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Dia Gostoso

Talvez uma boa definição para dia gostoso seja aquele dia em que você não teve tempo para pensar se o dia foi bom ou não.

Hoje, acordei, café  rápido na Padaria, encontrei-me  em estação do Metrô, do outro lado da cidade, para ir a um Churrasco,  com o amigo Vlado Lima.  Aliás, os amigos eram do Vlado; ele que me convidou para o churrasco.

Churrasco Prefeito,  Costela deliciosa à moda gaúcha no fogo de chão.  Cerveja de gente (gelada em freezer)  – Original –  não essas águas sujas de hoje em dia, exceto a Heineken (entre as famosas).

Agora, 21,14 hs.  Espero que a noite siga nessa toada!!!

Gay Facebook – Desconfio de que Estou Fazendo “Relevante” Descoberta

Nada tenho contra gays, quaisquer minorias e também maiorias.   Como já afirmei aqui,  quase a totalidade daqueles que conheço, bem como, suponho, toda a humanidade é constituída por pessoas do bem.  E eu gosto de todo mundo.

Dito isso,  lá vai.

Talvez eu tenha sido um dos primeiras sujeitos  a perceber, décadas atrás,  que os gays (que naquele tempo nem eram chamados gays), em geral, ao se referirem a outro homem, falavam P E S S O A, mesmo que não houvesse qualquer relação de sexo com  a tal  P E S – S O A.

Pois bem,   acho que estou fazendo outra descoberta, que vai mudar a história da humanidade (risos).

Conheci pessoalmente um cara muito legal, engraçado e divertido, eu o via com bastante regularidade.  Para mim, nada tinha de gay e, repito, a opção sexual do cara não é de relevância ínfima.

As postagens dele no Facebook, entretanto,  me fazem desconfiar de que ele é homossexual.  Não é que ele poste fotos de homens bonitos e musculosos.

É o tipo de coisa que ele posta.

Veja e discorde de mim se for capaz.

  • Celebridade x comprou casa nova.
  • Fez questão de ser um dos primeiros a informar  que dois casais mundialmente famosos estavam se separando.
  • Que existe por aí uma babá que destrói lares
  • Casal de celebridade comemora aniversário dos filhos pequenos em buffet famoso
  • Sobre o “look” de uma atriz
  • Informou que acabara de começar determinado Programa de entrevistas comandado por celebridade  muito gostosa, e famosa  por se casar com milionários e saber escolher a dedos no Planeta Inteiro o Pai de sua “Produção “Independente”;  lógico – com pensão milionária, pingando todos os meses.
  • Que Xuxa Convocou Imprensa para Falar de seu novo Programa

As fofocas, mais fofocas mesmo,  são repetidas diversas vezes.

Óbvio que não vou dar o endereço do facebook da fera para vocês conferirem.

Mas que eu acho que estou sendo um dos primeiros a perceber que se pode reconhecer gays pelo facebook, acho que estou mesmo.

Vantagens disso???

Nenhuma, a não ser que proporcionou esse textinho divertido e que talvez os leitores do Trombone passem  praticar o instigante  exercício de descobrir se o cara é gay pelo tipo de coisa que ele posta no Facebook.

E antes de alguém, estabanada e afobadamente, me acusar de preconceituoso, é bom reler a primeira linha desse texto, combinado???

Tenha a Paciência!!!

Pesquisando assunto de meu interesse econômico no Google,  dei de cara (de olhos) com novo verbo – pelo menos para mim:  Propinar*!!!

Sobre inventar termos ou até neologismos, sempre digo que grandes escritores, quem escreve com assiduidade,  tem licença para tal,  mas que não é do ramo…

Profissionais jovens adoram!!!  Eu abomino** os terminhos e quem os repete!!!

Lógico que a Língua é dinâmica e caminha, mas acho que só o povo e quem sabe pode empurrá-la pra frente.  O resto, ao tentar,  a tornam pesada, redundante e de tal  sem gracismo…

Sem gracismo???  Sim,  julgo que eu possa.  Talvez seja pretensão minha,  mas da minha boca jamais vão sair gerundismos e outras barbáries!!!  Nem repetidas, menos ainda na tentativa de ser original.

