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Sete de Setembro – Papel do Herói e Manipulação

Final da Década de 70,  governo militar  cultuava os Heróis, sobretudo D. Pedro I, como se o caminhar da história  fosse responsabilidade de um ou poucos privilegiados.

O Jornal da República, do brilhante Mino Carta, teve vida curta: alguns meses de 1979. Eu  havia feito um curso na Faculdade de História da USP sobre como os heróis eram tratados pelo sistema. Propus abordar o assunto.  O Jornal da República gostou do tema e topou publicar meu texto,  no dia 8 de setembro de 1979.   Por questão de espaço,  foi reduzido.  Publico novamente na íntegra. O início descreve o filme publicitário da época com bastante fidelidade. Desde então, nunca  reli o texto. Mais de  trinta anos depois, digito-o abaixo.  Espero que eu goste e que o leitor também.

Lá vai:

Homens elegantemente uniformizados montam cavalos fogosos.  Um mensageiro aparece e entrega um pergaminho a Tarcísio Meira.  Não, não é Tarcísio Meira.  É D. Pedro I. A correspondência é de José Bonifácio, que pinta um quadro negro da situação do Brasil dependente de Portugal, ao mesmo tempo que coloca nas mão de D. Pedro I todo o destino de uma nação.  D. Pedro – Tarcísio Miera – não decepciona.  Ordena que seus acompanhantes se perfilem e, aos gritos, discursa:

– Eles querem nos escravizar.

Em seguida, enquanto balbucia alguns xingamentos, como “cachorros”  e “canalhas”, arranca os laços de seus ombros e do chapéu.  É chegado o momento da grande frase:

– Independência ou Morte!!!

E todos  seus acompanhantes repetem em coro:

– Independência ou Morte!!!  Independência ou Morte!!!

A imagem é congelada e substuída pelo famoso  quadro do pintor Pedro Amércio.

Isto é apenas um comercial.

De que???

Ora, do Herói!!!  Do que mais poderia ser???

Depois de assistir a essa propaganda, que tem sido bombardeado a todo instante nos canais de televisão, o raciocínio que toma conta da mente de todo mundo, crianças e adultos, deve ser mais ou menos o seguinte:

“Poxa, mas que sorte a nossa.  Se esse mensageiro não tivesse encontrado o D. Pedro no caminho, talvez até hoje o Brasil ainda seria uma simples colônio da Portugal.”

Todos os outros fatores envolvidos na Independência, como a transferência da corte de Portugal para o Brasil, que muitos historiadores consideram como  tendo, praticamente,  constituído a realização de nossa Independência; os interesses da Inglaterra de que o Brasil se tornasse independente para que o comércio pudesse ser feito sem que taxas fossem  pagas a Portugal; o peso do Partido Brasileiro, representante das classes superiores da colônia, grandes proprietários, nunca são levados em conta.

Para a grande maioria, fica retido na memória que a Independência do Brasil se deve a D. Pedro I, um português corajoso que resolve adotar o Brasil como Pátria.

Esse conceito já se tornou generalizado entre a maioria da população.  Através dele, infere-se que a participação política e importância histórica são privilégios de poucos “iluminados”.  O mito do herói, que faz sozinho a história, deve-se não só aos meios de comunicação de massa (isso mais recentemente), como também à historiografia oficial sobre o assunto.   A primeira publicação do Instituto Geográfico Brasileiro, em 1838, uma obra de cinco volumes de autoria de Varnhagen, que em sua época era considerado um grande fã de Portugal, já colocava a nossa Independência como uma dádiva de Portugal, via D. Pedro.  Seus livros eram a úncia referência de todos os outros historiadores da época.  Essa visão é até hoje transfmitida através dos livros didáticos de história

A supervalorização da figura de D. Pedro I no processo da Independência só foi revista muitos anos mais tarde, em 1933, por Caio Prado Júnior, em A Evolução Política do Brasil. Nesse livro, ao descrever o processo de Independência, o nome de D. Pedro I é citado uma núnca vez.  E é bom que se diga: a cena das margens do Ipiranga não é sequer mencionada.

Mas, afinal,  por que a história é colocada sempre como resultado de ações de determninadas personagens que acabarão se tornando célebres???

