Arquivo da categoria: Crônicas

Pressa, Avião e Computador.

De 22.07.07

Caos, transtornos e atrasos nos aeroportos (não estou falando de tragédias) tornam mais do que atual antigo provérbio da Aeronáutica: QUEM TEM PRESSA NÃO VAI DE AVIÃO.

Há alguns anos estava comentando com um amigo que, salvo engano, tem Brevê (licença para pilotar aviões) e sobreviveu a um pavoroso desastre aéreo, os problemas freqüentes de quem usa avião e quão verdadeiro era o provérbio. Disse-lhe que sempre ouvia no rádio que tal ou qual aeroporto estava fechado e que os pousos foram transferidos. Falei que ficava imaginando o sujeito que pegou o avião de manhã em S. Paulo para um encontro com o Ministro no começo da tarde, em Brasília, chegaria atrasado. Meu amigo me disse que tal provérbio era ultrpassado e me lembrou que quem tem encontro com autoridade importante viaja sempre na véspera.

Disse a ele que essas providências e cuidados eram a prova definitiva de que avião é mesmo para quem não tem pressa; o ditado está certo.

Viajei cerca de oito vezes em aviões particulares. Apenas uma vez fui e voltei como era previsto. Nas outras, sempre ocorreram problemas – desde excesso de neblina a defeitos insignificantes em ínfimas peças do aparelho – que me obrigaram a voltar por outros meios – . Há cerca de 20 anos, fui para Foz do Iguaçú no avião do meu saudoso irmão Beto. De Foz do Iguaçú, decidimos ir ao Paraguai. Essa viagem foi na mesma semana em que Somoza fora assassinado naquele país. Cautelosos, nos comunicamos através do Rádio com o Paraguai para saber se não haveria problema para o pouso. Garantiram que não teríamos qualquer problema. De fato, não houve qualquer problema para pousar. Assim desembarcamos, nos informaram que o avião não poderia levantar mais vôo até que situação se normalisasse.

Fomos obrigados a pegar vôo de de carreira para voltar ao Brasil e – passada a crise – o piloto foi ao Paraguai para trazer o avião.

Resultado: Gastei nessa viagem de menos de uma semana mais do que um conhecido meu havia gasto na época para passar quinze dias em Paris.!!!

Computador não é muito diferente. Quando você tiver que preparar ou imprimir qualquer documento importante, trate de fazê-lo com muita antecedência. Como na aviação, faça-o na véspera.

Frasista, mais uma vez cito frase minha:

“Quem tem pressa não vai de avião” e nem usa computador.

Desejo para nós todos uma semana sem estresses – quer os causados pela informática, quer os da aeronáutica!!!

SÔNAMBULAS E ESPAGUETE ALHO E ÓLEO

De 27.06.07

Todo mundo tem seus quinze minutos de glória, não é o que dizia o Andy Waroll??? Ele teve muito mais do que isso, praticamente uma vida brilhando. Não passo a vida brilhando, mas também não tive apenas quinze minutos de glória, graças a Deus!!! Sem contar que ainda não morri e vou ter inúmeros momentos fabulosos.

Já deu para perceber que gosto muito de duas coisas: frases, gastronomia/comer bem.

Há cerca de quatro meses, outros caiubistas e eu passamos fim de semana agradabilíssimo em um sítio em Joanópolis, terra do Lobisomem. Caiubi é o clube de compositores/escritores/poetas em Pinheiros, S. Paulo, do qual sou sócio. – http://clubecaiubi.com.br .(Em tempo, sexta-feira- 29/12 – depois de amanhã – tem Sopa de Letrinhas, grande Noite tropicalista a partir das 21 hs – vejam no site e apareçam). Voltando ao sítio; no sabadão, churrasco. Tava bom, faltou o Juka do Rossa Nova, dos caras mais talentosos que já vi comandando um churrasqueira, mas o churrasco tava realmente bom.

