu Moreira!

Eu aqui onde me vê

Lavo e passo meio dia

Fico o resto na cozinha

Enquanto minha filhinha…

Juventude transviada!

– Eu nunca pensei viver.

Em era tão desregrada

– Ah, não me faça falar,

Se continuar assim

Onde é que vamos parar?

– Que modos, que roubalheira

Que moral, dona Santinha!

– No meu tempo de  solteira

O mundo viria abaixo

com metade disso aí.

Quanta falta de juízo!

– Até as roupas, me diga,

Voltamos ao Paraíso!

– Isso mesmo, seu Moreira;

Aqui mesmo, essa vizinha,

Vai à Praia nuazinha.

– Não há mais respeito ao próximo:

E sem Falar na Política!

Ah, isso, então, seu Moreira,

Falar é até besteira.

O Tempo dos conselheiros,

Dignidade, nobreza.

–  E o Senado, que grandeza!

– Hoje só há maroteira.

– Ah, que tempos, dona Santa!

– Ah, que moral, seu Moreira

(E assim por Diante)

INCREDULIDADE – MILLÔR  FERNANDES

Poesia com quase certeza

Político rico

ex-abrupto

vem me dizer que não é

corrupto

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Adivinhe de quando são os poemas!!!  Não olhe para baixo, empenhe-se em adivinhar.

CONVERSA   ANTIGA – 1950;  INCREDULIDADE – 1954.

Bobinhos todos aqueles que pensam que  escândalos são coisas recentes, inéditas e/ou exclusivas de políticos brasileiros.

Escrevi,  menos de um mês atrás:

Agora é Palocci quem  aparece no noticiário como tendo multiplicado seu patrimônio por 20 em quatro anos.

Quase todos que  ocupam   um cargão  sempre enriquecem  muito.  Não é de hoje e não é só no Brasil.  Porque é comum não quer dizer que está certo. É só um fato.

As provas.

  • Político brasileiro importante, muito respeitado, sobre quem jamais  pairou  a menor dúvida, conhecido como professor universitário,  que ocupou cargo importante na década de 50, nasceu em um casa ultra modesta de dois ou três  metros de frente.   Ao morrer, entre os bens que deixou,  havia uma fabulosa fazenda no Interior de São Paulo,  na qual já me hospedei quando era do dono anterior.
  • O político/astro de cinema Ronald Regan,  ao deixar a presidência dos Estados Unidos, ganhou uma mansão de alguns milhões de dólares.  Terá sido por conta dos relevantes serviços prestados à arte cinematográfica americana???”

Digo brincando.  Sou como o Chacrinha: ouça o que eu digo porque o que eu digo não tem nos livros!!!  Estão aí poesia/verso  de Millôr mostrando que o que eu digo não está  tão errado assim.

Quando a direita babona e raivosa vem espumando a falar besteira,  lembro-me de frase ótima, também  do Millôr que, pretensioso, suponho tê-la tornado ainda  mais contundente. Lá vai:

(…) “um cara muito opinativoraramente tem opinião própria (Millôr)” – e o mais grave: escolhe sempre ser porta-voz do que há de pior.