Arquivo da tag: Machado de Assis

CLAVICULADO – VOCÊ SABE O QUE É???

Preciso pegar algo no meu carro que havia deixado no estacionamento, onde sou mensalista.  Falo na portaria que vou até lá. O funcionário me diz que se a chave não estivesse  no para-brisa estaria no CLAVICULADO.  Pergunto o que é claviculado e ele me diz que é o armário para guardar chaves dos carros.  Falei  que nunca havia escutado aquela palavra e ele me disse que era o nome que se usava para Armário de chaves  nessa Rede de Estacionamento.

Pois bem, chegando em casa aciono o  meu Aurélio Eletrônico e digito claviculado.

Óbvio que Claviculado tem tanta relação com armário ou guardador de chaves  quanto mamadeira tem com escada de caminhão do corpo de bombeiros.

Será que apenas  os gerúndios, os a nível de, os de repente  e algumas  outras estupidezes  não conseguem saciar a busca por “originalidade” desses, não direi pobres de espírito, mas pobres de vocabulário e de gramática???

Camões, Machado de Assis,  Guimarães Rosa, Antônio Houaiss, Antônio Cândido,  Aurélio  Buarque de Holanda deem-me Paciência e Tolerância!!!

++++

O verbete CLAVICULADO  do  Aurélio Eletrônico,  que – naturalmente – tem relação com clavícula, até com clavícula de marceneiro, jamais com armário.

claviculado

[De clavícula + -ado1.]
Adjetivo.
1.Que tem clavícula(s).
Substantivo masculino.
2.Zool. Mamífero roedor que tem clavículas perfeitas.

Locutores, Nada de Lugar Mais Alto no Pódium!!! Por Amor a Machado de Assis!!!

Alguém já disse,  a respeito do uso de uma determinada expressão da qual também não me lembro, o seguinte:

– O primeiro a dizer  essa  expressão foi um gênio; o último,  um idiota.

Eu peço que locutores esportivos empenhem todas as suas forças para  falar nessas Olimpíadas e daqui para todo o sempre: o atleta x conquistou o primeiro lugar;  e não o atleta x conquistou  o lugar mais alto do pódium.

Isiossincrasia minha???   Acho que não.  A tendência  de todo idioma é ser econômico – primeiro lugar é sucinto; lugar mais alto no pódium, além de babaquice,  é esparramado, desperdício morfológico (perdão pelo pedantismo; aliás, sei lá se isso existe),  chavão, cafona.

Para terminar, frase minha:

“Tente até me passar um xaveco, mas não me repita um chavão.”

Chega de Metáforas, por Amor e Respeito a Machado de Assis

Li, provavelmente no livro A Ilha, de Fernando Morais, sobre Cuba,  que os jovens de lá, nas décadas de 70/80,  não usavam barba.  Provavelmente para não parecer que queriam imitar Fidel e até por respeito a ele.

Proponho que do dia 1º de janeiro próximo até 1° de janeiro de 2021  ninguém mais use metáforas e nem mesmo exagere nas  comparações.  Dez  anos para desintoxicar passam rápido; corpo e mente agradecem.

Para o presidente Lula, podemos dizer que nunca jamais nesse país nascerá alguém com sua genialidade  para criar  metáforas/comparações; e por isso pessoa alguma  tem coragem de navegar por esses mares metaforísticos, como diria Odorico Paraguaçú.

Mas, cá entre nós, a verdade é que  ninguém agüenta mais…

Ontem, no rádio, a resepeito da qualidade dos futuros ministros, lascou:

– É lógico que todo técnico quer escalar 11 Pelés ou 11 Messis. 

Reitero – façamos o pacto: Cidadão comum só pode usar metáforas em 2021.  Até lá, apenas  o presidente Lula tá liberado, mesmo porque talvez ele morresse  se lhe fosse imposta tal restrição.

Machado de Assis, lá do céu, vai agradecer o descanso   das metáforas.  Quando o presidente  Lula, já na qualidade de mero mortal,  for dar entrevista ,  o escritor pode muito bem mudar a estação ou desligar o Rádio/TV.

Mansões, Casebre, Batatas e Pizzas de Sarney

O escritor-senador  José Sarney, que não é bobo nem nada, em sua coluna de hoje na Folha de São Paulo, sequer menciona  as palavras política, senado, parentes. 