Quiser ler aqui no Boca sobre alguns outros absurdos nesse setor,

Clique aqui Rico Vocabulário 

Clique aqui Rico Vocabulário 2

Clique aqui 3  e divirta-se muito com Peça de Lúcio Mauro Filho em que ele passa o espetáculo inteiro só falando chavões

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* O verbo Propinar existe no sentido de: “dar a beber, ministrar, administrar”.  Mas dar propina (suborno) – pra rimar- nem pensar!!!

* *Abomino essas pessoas só no momento em que falam tais barbáries.  Por mais que ame o Português, não vou cultivar ódios em seu nome!!!

Tombos de Sóbrios e de Bêbados

Post muito particular esse, mas tem aspectos interessantes do meio pro fim e, para não perder o costume, piada  encerrando.  Não vale ir direto pra piada, viu???

Ontem ao entardecer, ofereci-me para levar, da casa onde estávamos até o carro da palestrante, uma caixa de livros..  Além da caixa,  carregava duas pastas, um caderno grande e mais um livro.  A caixa de livros ia até a altura do meu queixo, dificultando muito a visão.

A casa, na “ladeirenta” Rua Cardoso de Almeida, Perdizes, Zona Oeste de S. Paulo,  tinha uma grade sobre uma laje e um portão.  Antes de você “desembarcar” na calçada, havia um degrau.  A pilha de livros me impediu de ver o degrau; resultado, belo tombo, esparramando livros e meus cadernos para todos os lados.  Não me machuquei, tampouco rasguei a roupa.  E aí lembrei-me de  razoável contribuição minha para a psicanálise, modéstia à parte.

Meu psicanalista,  no final da década de 70, começo da década de 80, me explicava que há muito mal entendidos entre os homens porque a linguagem é coisa relativamente nova.  O homem caminha sobre duas pernas há milhares e milhares de  anos.  E fala há bem menos tempo.

O andar, dominamos perfeitamente, já o falar…

Agora, minha contribuição.

É frequente presenciarmos diversos tipos de mal entendidos, entre a família, com os amigos, vizinhos, entre diplomatas, presidentes;  enfim, por todos os lados.

Agora, a gente passa anos, décadas, cruza com milhões de pedestres pelas esburacadas calçadas  e não vê pessoa alguma  levar  tombo, mesmo assistindo a esportes na TV.  Corrigindo, quem estava no fim da Cardoso de Almeida, por volta das  17,30 de ontem  assistiu a um belo tombo.   De qualquer forma, certamente quem presenciou meu tombo espetacular não vai  ver ninguém mais cair por décadas e décadas, talvez nunca mais em toda sua vida.

Bem, a merecida piada.

Bêbado estava com a garrafa de pinga  no bolso e caiu.  Começou a escorrer líquido por sua perna.  Ele passa a mão e diz:

– Tomara que seja sangue!!!

Comportamento Esquisito dos Que Dizem Gostar de Animais…

Curiosas as pessoas que dizem gostar de animais.  Veja o que estava no facebook.

“Procuro uma família amorosa pra esse príncipe gato, meigo e comportado, que resgatei hoje. Não posso ficar com ele porque tenho duas gatas e meu apto é bem pequeno. Vou providenciar os cuidados básicos, portanto já será vacinado e até castrado. Havendo interesse, mande mensagem inbox!”

Detesto que cachorros venham cheirar minha canela na rua ou que fiquem latindo compulsivamente.   Curioso que só cachorro de  madame e “madamo” têm esses comportamentos – latir compulsivamente e cheirar canelas.  Vira-latas jamais  perturbam pessoa alguma.

Sem contar que os madamos e madames, que se acham politicamente corretos, recolhem merda de cachorro da calçada.  Quanto à urina…  A respeito disso, tenho frase definitiva:

Politicamente correto e socialmente justo não é sair com cachorro na rua e saquinho para catar merda.  É fazer o bicho cagar em casa.

Em tempo, acho de muito mau gosto tratar de assunto “excretivos”.  Mas sou obrigado a isso, por conta da falta de educação e de cidadania  de muitos.

Voltando aos que “gostam de animais domésticos e ainda se acham politicamente corretos”.  Gostam de animais, mas mandam castrá-los!!!