A primeira resposta para essa pergunta é evidente.  Uma história contada como uma sucessão de aventuras pessoais se torna muito mais interessante e digerível do que um onde estejam envolvidas leis econômicas, forças históricas e sociais.  Mais interessante, porém de pouca credibilidade.  Sidney Hook, em seu Livro O Hirói na História, conta que a escola  dos historiadores americanos que  se agrupa em torno de James Harvey Robinson e “New History” concebeu um relato impressionantemente realístico do passado da América.  Mas eles se equivocaram ao imaginar que estavam conseguindo substituir com êxito os heróis e grandes “para seguir o curso sereno das forças econômicas e socias: removeram os reis e generais de seus nichos e colocaram em seus lugares os grandes capitães da indústria e das finanças  e os grandes pensadores da filosofia e da ciência.”  O resultado não foi absolutamente satifsfatório.  Encontrou-se a seguinte citação na prova de um estudante: “Rockefeller, Gould e Morgam foram os homens verdadeiramente grandes da época; se, pelo menos, eles tivessem sido utilizados no campo político, como as coisas teriam sido diferentes.”

E o culto do herói e grandes homens conduzindo a história continua até hoje.  Isso acontece principalmento nos países totalitários.  Um determinado militar, que antes ocupava a chefia de um órgão policialesco de espionagem, pode e deve, ao subir muito de posto,  mudar rápida e completamente a imagem.  Concordam???  E não é que dá certo!!!

Hook afirma em seu livro: “aqui movamente os progressos técnicos nos meios de comunicação, aliados aos novos métodos psicológiso de arraigar crenças, tornam possível criar entusiasmo popular e idolatria pelo líder em um grau que supera qualquer coisa jamais obtida em Bizâncio,  onde um imperador romano foi capaz de erigir sua estátua, os ditadores modernos podem afixar um milhão de litografias. Utilizam-se de todos os meios que possam contribuir para a sua ascensão.”

Entretanto, os principais meios através dos quais as grandes personalidades interessam tanto ao homem comum e exercem influência sobre eles seão de natureza psicológica.

A primeira delas se basei na necessidade de segurança psicológica.  Se é verdade que o grande homem se imagina como o “Pai da Pátria”, muito mais verdade ainda é que seus seguidores o enxergam exatamente como um pai.  Isto está baseado na concepção psicológica de que muitas pessoas jamais se libertam dos pais, professores e outros pontos de apoio que servem só para suprir suas necessidades, quietação de seus medos e esclarecimento de suas dúvidas durante o crescimento, mas também funcionam como agente de dominação.  Assim sendo, sempre há pessoas querendo adotar um pai.  O herói tá aí para isso.

Quanto mais difícil se apresenta um período, mais propício ele é para o aparecimento de líderes.  Hook afirma que “nos tempos relativamente tranqüilos ,e  particularmente quando a educação se dirige à maturaidade,  a necessidade de um pai-substituto é correspondentemente diminuída.  Sob outras circunstâncias históricas em que não aparecem  grandes líderes e indivíduoas, alguma instituição como a Igreja, o Partido assumirá o papel primordial de autoridade.”

Outro mecanismo psicológico importante que é acionado para a aceitação do líder e herói é o de projeção.  “O homem comum compartilha imaginariamente a força, o brilho e o êxito dos heróis.” Novos elementos de sentido entram nas vidas daquele que são emocionalmente empobrecidos.  As disparidades e injustiças do cotidiano da vida social e, por vezes as dfeficiências e incapacidade pessoal, desaparecem gradualmente do centro de interesse.  O ego se engrandece sem esforço e sem ônus.”

Esses fatores psicológicos agem conjuntamente e são cimentddos nas consciências das pessoas por um outro sentimento:  o pavor de assumir responsabilidaes. Assim sendo, em cada comunidade surge um número reduzido de pessoas com desejos de assumir posições de lideranças.  “Desde que lhe sejam premitido resmungar, a maior parte das pessoas fica aprazivelmente aliviadas de encontrar alguém que façam suas tarefas; sejam elas, domésticas ou políticas.   A política é um negócio confuso e a vida é curta.  Submetemo-nos a grandes males, a fim de evitar a maçada de abolí-los.”

Assim sendo, na medida em que há interesse oficial de glorificar personalidades e uma tendência social de se entregar a lideranças, como diz o ditado popular, junta a fome com a vontade de comer.

Hook conclui advertindo: “quando nos negamos a mergulhar na voragem política para não perturbar nossa “vida normal” e confiamos o poder a outros, acordamos um  dia para verificar que aqueles a quem confiamos estão prestes a destruir “a vida normal” que receamos imterromper.”

Resumindo, o resultado da soma da fome com a vontade de comer, nesse caso de heróis e liderenças, será uma grande congestão, ou melhor, é uma grande congestão.

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É antigo, mas explica muita coisa.  Eu gostei.  Espero que você  também.

Quem Fala Mal do Galvão, Não Ficaria Ali nem Por Um Milhão!!! Foras Fabulosos!!!