No domingo, continuou o churrasco. Embora seja contra minha religião comer qualquer outra coisa – além de saladas de folhas, farinha ou farofas – com churrasco, pediram que eu fizesse macarrão Alho e óleo. Eu havia levado os ingredientes, mas tive que usar uma panelinha perdida na cozinha do sítio de menos de quinze centímetros de diâmetro para cozinhar o macarrão para umas oito pessoas. Cozinhei sem quebrar os fios, já que não sou herege. Ficou bem legal. Comentei brincando, a propósito de ter conseguido cozinhar tudo aquilo na minúscula panelinha:

– Fiz o milagre da multiplicação do macarrão!!!!!!!!!!!!!

Pois bem, domingo à noite permanecemos no sítio apenas o Vlado Lima – músico, poeta e escritor talentosíssimo, o rei da irreverência, mentor/apresentador do Sopa de Letrinhas, sua mulher – Selma, Pedro e Lucas, os filhos deles e eu. Lá pelas tantas, Vlado propõe:

– Paulinho, cê não quer fazer outro macarrão igual ao do almoço????

Há mais de vinte anos, um conhecido estava revoltado narrando a última perversidade que uma chefete sapatona havia praticado, aí um colega de trabalho emendou com outra arbitrariedade de outra chefete, também sapatona.
Um deles concluiu:
– Ih, ali são duas sonâmbulas que devem se encontrar todas as noites sonambulando pela cidade!!!!!!!!!!!!!

Fazer frases a partir de frases que já existem, a partir de provérbios, é das coisas que me divertem muito (aliás, como digo, é até meio covardia – é muito fácil).

Automaticamente emendei:

– Não é a noite que é pequena, as sonâmbulas é que são poucas.

Uma boa e, infelizmente, ultra verdadeira frase minha diz – Não é o mundo que é pequeno, os ricos é que são poucos.

Alguém comer duas vezes o mesmo prato que eu fiz no mesmo dia e fazer uma frase nova em cima de outra frase minha foram dois momentos legais meus de frasista e de pseudo chef amador. Xeroquei a receita, dei uma cópia pro Vlado e outra para o Ricardo Soares, cantor compositor do Caiubi que ganhou o primeiro prêmio do Festival de Música da TV Globo de 2000 com Tudo bem, meu bem!!!!!!!!!!. Ricardo também estava no sítio e elogiara muito o macarrão. Encontro-me com ele todas as semanas e ele me diz que freqüentemente repete o espaguete alho e óleo.

Espero que o espaguete alho e óleo feito a partir da receita abaixo agrade tanto você quanto agrada o Ricardo e o Vlado e que minhas duas frases não fiquem devendo muito ao macarrão.

Espaguete Alho e Óleo para duas Pessoas
Revista Gula, Antônio Houaiss e Eu.

Observação Inicial 1– A Receita da Gula manda usar pimenta Peperoncino a gosto. A do Antônio Houaiss fala em pimenta calabresa. Peperoncino encontrei há algum tempo no Santa Luzia. Há três meses, voltei lá e não havia mais. A Pimenta Calabresa, entretanto, dá bem conta do recado e se encontra em todo lugar.

Observação Inicial 2 – Acender o forno, deixar quente. No meio do cozimento da massa, desligar o forno e colocar dois pratos fundos para aquecer. Quando for pegar o prato fundo, cuidado se ele estiver muito quente. Pegar com pano de pratos ou luva própria.

Observação Inicial 3 – Deixe a mesa colocada com o prato raso de refeição e – em cima, um guardanapo pequeno de papel. O prato fundo com a massa fica em cima desse prato. O guardanapo vai impedir que o prato fundo fique dançando. Esse truque pode ser usado sempre.

Como eu digo, Tio Paulinho é cultura, todo tipo de cultura, principalmente “frasísitica e gastronômica” !!!!!!!!!!!!!!!!!

Passando à receita, propriamente dita.
Ingredientes para duas pessoas

– 250 grs de espaguete
– Sete colheres de sopa de azeite (extra-virgem, se possível)
– 12 dentes de alho cortados em lâminas.
– Pimenta Peperoncino ou Pimenta Calabresa (umas quatro pitadas)
– Sal a gosto
– Quatro colheres de sopa de salsinha – Muito bem lavada, muito bem seca e muito bem picadinha.(dividida em 2 porções). –

Queijo parmesão ralado a gosto.

