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Bom lá pras minhas negas!

Foi na casa do meu vizinho Fernando que vi pela primeira vez aquele jogo  de formar  palavras, do primo dele.  Eram 13 dados com letras em todas as faces, um copinho e uma ampulheta de três minutos.  Logicamente,  havia mais faces com as letras A, E e O.  O jogo era da Grow, especializada em brinquedos educativos.  Chamava-se     R I S K.

No dia seguinte, lógico, comprei um. 

As regras:

  • O jogador colocava todos os dados no copinho; 
  • Lançava-os;
  • Virava-se a ampulheta, que  começava a marcar o tempo;
  • Com as letras que estavam para cima, o jogador da vez  formava palavras;
  • Uma palavra na horizontal;
  • As outras,  penduradas;
  • Quanto mais longas as palavras, melhor;  já que o número de letras de cada palavra era elevado ao quadrado.  Como também era elevado ao quadrado o número de dados que permanecessem fora da composição,  e descontado do resultado da soma  anterior.
  • Se uma das letras fosse Q e não houvesse U, o jogador podia, olhando rapidissimamente,  decidir se jogava todas as pedras novamente, ou apenas o Q.

Eu estabeleci uma regra legal.  Quem  usasse todos os dados, poderia, no tempo restante, jogar mais uma vez. O fluxo da ampulheta era interrompido. 

Contavam-se os pontos. A ampulheta novamente correndo.  E no tempo disponível, o jogador  tinha que se virar, pois se fizesse uma palavra de 4 letras e deixasse de usar 9,  seus pontos seriam:  16 positivos – 81 negativos.  Resultado dessa segunda etapa da rodada –  65 pontos negativos.

Meu irmão e minha mãe, ultra competitivos,   já quiseram  botar pressão na coisa:

– Nada disso. A pessoa joga quantas vezes quiser  nos três minutos da ampulheta.

Protestei:

– Eu jogo  para relaxar e não para ficar brigando com tempo.  Quiserem aceitar a minha proposta de só poder jogar novamente,  se todos os dados formarem palavras,  eu continuo.  Caso queiram ficar nessa lutinha boba contra a ampulheta, não vão contar comigo.

Eles queriam colocar desafios sobressalentes, entretanto,  o vencedor de sempre, sempre mesmo, era eu.

Estava na casa do Fernando e o irmão dele, sabendo que eu havia comprado o Risk, pediu que eu fosse buscar em casa para jogarmos. 

Resultado: eu já tinha fechado a partida em quinhentos pontos e eles não haviam chegado nem à metade.

O mesmo acontecia no  ginásio e no colegial, digo,  parte considerável  do colegial.

Uma bela manhã do segundo dia de aula de   agosto,  já no terceiro ano,    o  aluno que acabara de se transferir da Escola Pública de Guaratinguetá para o nosso colégio, após  ter  me visto  estraçalhar o adversário anterior,  perguntou se podia jogar comigo.

Ele propos, uma partida até quinhentos: 

– A gente começa agora no recreio e termina no banco da pracinha depois que tocar o sinal da última aula, falei.

Em volta, todo mundo dizendo:

– Esse tal de Pascoal é louco.  Ninguém ganha do Paulo.

Ao término da segunda Rodada,  325 para o Pascoal; 61 para mim.  Nas duas rodadas, ele jogou duas vezes.  A minha média arrasadora, até então de  75 pontos por rodada, caiu para míseros 30,5 pontos.

Tocou o sinal do fim do recreio.

Desacorçoado, falei que a gente terminava  ao final da aula.

Os amigos tentavam incentivar.  Até o ringue, digo,  banco da Pracinha, o colégio inteiro nos seguindo e gritando:

– Olê, olê, olá, o Paulo vai virá!

Virei, virei, sim,  um saco de pancada do homem.  Os 162,5 pontos de média dele por rodada, no recreio,  saltaram para 220.  Os meus 30,5, briosamente,  se mantiveram nos 30,5.  Resultado final: 545 contra 85.

Cumprimentei-o:

– Pascoal, jogo RISK  há uns dez  anos, jamais havia perdido.  Parabéns, Pascoal, de fato, você joga muito bem mesmo.   

– Paulo, você e seus amigos confundiram meu nome.  Eu não me chamo Pascoal.  Meu nome é Pasquale.  Pasquale Cipri Neto.