Ao se reunir diante da televisão quartas-feiras à noite, às vezes sábados, e nas tardes de domingo, fica claro que a imensa maioria tem dois motivos:  assistir ao jogo e falar mal do Galvão Bueno.  Galvão, muitas vezes, emprega pleonasmo, fala uma redundância para dar  colorido na linguagem.  Aí começam os comentários mais óbvios.  Se o Galvão diz, por exemplo, a bola caiu de cima na cabeça do jogador, sempre tem algum infeliz para retrucar:

– Não, ela não caiu de cima; caiu de baixo (separado mesmo)!!!

Aguento uns três comentários infelizes desses.  No quarto, digo com certa contundência.

– Imagine eu e você falando 90 minutos sem parar.  Quanta besteira que a gente não diria!!!      (Finjo solidariedade  equiparando-me  ao infeliz para amenizar a coisa)

É óbvio!!! E ainda digo que se o Galvão fosse esse bobinho que esses pegadores no pé julgam, não estaria há tanto tempo onde está.

Eventualmente, dá uns foras.  Mas querer que um comentarista não dê fora é o mesmo que esperar que um encanador nunca  se molhe ou que um artista de circo  jamais derrube um malabares!!!

Dois foras muito divertidos que presenciei.  Um deles pela televisão e o outro ao vivo, no show do cara.

Corria um boato que aquele apresentador, super experiente,  um dos principais de sua época, já falecido, estava enfrentando problemas na emissora, seria demitido ou iria se demitir.   No seu programa, mais que dar sua versão, deu um belo fora; no mesmo instante corrigiu, mas o fora já tava para fora – nada havia para ser feito.

– É tudo boato que eu estou  saindo dessa emissora.  Ontem mesmo eu e o presidente tivemos uma conversa de branco.

Tentou se corrigir:

– Quero dizer, uma conversa franca…

Mas já era.

Formidável e loquaz cantor nordestino fazia  temporada em S. Paulo.  Certamente estava se hospedando naquele hotel por conta de permuta, patrocínio do show.  Pois não é que o artista sai com esse comentário:

– Ah, eu estou aqui muito bem instalado.  Eu tô naquele hotel onde matam governador!!! (menos de um mês antes, político fora assassinado dentro desse hotel).

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Quem quiser ler texto anterior sobre Galvão Bueno, o bom moço Kaká e, de quebra, barbárie de Big Brother, clique aqui

Mulheres, Ah, as Mulheres…!!!

A antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Mirian Goldenberg,  em seu artigo na Pag 2 do Caderno Equilíbrio de hoje, suplmento da Folha de S. Paulo, com muita clareza,  mostra a simplicidade dos homens e a complexidade (não seria complicação???, eu indago)  das mulheres.

Ela perguntou para moradores (as) do Rio de Janeiro quais eram os principais problemas que eles/elas  viveram em  seus relacionamentos.  A queixa geral foi: ciúmes e infidelidade.  Homens reclamaram ainda da falta de compreensão.

Mulheres responderam – Tome muito fôlego, caro Leitor:

falta de sinceridade, de diálogo, de amor, de carinho, de romance, de respeito, de admiração, de tesão, de desejo, de paciência, de atenção, de companheirismo, de maturidade, de tempo, de dinheiro, de interesse, de reciprocidade, de sensibilidade, de intensidade, de responsabilidade, de generosidade, de compatibilidade, de segurança, de confiança, de pontualidade, de cumplicidade, de igualdade, de individualidade, de liberdade, de organização, de amizade, de alegria, de paixão, de comunicação, de conversa, de intimidade etc. Algumas ainda afirmaram que falta tudo. Enquanto os homens foram extremamente objetivos e econômicos em suas respostas, algumas mulheres chegaram a anexar e grampear folhas ao questionário para acrescentar mais faltas.

“Um engenheiro de 54 anos disse”: “É impossível dar a uma mulher tudo o que ela quer e de que precisa. Seria perfeito se cada uma tivesse pelo menos três homens. Um para sexo gostoso, romance, paixão. Outro para carinho, proteção, atenção. E o terceiro para conversar, ver filmes inteligentes, ter discussões filosóficas. Acho que seria bom também ter um quarto homem cheio de grana, para pagar todas as contas, as viagens para o exterior, os restaurantes sofisticados, os presentes caros. E um último que saiba fazer elas darem boas risadas. O problema é que elas querem tudo isso e muito mais em um homem só. Que homem pode dar conta de tudo o que uma mulher quer?”

Muitos perguntam: “O que quer uma mulher?”

Uma piadinha de domínio público  responde a pergunta acima: a mulher quer três animais  em casa:  um leão na cama, um Jaguar na garagem e um burro para pagar as contas.