Modo de Preparar

Fazer Primeiro o molho.

Colocar o azeite e o alho em uma pequena frigideira – fogo médio – e dourar o alho.
Quando o alho começar a mudar de cor, coloque uma das porções de salsinha, a pimenta escolhida e duas pitadas de sal. Misture bem, desligue o fogo.

Cozinhar a massa

Colocar cerca de quatro litros de água para ferver em panela grande/compatível. Colocar cinco pitadas de sal na água.
Colocar a massa toda, fazendo que todos os fios afundem – sem sem quebrarem – Cozinhar a massa al dente.
Enquanto isso, dar uma aquecida no molho.
Escorrer a massa.
Voltar a panela grande para o fogo.
Despejar um pouco do molho na panela, colocar o macarrão, despejar o resto do molho.

Retirar os pratos do forno com cuidado. Colocar a massa e para enfeitar salpicar a Salsinha

Parmesão ralado na mesa para cada um se servir conforme a preferência.

Palavras do Ministro Gastrônomo Houaiss: “Em cada prato pessoal, salpicar o parmesão ralado a gosto. Vinho tinto seco é ótimo, mas cerveja geladinha também vai muito bem. E vai bem – sim, senhor(a) – pão branco crocante”.

Alface bem lavada e bem seca mesmo, poucas rodelas finas de cebola.
Tempero: azeite, vinagre e sal. (se for beber vinho, substitua o vinagre por limão)
Fica excelente para se comer junto em um pratinho ao lado ou, mais prático, para se comer depois.

Postado por Paulo Mayr às 3:43 PM 3 comentários

Comentário da Gastrônoma Célia Svevo e Fórmulas mágicas para tomar Vodca

Célia, jornalista, gastrônoma talentosa, minha colega da ECA, tentou colocar elucidativo comentário que só faz reiterar o que Danuza e o outro expert dizem sobre a quantidade de Martini no Dry Martini. Ela me mandou um email com seu comentário e disse não ter conseguido postar. Seria injusto privar o leitor do Boca do texto da Célia. Lá vai:

Não consegui colocar no seu blog. Mas lá vai:

Reza a lenda que a Rainha Mãe (legendária e mais simpática figura da monarquia britânica, mãe de Elizabeth II) procedia da seguinte forma: gelava o copo com gelo e descartava. Na seqüência pingava algumas gotas de vermute e as descartava igualmente, sacudindo a taça vigorosamente em movimento de centrifugação. Para garantir, é claro, que TODO o excesso sumisse de sua vista. Só então juntava o gim. Então sorvia.
Devia ter suas razões. E viveu alegremente, semi-ébria, até os 101 anos.
Valeu, Célia. Obrigado!!!!!!!!!!!!!!!

Vodca

Não sou grande fã de vodca, entretanto, há duas fórmulas mágicas.
Fórmula 1 ( esta fórmula 1 é mto mais estimulante do que ficar vendo carro passar na TV e ouvir jargões do tipo voando baixo)
Ter sempre no congelador uma vodca de ótima qualidade. Ter os copinhos fininhos próprios. Sexta-feira à noite ou sabadão à noite. Banho tomado, barba feita, porta da frente da casa aberta. Pegar no congelador a vodca. Encher o copinho. Colocar
a Vodca de novo no congelador. Tomar a vodca em dois goles. Sair e trancar a porta.Você não vai bater o carro, nem nada, mas vai se sentir o dono da Noite.

Fórmula 2 (essa eu li em uma entrevista do Thomaz (acho que é assim) Souto Correa.
Diz ele algo como: se você tomar ( eu sugiro o mesmo copinho) às vezes uma vodca com duas gotas de Tabasco, talvez vc viva menos, mas vai viver muito mais feliz!!!!

Não sou grande tomador de vodca, mas super endosso ambas as fórmulas.

Omelete do Santoro e do Ministro; Dry Martini do Juca de Oliveira

De 22.06.07

No filme NÃO POR ACASO, em dois momentos são feitas omeletes (acabei de descobrir no meu Aurélio eletrônico que é feminino – desconfiava, mas achava pedante falar uma omelete). Na peça ÀS FAVAS COM OS ESCRÚPULOS, Bernardo, senador super-ultra corrupto, vivido por Juca de Oliveira, prepara um dry Martini. Tanto a peça quanto o filme são legais.