Ora,    deveriam comprar bichinhos de pelúcia, movidos à corda ou pilha.   Não agrediriam à natureza, não desrespeitariam  os que querem andar na calçada sem ter canelas fuçadas; e, a quanto à questão ecológica, não gastariam saquinhos de plástico (poluentes ou não, demandam matéria prima para serem produzidos).  Se o bicho cagasse ou mijasse no sofá ou tapete de casa, o problema seria do dono da casa e do bichinho.  É bíblico: “quem pariu Matheus que o Embale”.  É questão de cidadania: quem quer um cão,  que fique também com o cocô e a urina em casa e não os socialize pelas calçadas.

Isso sem contar  aqueles que compram animais filhotinhos; quando ficam velhos,  seus caridosos donos os abandonam nos Parques da Cidade.

Se já vi alguém abandonando bicho???

Não, nunca vi.  Mas se essa prática não fosse comum, certamente não haveria avisos em Parques  pedindo que não se abandonem gatos e cachorros ali.  Você nunca viu qualquer comunicado/anúncio/placas  do DSV – Pedindo que Motoristas não Abandonem Mercedes Zero Km estacionados em locais permitidos, ou já viu???

Quem é que tem comportamento mais benéfico com os animais???  Eu que não quero contato com eles ou aqueles que dizem amá-los, mas os castram e os abandonam ao primeiro sinal de velhice????

Finalmente, note que na mensagem do FACEBOOK  que a autora ainda quer se atribuir virtudes  heroicas,  ela escreve que  R E S G A T O U!!!

Que virtude, que coragem,  que resgate, hein!!! ???

Parece que  as pessoas perderam completamente a noção do bê-á-bá do mais óbvio ululante!!!

Não Fui O Premiado, Mas Também não Fui Punido Severamente…

Quando se joga na Mega-Sena, o primeiro desejo é óbvio: ser o único a acertar os seis números.

O segundo é que ninguém ganhe o prêmio para que acumule e, três, quatro, dias depois, você possa ter seu óbvio desejo novamente.

Estava tudo indo bem.  Por três ou quatro sorteios seguidos, meu segundo desejo se realizando. Por fim, vi que apenas  um único apostador acertou os seis números no concurso 1721 e levou mais de R$ 36.000.000,00.

Pensei: quem sabe não fui eu!!!

Pois não é que não encontrei de maneira alguma o meu volante!!!

Lógico que Deus e o Destino não premiam a bagunça, o caos.  Mas também não punem com tanto rigor.

Na Internet, descobri que o prêmio saiu para bilhete vendido em Itapevi.  E ainda que os 188  bem menos sortudos ganharam cerca de R$ 15.000,00  por terem acertado a quina e  a quadra pagou  R$ 400,00.    Nenhum dos dois prêmios resolveria minha vida.

O justo: Deus e o destino não punem severamente os bagunceiros.

Já se o bilhete premiado tivesse sido vendido em Lotérica de Santa Cecília, passaria o resto da vida com 15 pulgas atrás de cada orelha…

Escrevi isso à mão, sentado à mesa de um Café, em folha de papel que gerente de outra loja me deu.

Jurei que minha próxima compra seria uma carteirinha de plástico, onde  guardaria sempre o volante da Mega-Sena e essa carteira ficaria na gaveta menos caótica  do criado mudo.

A carteirinha com o volante já está lá, pois   Deus e o Destino não vão me poupariam uma segunda vez…

Semana de Doze Dias Ninguém Aguenta!!!

O último sábado passei o dia inteiro até umas nove  horas da noite  escrevendo. Domingo, boa parte do tempo montando o que eu escrevi com o que outro amigo escreveu.  Não, não era nada desses textinhos leves  que posto aqui para roubar risos rápidos de vocês.  Era assunto técnico e  árido (“árido e técnico talvez seja pleonasmo”.*  Pleonasmo é coisa redundante: água  molhada, fogo quente).

Com tudo isso, ou seja sem sábado e  também sem domingo, a sensação que tenho é que já estou na quinta-feira da semana que vem.

O que me animava é que tinha churrasco marcado com amigo, que é mais do que irmão, para o próximo sábado. O churrasco foi suspenso.

Fazer o que???

Fazer qualquer coisa que não seja escrever sobre assunto chato no fim de semana.  Adoro esse meu teclado,  que já está até com várias letras apagadas, de tanto que eu uso,  mas sábado e domingo quero me afastar um pouco dele.   O ideal seria uns 300km em bela praia por uns quinze dias.  Mas ainda que fique aqui e nem saia do meu bairro, importante é manter distância do monitor.  Escrevi monitor para não deixar o teclado com complexo de rejeição!!!