Por essas e por outras, tenho algumas frases sobre comportamento feminino.  Uma delas:  “Não sou tão pretensioso a ponto de querer entender as mulheres”

Voltando para o artigo ”

 Elas (as mulheres) repetem exaustivamente: “Falta homem no mercado”.

Goldenberg  deixa no ar uma pergunta  e não dá a resposta:

“Mas em que mercado é possível encontrar o homem que satisfaça uma mulher?”.

Outra frase minha:

“Muitas mulheres   dizem não ser  muito exigentes.  Querem  um sujeito com a boca do Mick Jagger, o charme do Mastroiani e o dinheiro do Paul Getty. Elas precisam ser avisadas que tais tipos  têm um grave defeito.  São muito indecisos.  Indecisos entre a Caroline e a Stephanie, a Kim Bassinger, a Gisele Bündchen  a Natassia Kinsky…..”

Sem falsa modéstia, suponho ter respondido com precisão, apesar do deboche,  a pergunta com  a qual Goldenberg conclui seu artigo.

Mataram Bin Laden??? Será???

Curioso, muito curioso.  Os Estados Unidos caçam Bin Laden durante quase 10 anos.  Gastam bilhões de dólares, perdem soldados, causam mortes de civis inocentes. 

Aí anunciam que localizaram o enconderijo de Bin Laden e que o terrorista   foi morto. 

A seguir  é hilário. 

Comunicado oficial/extra oficial/oficioso afirma que, acatando os preceitos da religião mulçulmana, o corpo dele foi imediatamente lançado ao mar. 

Certamente Bin Laden foi morto mesmo.  Os Estados Unidos não correriam o risco de anunciarem sua morte e ele voltar a dar as caras através de fotos e vídeos.

Agora, que tem algo estranho nessa evaporação do corpo de Bin Laden, isso tem!!!

Se o simples anúncio do extermínio do terrorista já foi suficiente para os americanos comemorarem  nas ruas, tal qual brasileiros comemoramos conquista de Copa do Mundo, quão prazer mórbido o povo não teria tido se pudesse   ver fotos, filmes do seu cadáver. 

Por que as autoridades americanas foram mórbidas a ponto de privar a população desse mórbido prazer???

Além disso, é totalmente ao gosto dos meios de comunicação de massa  misturar clima de ficção/novela  e realidade bem batidas no liquidificador com tempero de jornalismo.

Vladimir Propp,  estruturalista russo (1895-1970),  ao estudar mitologia e contos russos,  observou uma estrutura básica  que se repete nas histórias da mitologia:  o herói recebe do rei a missão de sair do seu território, ir ao reino vizinho para matar o dragão ameaçador.  O herói vai lá, mata o dragão, volta coberto de glórias ao seu reino, onde é recebido em festas pelo povo e pelo rei e se casa com a princesa.  Para provar seu feito, ele entrega ao rei, diante da multidão,  um pedaço da cauda do Dragão.

Em tempos modernos, quando existe um celular com câmera para cada habitante do planeta, o exército captura Bin Laden, mata, não tira uma única foto  do inimigo morto, sequer para saciar a morbidez do cidadão comum!!!  

E pior, ao contrário dos heróis da mitologia,  nem mesmo um fio da Barba do Homem foi exibido para provar que a missão foi mesmo cumprida com êxito.

Não dá nem mesmo para argumentar que o objetivo era não permitir que o túmulo dele fosse transformado em local sagrado de peregrinação, pois, conforme os próprios Estados Unidos afirmaram, o costume mulçulmano é atirar o corpo ao mar nesses casos.

Não quero parecer a mãe que foi ver o filho marchar na parada de Sete de Setembro,  e  o filho estava marchando errado.  A mãe:

– Olha lá, tá todo o batalhão fora do passo; só o meu Pedrinho está marchando direito.

No meu caso, é muito pior.  Já que não foi um batalhão que aceitou a coisa, mas sim a humanidade toda!!!

Pior ou não do que a mãe do Pedrinho, continuo achando tudo isso muito estranho…

A Mesquinhez Inglesa e a Obrigação de Sustentar o Fausto Real

Sempre me encaficou o fato de o povo Inglês,  tão mão de vaca/pão duro, ser obrigado a sustentar o fausto da Família Real Inglesa.  Sou sujeito absolutamente contra os dois extremos: desperdício e mesquinhez.  

E a experiência de viver durante quase dois meses em casa de família inglesa, onde pagava para me hospedar, me mostrou um povo mesquinho.  Na verdade, em um dos episódios, a dona da casa chegou a ser Absolutamente Desonesta, para não dizer ladra,  comigo.  Outros brasileiros, que estavam nas mesmas condições de hospedagem que eu, me relatavam experiências muito semelhantes.  Ou seja,  o que aconteceu/acontecia comigo  era   regra e não exceção.