Do ponto de vista da gastronomia e coquetelaria,entretanto, a produção do filme mostra-se muito mais cuidadosa. Sei que ninguém vai ao cinema ou teatro prestar atenção ao que os atores/personagens comem ou bebem. Também não fui para isso; de qualquer forma, é divertido escrever (espero que ler também seja) sobre o tema. Aliás, pode ser até didático, já que no final deixo receita de omelete e dry Martini fabulosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Não vejam aí falta de modéstia, pois não sou eu o autor/idealizador de qualquer das duas fórmulas mágicas – nem da omelete, muito menos do dry Martini.

Logo no começo do filme, a personagem da mulher de Pedro, vivido por Rodrigo Santoro, prepara uma omelete e dá, de mão beijada, o grande segredo, em geral sempre boicotado por ciumentas cozinheiras quando passam a diante suas receitas. O segredo, nesse caso, é um mero detalhe que fará toda a diferença no resultado final. Didaticamente, a personagem explica que é fundamental bater as claras sem as gemas (estas serão apenas misturadas no final muito suavemente), o que garantirá uma leveza especial como se fosse um suflê, faz questão de frisar a simpática e bonita atriz. Ainda para garantir mais leveza, quando as beiradas já estiverem cozidas devem ser levantadas para que o ar penetre embaixo da omelete.

O primeiro detalhe (bater as claras separadas das gemas) eu aprendi com Maria Alice Neves, zelosa quituteira amadora, amante da boa cozinha, amiga da mulher do meu pai. Mas também paguei legal o truque. Xeroquei e enviei para Maria Alice uma receita de Rabanadas que não existe igual no Universo. Fazer rabanadas, não faço. Aí já deixaria de ser gastrônomo amador para me transformar em quituteiro. Nada contra, mas do jeito que sou desajeitado, não teria o menor sucesso. De qualquer forma, quem tiver interesse, deixo aqui o endereço da receita http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2112200637.htm

Quem não conseguir acessar, pode procurar na Folha de S. Paulo do dia 21/12/06 pag E6 – Ilustrada. Reiterando: não existe Rabanada igual no Universo.

O segundo detalhe da omelete, levantar as bordas, foi a Genoefa, amiga e personagem já conhecida dos leitores do Boca no Trombone, que me ensinou. No final do texto, conforme o prometido, a receita de omelete com finas ervas do meu grande e saudoso mestre da culinária, Antônio Houaiss, em quem sempre vou me apoiar aqui nessa coluna que pretende misturar de receitas de comadres com crônicas. Na próxima vez em que for usar receitas do nosso filólogo Houaiss, conto as passagens que tive a honra de ter com ele.

Passemos ao Dry Martini; afinal, nem só de omelete vive o homem, parodiando a gracinha dos anos 60 que, salvo engano, era nem só de caviar vive o homem. Aliás, dry Martini com canapés de caviar deve ficar fabuloso!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Coquetéis que levam bebidas de mesma densidade, como é o caso do Dry Martini, – gim e vermute (Martini) – são preparados em copo misturador – um copão alto (uns vinte centímetros de altura) com boca larga, misturados com uma elegantíssima collher de metal longa, chamada bailarina, jamais em coqueteleira, como erradamente acontece em As Favas com os Escrúpulos. Na peça, o que aconteceu, de fato, foi ÀS FAVAS COM O DRY MARTINI. Dry Martini, conforme diz o nome, é Seco, muito seco. Gelos chacoalhados na coqueteleira transformarão Dry Martini em Dilúvio Martini (com o perdão da gracinha).

E é exatamente aí que entram casos fabulosos de Dry Martini. Conforme se verá, essa bebida se compõe basicamente de gim, todo o resto/excessos é (são) heresias. Juca de Oliveira metralhou o dry Martini em sua coqueteleira.