Ele conta  que “passei  pelo lápis, pelo tinteiro, pela caneta-tinteiro, pela esferográfica, pela máquina de escrever manual e elétrica e desembarquei no Computador”. Fascinado,  lá pelas tantas, cita o Google Earth . Diz ele: “para mim, um milagre, com sua capacidade de mostrar na tela a casa de todo mundo no mundo, inclusive a minha.”

Perguntas:

A que casa será que ele se refere???

Opção 1 – À da praia do Calhau, em S. Luis do Maranhão???

Opção 2 – Sua casa de Brasília, “avaliada em R$ 4 milhões onde mora, na Península dos Ministros, área mais nobre do Lago Sul de Brasília, comprada do ex-banqueiro Joseph Safra em 1997″???

Opção 3 – Ou ele se refere ao   casebre no Amapá em que ele declarou residir para poder se candidatar ao senado por esse estado???

Se a resposta for a opção 3, realmente o “tal do Google Earth” é um fenômeno. Porque de tão pequena, tão insignificante, principalmente para um presidente-literato, pode-se dizer que ela nem mesmo existe!!!

Já as outras duas casas, tal qual a Muralha da China, talvez  sejam vistas   até mesmo da Lua.

Mas presidente José Sarney , por favor não responda agora.  Agora curta o seu tão merecido recesso parlamentar!!!

Aliás, gostaria que me explicassem por que se chama recesso Parlamentar??? 

Eu vou no popular.  Para mim, são férias mesmo!!!  Congresso/congresssistas  têm mais férias que crianças na escola. Mas falar férias pega mal.  É Recesso!!!

Sarney termina seu artigo citando Machado de Assis: “e, aos vencedores, as batatas”.  

Talvez tenha se esquecido de dizer: para a opinião pública, as pizzas!!!

Carta para Mino Carta e sua Olivetti

São Paulo, 1ª Semana de Janeiro de 2008.

Prezado Mino:

Chego de curta viagem e sou informado na página do Último Segundo do Ig que você deu merecidas férias para a máquina de escrever, privando todos nós de seus sempre perspicazes e oportunos comentários.

Sem querer ensinar o Padre Nosso ao vigário, afinal sou apenas ousado, jamais atrevido, faço-lhe oportuna sugestão. Que tal transformar as férias de sua Olivetti em aposentadoria definitiva??? Logicamente com todos os direitos que a lei lhe garante – como, por exemplo, levá-la periodicamente ao técnico que cuidará de sua boa saúde e funcionamento perfeito para que sempre possa dar conta do recado nos momentos de nostalgia que talvez venham a acometer o seu dono.

A Olivetti ficaria apenas para as horas de lazer, textos rapidíssimos, trabalho leve, em síntese. É lógico que você guarda ótimas recordações de tudo que já escreveu com ela. Minha Remington, que meu pai comprou para ele quando eu tinha uns três anos de idade, da qual me apossei ainda na Faculdade e que também me rendeu bons textos por cerca de doze anos, até aproximadamente meados da década de 80, já goza de aposentadoria há um bom tempo. Jamais vou abandoná-la.

Mas, voltando a sua insubstituível Olivetti, que tal escalar para essa posição um computador Pentium 4 com o Programa de Texto Word For Windows???

Todo esse nomão arrogante Pentiun – que as pessoas pronunciam de forma errada com T – (gente, a palavra é Latin, Pentiun deu origem a pensar. Esse t, é lido com som de s!!!) na verdade esconde uma doce e amiga ferramenta da qual ninguém mais pode prescindir.

Garanto que em menos de cinco dias você estará dominando com razoável destreza o computador. Reviverá a sensação que teve ao passar a utilizar a máquina ao invés da caneta. Ou seja, você será simplesmente incapaz de voltar a escrever longos textos com a máquina.

Tenho certeza quase absoluta de que Machado de Assis, ou qualquer outro grande escritor da era pré-computador, teria escrito muito mais e com mais qualidade ainda (como se isso fosse possível, no caso do Machado de Assis) se usasse essa maravilha, acessível a praticamente todas as pessoas do século 21.

Querendo, conte comigo para algumas poucas e definitivas horas de bate-papo e instruções diante do meu computador. Por favor, diga para sua Olivetti que a minha Remington poderá fazer-lhe companhia sempre que ela for tomada pelo mais tênue complexo de rejeição que seja.

Grande abraço em Você e sua histórica Olivetti.

Paulo Mayr