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HOMOFOBIA/INVASÕES – NA PAULISTA…NO BRASIL… NA HISTÓRIA… NO MUNDO… Por Armando de Oliveira Neto*

Entre os últimos dias 4 e 9, dois ataques a jovens Homossexuais ocorreram na Avenida Paulista.   Mais uma vez, o psiquiatra Armando de Oliveira  Neto é convidado para nos ajudar a entender essas violências que, “muitíssimo” desgraçadamente,  vão se tornando corriqueiras.
Na verdade, Armando extrapola em muito os últimos acontecimentos e, de lambuja, ataca outros aspectos interessantes do que já aconteceu e acontece na História.  É “loooongo”,  é “óóótimo”!!!. Eu Leria.

Ataques a Homossexuais – Sintomas Curiosos

Frente aos acontecimentos ocorridos em nossa mais paulista de nossas avenidas – o ataque de jovens contra outros jovens homossexuais – apresento algumas considerações. 

Primeiro sobre o ataque;  segundo, sobre a defesa.

Numa leitura fenomenológica compreensível, talvez superficial pela empatia parcial, pois não conheço os protagonistas, entendo que os atacantes partiram de suas convicções homofóbicas e atacaram, aqui entendido por INVADIRAM, os outros jovens.
 

O conceito de INVASÃO baseia-se na conceituação de Jorge Rinavera, em seu trabalho “Núcleo Del Yo y conduta psicopática”:

A conduta psicopática é produto de uma carência de respostas adequadas em um indivíduo às normas sociais de seu grupo, provocando a reação do meio, que se expressa desde a repressão policial… . Alfredo Correia Soeiro complementa que a conduta psicopática é caracterizada pela invasão da Área Pessoa (o Outro), com suas convicções.
Importante esclarecer que Conduta Psicopática não é sinônimo de Personalidade Psicopática, embora possa estar presente nessa “variante da personalidade normal”, segundo Kurt Schneider.

Aqui, o “atacante” simplesmente desconhece, no sentido de ignorar, a certeza do Outro: como se o Outro, com sua história, seus conhecimentos, suas escolhas, seus anseios e sonhos não pertencessem àquele momento, sequer existissem. Os motivos ideológicos são simples pretextos para a ação, como descreveu Althusser.

Atacante está entre aspas, pois é no sentido amplo da palavra.

E O QUE FORAM A CATEQUIZAÇÃO DOS NOSSOS ÍNDIOS, AS CRUZADAS???

Esse enredo é conhecido de longa data e em todos os níveis de nossa sociedade, podendo ser facilmente identificado em situações variadas, impregnando nossa cultura independente do espectro socio-econômico.
As primeiras notícias desse comportamento invasivo data da época do descobrimento quando religiosos jesuítas “catequizaram” os nativos, em nome de um Deus único. Mas não é novidade e, em uma simples leitura dos Livros Sagrados, pode-se identificar como invasões ocorreram sistematicamente. Com as Cruzadas não foi diferente, partindo do discurso de um padre, Bernardo, que se tornou Santo por este motivo.

Desde então, não se parou mais, podendo ser identificado com facilidade nas chamadas guerras entre torcidas: se você, leitor, for palmeirense, por exemplo, não se atreveria a ficar sentado no meio da torcida do Corinthians e torcer pelo seu time… seria invadido, ou melhor, no mínimo massacrado!!!

Em termos de país, a Legislação vigente é outro exemplo de “invasão”: as regras tributárias dão sustentação legal a um verdadeiro assalto a nossos bolsos, para sustentar um Estado incompetente, perdulário e corrupto. Maílson da Nóbrega noticia – Veja em sua Edição 2195 – que uma empresa brasileira consome 2.600 horas para pagar tributos, contrastando com 320 na Rússia, 258 na Índia e 398 na China, respaldado pelas modificações impetradas pela Constituição de 1988.

Exemplos outros em qualquer nível da sociedade  não faltam e, o mais grave dessa situação horrorosa é que se forja no povo brasileiro A MORAL DA INVASÃO, desde a mais tenra idade.
1984, Admirável Mundo Novo, Fahrengeit 453 e Big Brother

Como psiquiatra infantil, impressiona-me pela simplicidade lorpa a noção que brinquedos de armas provocariam agressividade em crianças: absolutamente não… é o enredo que as nossas crianças assistem, e vivem, que modela o referencial da INVASÃO, construindo os Sentimentos Morais, às vezes chamados de Superego.

Embora possa ser constrangedor, entendo que uma mãe, ao presentear sua prole com um aparelho celular que tenha um sistema de GPS incluído, estará praticando uma Invasão de Privacidade. Mas não terá que se preocupar, ou se sentir culpada, pois as últimas gerações de crianças já estarão preparadas para aceitar qualquer Invasão,  pois foram  devidamente “catequizadas” pelos Orkut ou Facebook dos dias “modernos”.

A indignação, despertada pela leitura de “1984”, “Admirável Mundo Novo”, “Fahrenheit 453” e outros, perdeu-se nas últimas décadas pela substituição de “Big Brother Brasil” e outros representantes de uma cultura menor.

É lamentável, mas não posso ignorar que os tempos modernos são a escola da Moral Invasora.

Deixo de lado, para não me estender, as componentes econômicas/capitalistas, que também estão presentes nessa dinâmica perversa e que, pessimistamente, considero  sem volta.

ROUSSEAU ERROU???

Em segundo momento teço considerações sobre o Defender.

Rousseau achava que o homem nascia puro e a sociedade o corrompia. Como não devia entender de gente, e muito menos de Etologia, o que ocorre é justamente o contrário: são as regras do grupo que mantém o homem na linha. Aliás,  esta é a concepção sociológica, defendida por muitos, que se contrapõe ao conceito de Superego, da Psicanálise, que não é universalmente aceito, incluso o de Inconsciente. Recentemente apresentei aqui mesmo no “BOCA NO TROMBONE” tema denominado por “Em defesa de um certo Medo”, discorrendo sobre esse fenômeno social, no âmbito da educação infantil. Ver http://bocanotrombone.ig.com.br/2008/04/30/em-defesa-de-um-certo-medo/
Indignação ou Estagnação…

Assim, desde muito, as regras dos grupos humanos eram aceitas e respeitadas, havendo a transcrição no Código de Hamurabi, com a Lei de Talião, depois com os mandamentos de Moisés e mais tarde as codificações religiosas várias. Essas regras morais produziriam um certo grau de inibição ao comportamento invasor.
Por outro lado o invadido teria como se defender desse movimento, respaldado, hoje em dia, pela Declaração de Direitos Humanos, a Constituição da República, os Códigos vários, com suas Leis, Jurisprudência e Usos e Costumes.
Só que isso só funciona no papel, na teoria, como qualquer brasileiro sabe, ao viver no “país da impunidade”… e o invasor sabe disso. A Lei “Maria da Penha” está aí e as mulheres continuam sendo barbarizadas e mortas (invadidas), na sombra da Lei.
Políticos passam por cima delas, sejam as que normatizam os gastos públicos, sejam as eleitorais, sem nenhum constrangimento.
É por esta constatação que me faz descrente de mudanças em curto ou médio prazo. Ocorre-me  aqui lembrança do jornalista Mino Carta No programa Roda Viva, da TV Cultura, Mino  afirmava  que levaríamos 250 anos para atingir um grau satisfatório de moralidade.
A não ser que nos indignemos!!!

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*Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra
Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama