Mais uma vez (e vou repetir muito isso daqui pra frente), lanço mão da sabedoria e versatilidade do Millôr.
POESIA MELANCÓLICA OLHANDO UM LIVRINHO DE ENDEREÇOS – Millôr Fernandes
Caderninho preto
(Espécie de Anais)
Onde estão escritos
Todos os locais
Em que os amigos
Já não moram mais
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Naquela semana, alguns anos atrás, tinha contado para o meu pai piadinha muito boa. Lá vai:
A maior preocupação de dois jovens que jogavam muito bem futebol era descobrir se havia futebol após a morte. Assim, eles combinaram que o primeiro que morresse iria se empenhar para de alguma forma aparecer e avisar para o outro se havia ou não futebol. Um deles morreu muito cedo e cumpriu a promessa. Apareceu para o outro e contou:
– Legal, meu, lá tem futebol.
O que ainda estava por aqui ficou eufórico. O outro concluiu:
– E você já está escalado para o jogo do próximo mês !!!
Pois bem, eu e meu pai estávamos de carro na região do Estádio do Morumby. A cada rua que eu entrava, ele lia o nome e dizia:
– Esse aí era juiz quando eu comecei a advogar. (como se sabe, só pessoas mortas podem dar nomes às ruas).
Virava um esquina, e meu pai:
– Esse formou-se no ano em que entrei na faculdade.
No terceira ou quarta rua batizada com colegas dele que já estavam no andar de cima, como o rapaz da piada, eu disse:
– Pai. Pára com isso. Daqui a pouco um deles vai aparecer e dizer assim:
– Hiram, já estamos polindo a placa da sua rua.
Contei para uma sobrinha e ela morreu de rir.