Torçam por mim!!!

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* Explico (“árido e técnico” talvez seja pq considerei  um só pacote; daí seja e não sejam).  Parece que nem os textos terminam  nessa semana de doze dias.)

Mundo Esquisito, Esse de Hoje!!!

Antiquado ou Formal demais???

O que é que eu sou?

Mil anos atrás, meu querido sobrinho Felipe estava aprendendo adjetivos na Escola. Chegando em casa,  não teve dúvidas e disse para os pais:

– Fulano é isso, a vovó é  romântica e o Paulinho é um clássico.

Lógico que eu prefiro ser clássico, a antiquado ou formal em demasia.

O fato é que esse mundo de hoje eu não consigo mesmo entender.

Tive um belo trabalho para comprar presente absolutamente útil, com peças sobressalentes, inclusive, e também para deixar o pacote,  embalado em bonito  papel de presente, comprado em outro lugar,  na portaria do prédio de uma amiga; foi trabalhoso entregar, pois era rodízio do meu carro;  fui a pé, cerca de  dois km para ir e dois para voltar.

E ela???

Ora, limitou-se a responder em quatro linhas pelo Facebook, note-se que linhas do facebook são mínimas.

Comentei com meu excelente (eu e minha abundância de adjetivos) terapeuta, dizendo não ter gostado.  Ele concordou e  também acha errado agradecer pelo facebook, mas disse que o mundo tá assim mesmo e que isso não é nada demais.

Posso, como bem disse meu sobrinho, ser um clássico, mas que esse mundo tá absurdamente  esquisito, não dá para negar, dá???

Escrever Difícil; Ora, é Muito Fácil!!!

No auge do gerundismo, praga que assolou o idioma há uns doze anos (vou estar telefonando,  por exemplo), li texto  com o seguinte  título:  É fácil falar difícil.  O articulista, além dessa maldição  vigente, dava outros exemplos.

Isso para dizer que  conhecido meu, cara inteligente e culto,  escreveu email para mim,   informando onde deixara a  encomenda que eu lhe havia feito.

Pois bem,  o escrever difícil é muito  fácil para o cara.  Pena que ler o difícil não é fácil o suficiente para mim.  Resultado:  não consegui entender coisa alguma.

Mandei email de volta.  Na Linha do assunto, continuando o que ele escrevera, acrescentei: Faltou-me acuidade.  No texto, de certa forma,  “peço desculpas”  pela  limitação deste escriba!!!

A FALTA QUE ELA FAZ TAMBÉM PARA MIM

Crônica do Fernando Sabino excelente tem o título  A Falta que Ela me Faz.  Acho que li no Ginásio.  Curioso é que esse ELA não se refere a ex-namorada, ex-mulher, ou ex-amante.  Refere-se  à empregada dele.

Pois bem,  minha querida empregada Rosa casa-se depois de amanhã.  Hoje foi o último dia dela, antes de férias de mais de um mês que  vai tirar.

E eu já estou sofrendo por antecipação.

Amigos da Faculdade me mandaram email propondo que nosso próximo  encontro periódico fosse na minha casa com Comidas de Botequim.  Adoro Comidas de Botequim, mas, como a Rosa não estará aqui, pedi  que se adiasse a coisa.  Ela deixou a geladeira cheia de pratos gostosos e acompanhamentos preparados.  Mas hoje, o  jantar vai ser pães com queijo, para economizar louça.

Delicie-se com  a Crônica de Fernando Sabino e já fique imaginando como estarei nas próximas semanas!!!

A FALTA QUE ELA ME FAZ

 

Como bom patrão, resolvi, num momento de insensatez, dar um mês de férias à empregada. No princípio achei até bom ficar completamente sozinho dentro de casa o dia inteiro.

Podia andar para lá e para cá sem encontrar ninguém varrendo o chão ou espanando os móveis, sair do banheiro apenas de chinelos, trocar de roupa com a porta aberta, falar sozinho sem passar por maluco.

