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Para Ensinar, Carinho e Genrosidade

Mil anos atrás (mais de duas décadas, ou o tempo pára ou dispara), alergia tomando conta do meu corpo,  esperava na sala de espera lotada  do dermatologista que a secretária me encaixasse entre uma consulta e outra.

Sentadas à minha frente, uma menininha de uns seis anos e a avó com um livro tentando enfiar  para dentro do cérebro da garota  a tabuada de alguns números. Tava na cara de todo mundo que aquilo não ia funcionar.   A avó se irrita, a menina se entristece.  Desistem…

Lembrei-me da minha infância e como era doído ter que aprender as coisas daquele jeito, não sabendo  o porquê, simples decoreba.

E, sem ter a menor noção do que faria, por pura “solidariedade projetiva”, chamo a menina e peço que traga as desafiadoras tabuadas.  Eram, me lembro bem, a  do dois,  do 5 e mais uma ou duas.

Pergunto se ela sabia contar de dois em dois.   Ela me diz que sim. Mostro que essa tabuada estava resolvida.  Bastava ir contando de dois em dois e a cada contada marcar um número com os dedos.  O número em que ela parou era aquele que estava multiplicando o dois.
Dois, quatro, seis – 3º dedo significa 2×3. E assim por diante. Mostrei que todo número multiplicado por 2 daria resultado par (ela sabia o que era)  .  A do 5 expliquei que todo número multiplicado por 5 daria um resultado terminado por 5 ou 0.  Expliquei que, com o tempo, ela teria que decorar as tabuadas todas.  Quanta às dos outros números, mostrei que se ela decorasse algumas intermediárias era só somar ou diminuir.  Assim, se ela soubesse que  7 x 5 era 35; 7×6 – bastava contar nos dedos 36, 37… era 42.

Menos de meia hora depois, a menina  foi entendendo o mecanismo da coisa;  eu perguntando e ela respondendo tudo certo.

Admirada, a secretaria do médico pergunta se sou professor de matemática.  Respondo que não; apenas que sabia lidar com crianças.

A menininha me estende a mão para agradecer.  Deu em mim muita felicidade ver o alívio e o orgulho estampados no seu rosto, por conta da carga que havia sido tirada de seus ombros e mente. 

A uma altura dessas na vida,   já está formada, com filhos nas primeiras séries e, quiçá,  ensinando tabuada através daquele método.