O médico Flávio Generoso, amante dos coquetéis, disse que um conhecido tinha descoberto a quantidade exata que se coloca de vermute no Dry Martini. Explicava o amigo do Generoso:

– Pega-se uma garrafa de sifão, Noilly Prats, o melhor Martini que existe. Tem que ser sifão e tem que ser Noilly Prat. Coloca-se na garrafa de sifão um pouco de Martini. Vira-se para trás e espirra vermute na parede. É exatamente essa a quantidade de Martini que leva um bom dry Martini.

Danuza Leão é igualmente radical e precisa. Diz ela que a quantidade certa de Martini no coquetel é a seguinte:

– Pega-se o copo misturador com gelo e gim, aproxima-se da boca e sussurra-se: Martini. É o suficiente!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Realmente trata-se de bebida fabulosa. Tenho duas frases que falam desse néctar. Coloco só uma:

– O mundo não é uma grande taça de Dry Martini. Infelizmente.

++++++++++++++++++++++++++++++++++

Lá vão as receitas. Talvez haja excesso de detalhes, mas prefiro errar por excesso, até comprometendo meu texto, a errar por omissão. Um dia conto omissões absolutamente incríveis que encontrei em livros de gastronomia de renomadíssimos autores, inclusive, meu querido mestre Houaiss.

Omelete para uma pessoa

Ingredientes

– 2 ovos crus

– Uma colher de sopa de Salsinha, lavada, bem seca, bem picada

-Meia colher de sopa (até um pouco menos) de cebolinha, idem, idem, idem

– uma pitada de tomilho seco

– uma pitada de pimenta do reino branca em pó (ideal seria moída na hora)

– sal a gosto – uma pitada, uma pitada e meia (gosto de comida com pouco sal; minha saúde agradece)

– uma colher de café de manteiga derretida (para misturar na omelete)

– uma colher e meia de sopa de manteiga para Fazer a omelete

Utensílios

Frigideira antiaderente. com aproximados 15 cm de diâmetro

Duas espátulas ou escumadeiras de plástico (para não arranhar a frigideira)

Travessa de louça ou pirex médio,

Garfo

Preparo

Derreter na mesma frigideira a porção menor de manteiga (a colher de café)

Separar as claras das Gemas.

Colocar só as claras na travessa. Bater com garfo bastante, mas não para virar clara em neve.  Aí colar as gemas e misturar, sem bater mais.

Colocar sobre as claras e gemas  misturadas a manteiga derretida, o sal, a salsinha, a cebolinha, a pimenta do reino, o tomilho e as gemas. Misturar levemente o todo.

Derreter a manteiga na frigideira no fogo alto.

Colocar na frigideira tudo o que foi misturado na travessa.

Quando as beiradas da omelete começarem a ficar duras, vá levantado por toda a extensão para que o ar penetre e dê mais leveza ao prato.

Em seguida, quando perceber que o centro também já está consistente, abaixe o fogo e, com as duas espátulas/escumadeiras vá enrolando a omelete.

Dessa maneira, tem-se uma “omelete bem molhadinha, isto é, internamente baveuse. Se se quiser que ela fique mais sequinha, é só virá-la e fritá-la também na segunda face, para depois então dobrá-la pouco a pouco”, nas bem cuidadas e precisas palavras do Ministro Houaiss.

Pão francês em rodelas, manteiga e uma saladinha simples para acompanhar.

Comer essa omelete sem uma saladinha é heresia. Assim, lá vai a receita.

Saladinha simples para uma pessoa

Ingredientes

– Duas folhas de alface americana rasgadas e muito bem lavadas e muito secas – no secador de folhas.

– Meio tomate pequeno, muito bem lavado, seco com um pano de louça ,cortado em rodelas finas. Essas rodelas finas obrigatoriamente tem que ser secas novamente em guardanapo ou toalha de papel. Obrigatoriamente!!!!!!!! Esse truque aprendi com a belíssima chef, ex top model, minha conhecida, Rita Lobo.

– Uma rodela nem grossa nem fina de cebola separada em anéis.

Duas colheres de sopa Azeite extra-virgem.

Meia colher de sobremesa de vinagre de ótima qualidade – se possível, o que eu produzo (um dia conto detalhes)

Duas pitadas de sal.

Duas pitadas de orégano – só sobre as rodelas de tomate.