Na cozinha, enquanto houvesse xícara limpa e não faltassem os ingredientes necessários, preparava eu mesmo o meu café. Aprendi a apanhar o pão que o padeiro deixava na área ” tendo o cuidado de me vestir antes, não fosse a porta se fechar comigo do lado de fora, como na história do homem nu.

Esticar a roupa da cama não era tarefa assim tão complicada: além do mais, não precisava também ficar uma perfeição, já que à noite voltaria a desarrumá-la.

Fazia as refeições na rua, às vezes filava o jantar de algum amigo e, assim, ia me aguentando, enquanto a empregada não voltasse. Aos poucos, porém, passei a desejar ardentemente essa volta.

O apartamento, ao fim de alguns dias, ganhava um aspecto lúgubre de navio abandonado. A geladeira começou a fazer gelo por todos os lados ” só não tinha água gelada, pois não me lembrara de encher as garrafas.

E agora, ao tentar fazê-lo, verificava que não havia mais água dentro da talha. Não podia abrir a torneira do filtro, já que não estaria em casa na hora de fechá-la, e com isso acabaria inundando a cozinha.

A um canto do quarto um monte de roupas crescia assustadoramente. A roupa suja lava-se em casa ” bem, mas como” Não sabia sequer o nome da lavanderia onde, pela mão da empregada, tinham ido parar meus ternos, provavelmente para sempre. E como batiam na porta!

O movimento dela lá na cozinha, eu descobria agora, era muito maior do que o meu cá na frente: vendedores de muamba, passadores de rifa, cobradores de prestação, outras empregadas perguntando por ela.

Um dia surgiu um indivíduo trazendo uma fotografia dela que, segundo me informou, merecera um “tratamento artístico”: fora colorida à mão e colocada num desses medalhões de latão que se vêem no cemitério. ” Falta pagar a última prestação disse o homem. Paguei o que faltava, que remédio”

Sem ao menos ficar sabendo o quanto a pobre já havia pago. E por pouco não entronizei o retrato na cabeceira de minha cama, como lembrança daquela sem a qual eu simplesmente não sabia viver.

Verdadeiro agravo para a minha solidão era a fina camada de poeira que cobria tudo: não podia mais nem retirar um livro da estante sem dar logo dois espirros. Os jornais continuavam chegando e já havia jornal velho para todo lado, sem que eu soubesse como pôr a funcionar o mecanismo que os fazia desaparecer.

Descobri também, para meu espanto, que o apartamento não tinha lata de lixo, a toda hora eu tinha de ir lá fora, na área, para jogar na caixa coletora um pedacinho de papel ou esvaziar um cinzeiro. Havia outros problemas difíceis de enfrentar.

Um dos piores era o do pão: todas as manhãs, enquanto eu dormia, o padeiro deixava à porta um pão quilométrico, do qual eu comia apenas uma pontinha ” e na cozinha já se juntava uma quantidade de pão que daria para alimentar um exército, não sabia como fazer parar. Nem só de pão vive o homem.

Eu poderia enfrentar tudo, mas estar ensaboado debaixo do chuveiro e ouvir lá na sala o telefonema esperado, sem que houvesse ninguém para atender, era demais para a minha aflição.

Até que um dia, como uma projeção do estado de sinistro abandono em que me via atirado, comecei a sentir no ar um vago mau cheiro. Intrigado, olhei as solas dos sapatos, para ver se havia pisado em alguma coisa lá na rua.

Depois saí farejando o ar aqui e ali como um perdigueiro, e acabei sendo conduzido à cozinha, onde ultimamente já não ousava entrar. No que abri a porta, o mau cheiro me atingiu como uma bofetada. Vinha do fogão, certamente.

Aproximei-me, protegendo o nariz com uma das mãos, enquanto me curvava e com a outra abria o forno. ” Oh não! ” recuei horrorizado.

Na panela, a carne assada, que a empregada gentilmente deixara preparada para mim antes de partir, se decompunha num asqueroso caldo putrefato, onde pequenas formas brancas se agitavam. Mudei-me no mesmo dia para um hotel.

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Se eu estivesse com as finanças equilibradas, também não pensaria duas vezes e me mudaria para Hotel;  e, principalmente, antes de que minha vida chegasse a esse caos e eu, cá, sem o talento do Sabino para transformar a desgraça em deliciosa crônica.

Amigos, desejem-me boa sorte, ou até sofrimento tênue!!!

Rosa, volta logo!!!