Às vésperas de mais esse Teatro Real – casamento do príncipe William –  , talvez valha a pena reler o texto que já publiquei aqui e imaginar, como será que pessoas que surrupiam um ovo, uma fatia de pão de seus hóspedes encaram essa Gastança de Impostos pela Família Real.

Deixo também links desse texto e de outro texto de assunto próximo, porque os comentários valem a pena 

http://bocanotrombone.ig.com.br/2009/03/26/nao-banho-e-mesquinhez-inglesa/

http://bocanotrombone.ig.com.br/2009/03/24/barbudos-x-barbeados-banheira-x-chuveiro/

Uma leitora foi precisa em seu comentário.  Disse algo assim:  a Diferença entre o brasileiro e o Inglês/europeu (acho que ela abrangia a Europa) é que individualmente nós somos limpos e socialmente, somos sujos.  Eles são o contrário disso: socialmente,  limpos; individualmente,  sujos.  A observação é perfeita.

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Lá vai o texto,  já publicado em Setembro de 2009. 

Título:  Não Banho e Mesquinhez Inglesa

Meu post de anteontem sobre barbas, barbudos, banhos de banheiras e não banhos de ingleses recebeu  vários – para os padrões do Boca,  naturalmente – comentários.

Costumo responder cada comentário individualmente.  Para facilitar a coisa e também por  ter percebido que o assunto ingleses ainda não se esgotou,  retomo o tema; conto mais detalhes da minha experiência vivendo  na casa de  uma família classe média típica. Foi bem legal.  Mas notei que diversas coisas curiosas na rotina dos ingleses que também foram lembradas por alguns leitores. http://bocanotrombone.ig.com.br/2009/03/24/barbudos-x-barbeados-banheira-x-chuveiro/ 

Durante os dois meses que passei lá em Bournemouth, cidade ao sul da Inglaterra, próxima a Londres, viajei todos os fins de semana. (saia  sexta à tarde e voltava domingo para dormir). Assim, a questão dos três banhos semanais a que tinha direito foi ligeiramente amenizada.

Ainda no setor higiene,  jamais vi algum dos donos da casa (um casal, mais a filha) com cara de quem tivesse tomado banho.  O único contato que presenciei deles com a água não foi dos mais agradáveis. 

Uma  Uma noite, entro na cozinha e o que vejo???  O dono da casa lavando a cabeça na pia da cozinha.  Na volta ao Brasil, contei isso para meu pai, que comentou com um amigo nosso inglês.  Ele  garantiu que era normal, na Inglaterra, as pessoas lavarem a cabeça na pia da cozinha. O porquê disso não fica claro.  Como disse Caetano, “eu não consigo entender sua lógica.”  Entender ou não entender não tem importância.  Grave é usar a louça e comer comida lavada na pia que também serve para lavar cabeça,  e sabe-se lá se não deixei de ver coisas piores…

Um leitor do Boca fala, até de maneira rude, do mal cheiro das inglesas (leia no comentário do post de ontem)  Ele  está muito bem acompanhado. Famoso e prestigiadíssimo  personagem da política,  tido como mulherengo,  diplomata em Londres, ao responder a uma amiga se havia gostado das Inglesas, foi taxativo:

– São bonitinhas, mas muito mal lavadinhas…
 
Voltando à minha experiência com a família inglesa,  passo aos pequenos  truques, golpinhos que me aplicaram. 

Paguei aqui no Brasil uma determinada quantia para a Escola que freqüentei e outra quantia que foi diretamente para a família que me hospedou.

Está mais do que implícito que um quarto alugado durante o inverno em uma casa na Inglaterra tenha calefação.  Pois não é que a dona de casa me disse que a calefação não estava incluída e que eu deveria pagar.   Não quis brigar e concordei. Ela me deu o valor semanal da calefação. Argumentei que pretendia viajar todos os finais de semana e que preferiria pagar por noite a calefação, quando eu, de fato, estivesse usando.  Ela não concordou.  Cobrava sempre por sete noites, embora só ligasse cinco vezes por semana.

Eu e o Javier, mexicano que também estava ali hospedado,  éramos apenas meios de a dona de casa, landlady, reforçar o orçamento.  Nada além disso.

Perguntou-me ainda se eu queria que ela lavasse minha roupa e já foi logo dando o preço.  Falei que era coisa relativa: como ela já podia dar o preço sem saber quanta roupa seria?  Ela foi clara: esse preço é para a quantidade de roupa  que pessoa normal usa por semana : duas camisas, duas meias e duas cuecas. Agradeci e disse que eu mesmo levaria para a lavanderia.