Montagem do Prato

Colocar as folhas de alface, as rodelas de tomate, os anéis de cebola, temperar com azeite, o vinagre, o sal, e o orégano – orégano só sobre o tomate.

Ao lado, colocar a omelete.

Pão, manteiga e cerveja para acompanhar.

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DRY MARTINI – para outro dia, para iniciar outros jantares ou outras manhãs delirantes… Não bebo durante o dia, mas para quem bebe….

Utensílios para preparar o Dry Martini

– Copo misturador

– Bailarina (a elegante e longa colher de metal)

– Passador (espécie de coador para tirar a água do misturador e para servir a bebida)

-Taça própria para dry Martini, evidentemente

– Pegador de gelo (dispensável, sempre presumindo-se que a mão esteja lavada e sem mto cheiro de sabonete)

Bebidas e ingredientes em geral – Para uma pessoa

– Gim Tranquerei

– Vermute Noilly Prat

– Gelo (cerca de uns doze cubos de gelo

– uma lasquinha de casca de limão

Explicações Necessárias

Aquele medidor de dose de uísque de bares pessoas físicas só devem ter como curiosidade. O medidor é apenas para quem vai cobrar pelo que está oferecendo. Bebidas se servem a olho. No preparo de coquetéis, fala-se em partes. No começo, talvez haja algum desperdício; a partir do terceiro, a precisão começa a aparecer.

Dry Martini bebe-se muito gelado e, paradoxalmente, sempre sem gelo. Para tanto, lá vai o começo da receita, colocar uma ou duas pedras de gelo na taça e girar para que a taça fique gelada.

Colocar umas oito pedras de gelo no Copo misturador (copão alto) e mexer com a bailarina para que o copo fique gelado.

Preparo do Dry Martini

Jogar fora a água que se formou no copo misturador. Coloca-se o passador e deseja-se essa água no balde de gelo.

Jogar fora o gelo – e água que se formou – na taça.

Despejar o gim sobre os cubos de gelo. Colocar o Vermute Noilly Prat – a olho – 1/7 da quantidade que usou de gim – . Misturar suavemente com a bailarina para gelar bem. Colocar o passador e despejar o dry Martini na Taça.

Torcer a casquinha de limão e por na taça.

Beber e usufruir muito!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

HIRAM, GENOEFA E ÉDIPO

De 22.05.07

Os amigos do meu pai dos tempos de São Francisco o definiam assim:

– O Hiram entra no restaurante e já vai logo pedindo, de uma só vez, filé bem passado com fritas, coca-cola, pudim de caramelo de sobremesa e troco para 10 mil Réis.

Quando eu ainda morava com ele, chego em casa e ele me diz:

– Paulo, o Mário ligou e disse que o pai do Fábio morreu.

Eu perguntei onde era o velório. Meu pai disse que o Mário não falou nada sobre velório. Ligo pro Mário e pergunto se ele estava a fim de me encher para deixar um recado que o pai do Fábio morreu e não informar onde era o velório.

O Mário reproduz para mim o diálogo com meu pai:

– Dr. Hiram, tudo bem? O Paulo está?
– Não, o Paulo não está!!!!!!!!!!!!!!!!!!
– O senhor diz para ele que o Pai do Fábio morreu.
– Tá bom, eu digo!!!!!!!!!
– Mas dr. Hiram….
– Já entendi, o pai do Fábio Morreu
– Mas dr. Hiram…..
– Mário, eu não sou burro. O pai do Fábio morreu. Tchau!!!!!!!!!!!!!!
E bateu o telefone (meu pai é muito educado; a aflição, entretanto, é infinitamente maior…)

Faz uns 25 anos que não moro mais com ele. Ou seja, isso se passou um quarto de século atrás. Imaginem, pois, como está o homem hoje, aos 86 para 87 anos de Idade!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Esqueci de falar, talvez tenha ficado ansioso por osmose – o teclado por estar escrevendo sobre meu pai me passou ansiedade – meu pai é um sujeito brilhante, muito inteligente, lê bastante e usa o computador como um garoto de quinze anos.