MEU QUERIDO E SAUDOSO PAI

Quando meu pai morreu, há quase cinco anos,  postei aqui no Trombone um texto em homenagem a ele e alguns outros em que ele era personagem central, além de suas frases dele.   A respeito das frases, na ocasião, uma leitora comentou: “agora já entendi, filho de peixe, peixinho é”.

Em homenagem ao dias dos pais, posto novamente.

Então, pra começar, as frases. Depois, duas crônicas minhas e, para terminar, belíssimo Poema da  querida Roberta Estrela D´Alva, que ela leu ontem na abertura do Zap e dedicou à memória do meu paizito.

As frases dele;   curioso, que bem a primeira é sobre velório.

  • O velório é a única solenidade em que o homenageado está impedido de se manifestar.
  • Minha mãe foi a última dona de casa que conheci.
  • “Nossos problemas acontecem porque nos levantamos da cama.”  Alguns,  porque nos deitamos na cama.
  • Com um ponto de apoio, Arquimedes seria capaz de levantar o mundo; com apoio moral, entretanto, não se levanta nem pensamento.
  • Se Deus fosse mesmo brasileiro, imagina  o que seria do Mundo!!!
  • O sujeito velho tem muita coisa pra contar e mais ainda para não contar.
  • O pior da festa é esperar por ela.
  • Quem canta seus males – Espanta!!! – É diferente do que já existe,  observe a pontuação.
  • Para Bolsa de Valores  despencar, basta um peido mais forte no pregão. (apesar de ele, tampouco eu, jamais termos aprovado o mau gosto, a frase é boa e verdadeira.)

As frases acabaram-se.

Agora os episódios que são o retrato escrito dele, pintado/digitado  por este escriba,  que tão bem o conhecia.

Episódio 1: Hiram, Édipo e Genoefa

Os amigos do meu pai dos tempos de São Francisco o definiam assim:

– O Hiram entra no restaurante e já vai logo pedindo, de uma só vez, filé bem passado com fritas, coca-cola, pudim de caramelo de sobremesa e troco para 10 mil Réis.

Quando eu ainda morava com ele, chego em casa e ele me diz:

– Paulo, o Mário ligou e disse que o pai do Fábio morreu.

Eu perguntei onde era o velório. Meu pai disse que o Mário não falou nada sobre velório. Ligo pro Mário e pergunto se ele estava a fim de me encher para deixar um recado que o pai do Fábio morreu e não informar onde era o velório.

O Mário reproduz para mim o diálogo com meu pai:

– Dr. Hiram, tudo bem? O Paulo está?
– Não, o Paulo não está!!!
– O senhor diz para ele que o Pai do Fábio morreu.
– Tá bom, eu digo!!!
– Mas dr. Hiram….
– Já entendi, o pai do Fábio Morreu
– Mas dr. Hiram…..
– Mário, eu não sou burro. O pai do Fábio morreu. Tchau!!!
E bateu o telefone (meu pai é muito educado; a aflição, entretanto, é infinitamente maior…)

Faz uns 25 anos que não moro mais com ele. Ou seja, isso se passou um quarto de século atrás. Imaginem, pois, como está o homem hoje, aos 86 para 87 anos de Idade!!!!

Esqueci de falar, talvez tenha ficado ansioso por osmose – o teclado por estar escrevendo sobre meu pai me passou ansiedade – meu pai é um sujeito brilhante, muito inteligente, lê bastante e usa o computador como um garoto de quinze anos.

Genoefa é a versão feminina e bem mais jovem do meu pai. Eu a conheci – há uns três anos – na entrada dos cines Belas Artes. Eu ia a um filme e ela, a outro. Trocamos meia dúzia de palavras. Na saída, eu devo tê-la impressionado muitississississimo mesmo porque ela estava me esperando. Genoefa e meu pai não são de esperar!!! Coisa alguma, pessoa alguma!!!!  A aflição os mata a ambos. São daquele tipo de pessoas que se jactam de fazer no mínimo três coisas ao mesmo tempo. Eu, ao contrário, fiz foi uma frase sobre isso:

Duas coisas fáceis ao mesmo tempo tornam-se difíceis e uma delas sai errado.
Outra coisa em comum – essa muito favoráveis aos dois, pois prova que são de muito bom gosto:

Eles têm uma “obsessão obsessiva” por mim!!!!