Curioso é que mesmo quando queria ser simpática e mostrar eficiência, ela era seca e até meio rude.  Elogiei bastante os ovos mexidos do café da manhã. (scramble eggs, certamente escrevi errado) de lá. Imediatamente, me responde:

– Às terças e quintas  (lembro-me que eram exatamente esses os dias) tem.

Sou cara extremamente justo, o que é certo é certo e, como já disse e repeti, detesto desperdício.  A dona da casa pediu que avisasse sempre com antecedência quando fosse viajar no fim de semana, para que ela não comprasse comida para mim.  Perfeito.  Nada de desperdício.

Meu pacote de hospedagem compreendia: quarto de domingo a domingo,  café da manhã e jantar de segunda a sexta e as três refeições do sábado e do domingo. 

Como já  disse,  todos os fins de semana, viajei.  Ou seja, deixei de consumir sete refeições a cada fim-de-semana.  Passei lá seis semanas, logo foram  exatamente 42 refeições que, embora tenham sido pagas, não foram consumidas.
 
Uma noite, durante o jantar, ela me pergunta em que dia eu iria embora.  Falei que seria dali a dois sábados.  Ela diz:

– Pois bem,  o café da manhã do sábado em que você vai embora, você vai ter que me pagar porque a escola só me paga até sexta-feira.

Eu falava legal  inglês e entendi perfeitamente.  Mas, por segurança, confirmei em Portunhol com o mexicano Javier.  Pedi que não comentasse nada, mas lhe disse que iria denunciá-la para a escola. E a escola, muito provavelmente  iria descredenciá-la na mesma hora.  Se eu tivesse consumido todas as refeições previstas, perfeito que ela cobrasse essa extra. 

Detalhe: alguns brasileiros levam lembrancinhas típicas daqui, um anelzinho de água marinha e outras besteiras baratinhas para a dona da casa..  Eu havia levado  três quilos de café da melhor qualidade,  panela própria para esquentar a água, bule, coador e xícaras de porcelana pintadas a mão.  Isso não vem ao caso.  O que conta é que eu deixei de consumir 42 refeições e ela quis me cobrar um ovo, uma torrada e uma xícara de café (aliás, que eu havia lhe dado).

A história acaba assim: fui-me embora na 6. Feira.  Deixei barato, não denunciei na escola e  não teve o quebra-pau anunciado. Nesse momento em que escrevo, acho que agi mal: devia ter denunciado.

Ingleses não são efusivos, abraços e beijos não jorram por lá com parte de cumprimentos.  Mas é lógico que depois de conviver um mês e meio, por mais frio que sejam todos os envolvidos,  na despedida, apertam-se as mãos e até um beijinho e abraço  fazem parte da coisa. 

Eduardo e Marina, brasileiros que iam comigo ao Aeroporto e passaram em casa para me apanhar de táxi, ficaram impressionados porque, já dentro do táxi, limitei-me a um aceno com a cabeça de despedida.

Quatro anos após, morei cerca de quinze dias em casa de família americana.  180º  opostos.  Conto logo mais. 

Para terminar legal, a receita do fabuloso scramble eggs.

Ovos mexidos da Markham Road 103 – endereço da casa  da família em Bournemouth

Fazer uma torrada de pão de forma com manteiga.  Mantê-la quente.
Reservar.

Em uma panelinha pequena, derreter manteiga, quebrar um ovo e, quando começar a fritar, colocar uma colher de leite, diminuir o fogo, por sal e pimenta do reino.  Mexer e quando estiver no ponto (eu gosto mole) colocar sobre a torrada quente.   Comer acompanhado de  café forte servido na xícara grande.  É muito bom!!! Gotinhas de Tabasco, um pouco redundante, já que vai pimenta do reino,  também são bem-vindas (acho que agora bemvindo é tudo junto)!!!

Ovos mexidos da Markham Road 103 – endereço da casa  da família em Bournemouth

Fazer uma torrada de pão de forma com manteiga.  Mantê-la quente.
Reservar.

Em uma panelinha pequena, derreter manteiga, quebrar um ovo e, quando começar a fritar, colocar uma colher de leite, diminuir o fogo, por sal e pimenta do reino.  Mexer e quando estiver no ponto (eu gosto mole) colocar sobre a torrada quente.   Comer acompanhado de  café forte servido na xícara grande.  É muito bom!!! Gotinhas de Tabasco, um pouco redundante, já que vai pimenta do reino,  também são bem-vindas (acho que agora bemvindo é tudo junto)!!!

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Bom casamento e boa diversão para os ingleses, na esperança de que nesses anos que se passaram eles tenham se tornado mais generosos e não submetam mais seus hóspedes a cenas explicitas de roubos de ovos e torradas.  