Genoefa é a versão feminina e bem mais jovem do meu pai. Eu a conheci – há uns três anos – na entrada dos cines Belas Artes. Eu ia a um filme e ela, a outro. Trocamos meia dúzia de palavras. Na saída, eu devo tê-la impressionado muitississississimo mesmo porque ela estava me esperando. Genoefa e meu pai não são de esperar!!!!!!!!!!Coisa alguma, pessoa alguma!!!!!!!!!!!!!!!A aflição os mata a ambos. São daquele tipo de pessoas que se jactam de fazer no mínimo três coisas ao mesmo tempo. Eu, ao contrário, fiz foi uma frase sobre isso:

Duas coisas fáceis ao mesmo tempo tornam-se difíceis e uma delas sai errado.
Outra coisa em comum – essa muito favoráveis aos dois, pois prova que são de muito bom gosto:

Eles têm uma “obsessão obsessiva” por mim!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Parece divertido, né???? Mas queria ver qualquer outro no meu lugar !!!!!!!!!!!!!!!

Liás (sem aspas) Genoefa acabou de telefonar neste exato instante em que eu escrevia esse parágrafo – não tinha novidades, mas ficou 15 minutos falando!!!!!!!!!!!

Tivemos um namoro rápido e uma amizade colorida (essas coisas não terminam, né???).

O dia em que a Psiquiatria/Psicanálise descobrir meu pai, a Genoefa e eu, seremos colocados em uma espécie de carro forte de banco para que nada nos aconteça até que seja estudado exaustivamente o fenômeno que me acometeu:

Envolver-me – não com uma mulher que lembre minha mãe – mas com uma que é meu pai terminado.

Eu sou um Édipo Viado!!!!!!!!

IRMÃOS

De 19.01.07

Segunda-feira ensolarada à tarde, há cerca de 20 anos. Vi pelo espelho interno do carro que atrás de mim estava grande ídolo do Brasil. Logo adiante, no semáforo vermelho, ficamos lado a lado. Naquela época não havia essa obsessão por vidros negros/à prova de bala, e ambos estávamos de janelas abertas (em tempo, não tenho, nunca tive e nem pretendo ter os famigerados vidros pretos). Pois bem, ele olha para mim. Aceno. Demonstrando imensa irritação pelo meu “imenso atrevimento”, ele levanta o braço esquerdo, como que me mandando passear, ou para lugar muito mais longe, e vira o rosto.

Três anos atrás, estou no Itaim Bibi trancando a porta do carro que acabara de estacionar. Na calçada, ao meu lado, sujeito conhecidíssimo que na hora não consigo identificar. Parece que existe um tempo determinado limite pelas normas de boa convivência – talvez de três segundos ou quatro segundos – que nunca deve ser ultrapassado quando se olha para um desconhecido. Como não se tratava de desconhecido e a sensação de não me lembrar me incomodava, ultrapassei em muito esse tempo. Ao contrário do primeiro, que uma olhadela e um ingênuo aceno foram suficientes para causar-lhe imensa irritação, um sorriso ilumina seu rosto de galã de cinema e, com sotaque carregado do Interior, me saúda:

– Boa tarde!!!!!!!!!!

Retribuo o cumprimento e o sorriso mas ainda leva alguns instantes para me lembrar de quem se tratava.

O primeiro era o Sócrates; o segundo, o Raí.

Durante um tempo fiquei encafifado com a diferença de astral entre eles. Depois me dei conta de que meu “encafifamento”, esse sim, era um despropósito. Na minha família mesmo – entre meus irmãos – há dois Raís, minha irmã mais velha e eu, um Sócrates e outros que, embora não sejam Sócrates, estão a léguas de Raí.

JUVENAL E SILVIA

De 9.01.07

Sílvia era notívaga inveterada. Já o saudoso jornalista e poeta Juvenal, ao que tudo indicava, parecia não ter tomado conhecimento da invenção do relógio.

Não me lembro exatamente onde fui apresentado à Silvia. Lembro-me, entretanto, que era alta madrugada e ela ainda não havia jantado. Percorremos o centro da cidade em busca de restaurante aberto. Salvo engano meu, apenas o La Farina na praça Júlio Mesquita estava funcionando – prestes a fechar, afinal já eram mais de quatro da manhã.