Parece divertido, né???? Mas queria ver qualquer outro no meu lugar !!!

Liás (sem aspas) Genoefa acabou de telefonar neste exato instante em que eu escrevia esse parágrafo – não tinha novidades, mas ficou 15 minutos falando!!!

Tivemos um namoro rápido e uma amizade colorida (essas coisas não terminam, né???).

O dia em que a Psiquiatria/Psicanálise descobrir meu pai, a Genoefa e eu, seremos colocados em uma espécie de carro forte de banco para que nada nos aconteça até que seja estudado exaustivamente o fenômeno que me acometeu:

Envolver-me – não com uma mulher que lembre minha mãe – mas com uma que é meu pai terminado.

Eu sou um Édipo Viado!!!!!!!!

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Episódio 2 – EDMUNDO

De 21.09.06

Segunda-feira, há alguns anos, por volta das 13 horas.

No Domingo, o Edmundo fora expulso com toda a pompa que seu nome requer. Muitas pernadas pra todo lado, um monte de polícia pra retirá-lo do campo, mais tentativas de pernadas nos policiais e assim por diante. Não tenho nada contra esportistas irreverentes, audaciosos e temperamentais. Pelo contrário, sou fã do John McEnroe, Nélson Piquet, entre outros. Também admiro esportistas bem comportados, é verdade. Aliás, faço restrição a poucas celebridades. Jogador de futebol, propriamente dito, só me lembro de um que realmente não agüento. Um dia posso escrever alguns episódios sobre ele.

Voltando ao Edmundo e àquela segunda-feira.

Estava com meu pai em um super-mercado de porte médio. Meu pai foi pagar as contas dele em um caixa e eu estava no caixa diametralmente Oposto. Meu pai é um homem de 85 anos, de ótima cabeça e das pessoas mais educadas do mundo. Fala muito alto, como todo velho, é verdade. Apesar de extremamente educado e tratar os humildes com imensa consideração (aliás, trata bem todo mundo), vira uma verdadeira fera se é alvo de qualquer arrogância e ou estupidez. E parece que arrogância e estupidez eram os grandes atributos do gerente que foi atendê-lo.

Pois bem, meu pai não deixou barato. Com toda a razão, começou a gritar e a esbravejar com o tal gerente.

A moça do Caixa que estava me atendendo falou rindo para todos à sua volta:

– Ih gente, olha lá o Pai do Edmundo!!!!!!

Peguei meu troco às gargalhadas com a definição da mulher. Sem dizer nada, evidentemente.

Meu pai se diverte até hoje contando essa história para todo mundo. Eu, por minha vez, ganhei um irmão famoso!!!!
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Para terminar,  o Deslumbrante Poema da Deslumbrante Roberta Estrela D´Alva que ela leu ontem no Zap  e dedicou ao meu Pai.

Dança da morte –
Roberta Estrela D’Alva

Boom , e acabou
ou começou
o que restou
o que ficou
dor que chegou
dor que findou
roda girou
vento levou

a vela apagou
a chama ascendeu
a voz se calou
o corpo desceu

a saudade no peito não para, não cala , não sara
insiste não quer parar.

mas já sabíamos desde o começo
que essa vida é curta e tem seu preço
e o que vem depois eu desconheço
embora soubesse o fim já  desde  o berço

que a cada minuto, a cada segundo,
a cada palavra, a cada oração
caminhamos direta e inexoravelmente  nessa direção
e são tantas histórias
e são tantas feridas
e são de saudade
as lágrimas quentes agora vertidas
injustiças, inverdades, cometidas e ditas
pela não compreensão
da eternidade, da imortalidade
pela falta de fé e  ilusão
pois o retorno é inevitável
são só dois lados do mesmo som
morte e vida , vida e morte
matérias primas de toda criação

a carne se desfaz mas o espírito não
o flow  da vida segue,  o beat não para, só coração

a carne se desfaz mas o espírito não
o flow da vida segue, o beat não para, nem o coração!

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Que ele esteja bem lá no Céu e descanse de tanta correria aqui na Terra!!!

Beijo, Paizito Querido.

Fique com Deus, com seus amigos,  nossa família, mas dá sossego pra todo mundo aí cima, viu???