Comportamento de Adulto – o Mínimo que se Espera do Novo Congresso

Novo congresso toma Posse no começo de fevereiro (embora 1/3 dos senadores continuem).

Bem que podia aparecer, se é que existe, algum depudado ou senador minimamente preocupado com a opinião pública e lutar por algo muito simpes: obrigação de todos nas duas casas terem  comportamento minimamente adequado desde o instante que pisam o prédio da Câmara/Senado, até colocarem os pés (se bem que todos andem de carro) na calçada no fim do expediente.  Pés na calçada mesmo, já que os carros não são de suas propriedades (embora, tampouco sejam de suas propriedades os apartamentos funcionais). Desde que voltem para casa, ainda que apartamentos funcionais.

Para se atingir esse tal decoro parlamentar ou – posto de outra forma – ter comportament minimamente compatível, algumas medidas precisam ser tomadas.

1) Sessões iniciam-se no horário marcado.  Todos os congressistas precisam estar presentes.

2) Presentes e sentadinhos em suas cadeiras; e,   e em silêncio, ouvindo o que o colega que está ao microfone diz.  Sentadinhos, como se fala pra criança, quer dizer sentadinho mesmo.  Nada daquela aglomerado de gente pelos corredores, nada  de duplinhas passeando aos papos.  Muitos deles, apesar de sentadinhos, falam ao celular.  Nada disso.    Tem que se sentar e prestar atenção ou fingir que presta atenção!!!

3) O cumprimento do ítem acima já pressupões plenário cheio; nada daquele mar sem fim de cadeiras vazias.  A desculpa de que estão em reuniões é furada.  Que reunião são essas que não terminam nunca???  Reuniões de comissões??? Que essas reuniões sejam feitas com os aspones, digo, assessores dos congressistas.  Já que deputado e senador têm que estar é nas sessões.  Reuniões  de comissões com congressistas que sejam feitas em outros horários, dos três dias de trabalho semanais; horários em que não haja sessões.

Cadeiras vazias, deputados/senadores pelo plenário, deputados sentado batendo papo ao ceuluar – tudo isso é um desrespeito ao seu voto.

Ao meu não porque só votei para presidente; o resto tudo, digitei todos os zeros que a urna eletrônica permitia e confirmei.  Não por julgar que ninguém seja digno do meu voto.  Longe de mim tamanha arrogância. Tampouco sou pela dissolução do Congresso/ditadura. “Mais tampouco” ainda posso endossar esse RECREIO SEM FIM, conforme já escrevi. Quem quiser ler, embora repita um pouco esse todo http://bocanotrombone.ig.com.br/2007/10/22/recreio-sem-fim/

Se eu perceber um mínimo de disciplina (ia escrever seriedade, mas o termo é disciplina mesmo),  posso mudar meu voto nas próximas eleições.  Posto de outra forma,  SE OS CONGRESSISTAS SE COMPORTAREM DIREITINHO…

Teleteatro Fabuloso Só Para Cevar o Espectador???!!! NÃO CAIA NESSA!!!

O termo cevar é muito pouco usado nas cidades. 

Trata-se de “técnica” de pesca e caça.  Rotineiramente são colocados nos mesmos lugares alimentos para atrair peixes, aves e animais de porte maior.  A prática é repetida com freqüência.   Um dia, ao invés do alimento, estão  lá o pescador e uma rede ou o caçador e uma arma.

Nessa época de fim de ano, a Globo exibe o melhor do melhor do seu teleteatro e dos seus shows.  Hoje tem episódio especial da Grande Família; ontem,  dois programas espetaculares, cada um em seu gênero: Papai Noel Existe e Diversão. Com.  O primeiro,  com Regina Casé e Rodrigo Santoro, comovente fábula de Natal,  dirigido a toda família.  O segundo, para público mais  jovem e engajado, passava-se numa produtora com trama cativante.   Tenho ouvido ainda  chamadas  na emissora para o  show anual de  Roberto Carlos.

Depois disso, público bem cevado, Tome Big Brother, o Nada Absoluto na Televisão.

Cabe a mim e a você, que não somos peixes, aves ou caças,  estarmos a léguas da televisão nessa hora ou, na pior das hipóteses, sintonizar outro canal.

Telefones a Preço de Banana e de Péssima Qualidade

Nos velhos tempos da Telesp, empresa pública – sinônimo de terror para o neo e velho liberalismo,  linhas telefônicas eram caras, mas tinham mensalidades razoáveis e, principalmente, funcionavam. 

Hoje, todo mundo tem telefone.  Ótimo. Parabéns!!!  Entretanto, mês sim, outro também,  telefones apresentam defeitos.