A conversa dela era ótima. Ela adorava conversar. E ela jantava e conversava com a tranqüilidade e sossego como se fossem oito horas da noite e o restaurante tivesse acabado de abrir. Ela me contou, entre outras coisas, que na juventude havia namorado famoso líder estudantil da década de 60, na época verdadeiro galã, que mais tarde viria a ocupar postos chaves no governo Federal. Você o conhece. Garçons, naturalmente, loucos para irmos embora. Quando, finalmente ela acabou o jantar, o sol brilhava forte. Alguns dias depois, novamente eu e a Síivia ficamos a noite inteira conversando.

O Juvenal, de quem fui sócio em uma micro-editora, constantemente me fazia lembrar a piada do menininho judeu ou turco, dependendo do gosto de cada um, que pedia R$ 50,00 para o pai. O pai argumentava:

– Quarenta? Pra que trinta? Se 20 é muito, leva dez e traz cinco de troco.

Quando marcávamos encontros profissionais para o dia seguinte, Juvenal não explicitava a coisa, mas devia pensar mais ou menos assim:

Oito horas da manhã????, se 10 é cedo demais, a gente marca pra 12, chegamos às 3 da tarde, batemos papo até as 6 e lá pelas 10 da noite a gente começa a trabalhar. Dizia para ele que era isso que se passava na sua cabeça; muito raramente nossas reuniões de trabalho começavam antes de umas quatro ou cinco horas após o horário estabelecido. Era de enlouquecer!!!! Mas tenho saudades do Juvenal, da nossa Editora em uma garagem no Sumaré e do Guengo, outro sócio, que lia pela mesma cartilha do Juvenal ou pelo mesmo relógio do amigo. Bons tempos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Apresentados Sílvia e Juvenal, lá vai a história:

Muitos anos antes. Eram mais de seis da manhã, Juvenal e Sílvia conversavam na sala de visitas da casa dela. O pai, psiquiatra famosíssimo, aparece lá em cima da escada e pergunta para a filha se já não era hora de ela acabar o bate papo e ir dormir.

Sem jeito, Juvenal se despede. Quando ele já está na Rua, o velho aparece lá em cima na janela e grita:

– Agora vai dormir até às cinco da tarde, né comunista de merda???????

EDMUNDO

De 21.09.06

Segunda-feira, há alguns anos, por volta das 13 horas.

No Domingo, o Edmundo fora expulso com toda a pompa que seu nome requer. Muitas pernadas pra todo lado, um monte de polícia pra retirá-lo do campo, mais tentativas de pernadas nos policiais e assim por diante. Não tenho nada contra esportistas irreverentes, audaciosos e temperamentais. Pelo contrário, sou fã do John McEnroe, Nélson Piquet, entre outros. Também admiro esportistas bem comportados, é verdade. Aliás, faço restrição a poucas celebridades. Jogador de futebol, propriamente dito, só me lembro de um que realmente não agüento. Um dia posso escrever alguns episódios sobre ele.

Voltando ao Edmundo e àquela segunda-feira.

Estava com meu pai em um super-mercado de porte médio. Meu pai foi pagar as contas dele em um caixa e eu estava no caixa diametralmente Oposto. Meu pai é um homem de 85 anos, de ótima cabeça e das pessoas mais educadas do mundo. Fala muito alto, como todo velho, é verdade. Apesar de extremamente educado e tratar os humildes com imensa consideração (aliás, trata bem todo mundo), vira uma verdadeira fera se é alvo de qualquer arrogância e ou estupidez. E parece que arrogância e estupidez eram os grandes atributos do gerente que foi atendê-lo.

Pois bem, meu pai não deixou barato. Com toda a razão, começou a gritar e a esbravejar com o tal gerente.

A moça do Caixa que estava me atendendo falou rindo para todos à sua volta:

– Ih gente, olha lá o Pai do Edmundo!!!!!!

Peguei meu troco às gargalhadas com a definição da mulher. Sem dizer nada, evidentemente.

Meu pai se diverte até hoje contando essa história para todo mundo. Eu, por minha vez, ganhei um irmão famoso!!!!!!!!!!!!!!!