Sem “contar as contas”1: antes trocados;  agora, preços muiiiito salgaddos.

Sem “contar as contas” 2: antes, bastava ser alfabetizado para entender o que estava sendo cobrado.  Hoje, no próprio atendimento eletrônico,  já existe a  “opção de teclar x se o seu problema é com sua conta”.  Ou seja, você não é o primeiro que liga lá porque não entendeu  sua fatura e nem eu sou o segundo, infinitamente  menos ainda o último.  Aliás, empresas de telefonia ostentam o título de “campeãs” de reclamações no (s) Procon(s).

Voltando à queda na qualidade do serviço.  Desde que eu me lembre, até o serviço de telefone ser privatizado- entenda-se uns 45 anos – , fiquei um único dia sem telefone.  De lá pra cá, já perdi as contas.  E empresa de telefonia alguma que me venha questionar, pois minhas diversas reclamações, segundo os próprios atendentes,  foram gravadas e, certamente, deveriam estar arquivadas. 

Concluindo com frase, frase de amigo, sobre Iniciativa Privada, lá vai: 

“A iniciativa Privada tem muito mais de Privada do que de Iniciativa” (Renato Amaral Sampaio Coelho). 

Em tempo, não se trata de nenhum jovem estudante universitário esquerdista, mas sim de um homem de quase 90 anos.

O nada das Novelas e as Delícias da Ficição em A Grande Família

Inverteram-se os papéis na televisão.   O telejornalismo virou cinema de aventura e a telenovela tenta espelhar o dia a dia, disse uma vez palestrante, aliás, excelente escritor de diversos gêneros, inclusive de novelas para a TV.  Dava exmplos: é comum você ver um repórter da televisão se enfiar dentro de um carro de polícia e participar de perseguição a bandidos – muitas vezes, sob tiros.  Já redatores de  novela, ao invés de desenvolver enredos de aventuras e romances,  talvez acham chique e/ou politicamente correto, também tratam do dia a dia.

Aguardando o início da Grande Família, sou obrigado a enfrentar o final da novela.  Pois bem,  são sócios de fábricas  tramando derrubar ou conquistar através de “leilões on line de ações” o domínio da empresa,  uma tal de Jéssica, que devia ser a personagem nova-rica, ensinando para a empregada o que era o mercado de ações, uma  velha perdendo o tal controle acionário, uma perua estressando o marido.  Resumindo, uma besteirada sem-fim.   Ou melhor, graças a Deus, com um fim: o começo da Grande Família.  Aí sim, a nossa excelente dramaturgia se ocupa de assunto ficcional pertinente e saborosíssimo.

Como pode a mesma emissora, os mesmos profissionais produzirem algo tão bom quanto a Grande Família e todos esses seriados e esse imenso nada, pseudo tudo, extremamente pretencioso, que é a novela???

Filme Cyrus: Mães – Solteiras/Viúvas/Separadas – Não Percam!!!

Mães solteiras e/ou viúvas e/ou desquitadas de garotos  pequenos e adolescentes não deveriam perder – em hipótese alguma – o Filme americano Cyrus com Marisa Tomei, lançado essa semana em S. Paulo.

Há vários aspectos interessantes a serem observados, entretanto,  o que se destaca mesmo  é a reprodução fiel do  que se vê por aí nesses casos. 

A relação mãe  e filho, com mãe dando as diretrizes e até mesmo as ordens, vai sumindo até que some de vez.  Os moleques do filme e da vida de verdade passam a se julgar e, pior, a se comportar não mais como filhos, e sim como maridos, dando ordens e até mesmo tomando satisfações.  Não estou falando de aspectos sexuais, edipianos e coisas mais profundas.  As situações que esses atrevidinhos (para não usar o termo certo) vão criando já são suficientemente desconfortáveis, Kafkanianas por si sós e dispensam qualquer análise mais profunda.

É assistir ao filme  e, se for o caso, se empenhar para reverter o quadro.  Por duas razões:

 a) porque isso pode acabar muito mal.

b) também porque bonzinho igual à personagem da namorado de Tomei só existe mesmo no cinema.  Na vida real, o nego é bonzinho, mas uma hora pega o boné, cai fora e a fila anda.  Anda pro cara, porque a mulher vai sempre  ter a vida atolada/empacada pelo filho babaca.  Afinal, desde a Bíblia já se sabe: quem pariu Mateus que o embale.

Não gosto muito de trailers de filmes, mas se alguém quiser dar uma olhada

http://cinema.uol.com.br/ultnot/multi/2010/01/27/04029B3472D8C91326.jhtm?trailer-do-filme-cyrus-04029B3472D8C91326