Talento todo jogador brasileiro tem de sobra (fazer generalizações a favor é uma delícia). Manter a concentração durante o jogo em si são outros 500 (500 mil euros no caso dos nossos meninos de ouro). Tá vendo, generalizações negativas são antipáticas, mas, infelizmente, quase sempre verdadeiras a esse respeito.
Daniel Alves, aos 42 minutos do 2. tempo, apenas seis minutos após entrar em campo, ao bater aquela falta, felizmente, contrariou essa teoria. Digo felizmente muito menos pelo gol salvador que marcou do que por um detalhe. A compenetração que demonstrou durante todo aquele lapso de tempo entre a “permissão” do líder, também exemplo de seriedade e empenho, Kaká , para bater a falta até colocar a bola no ângulo foi impressionante. Ele pegou a bola com a mão, olhou firme para ela. Sério, sempre muito sério, colocou no gramado e partiu para o chute fulminante.
A falta dessa atitude de compenetração em jogadores brasileiros em momentos decisivos sempre me chamou atenção. Eles caminham displicentemente para chutar um pênalti. Pênalti é algo tão raro, tão importante que Nélson Rodrigues dizia que o Presidente do clube é quem devia cobrar. Os geniais jogadores da Copa de 82 tiveram essa seriedade ao cobrar aqueles pênaltis???
Sempre observei isso, naquele tempo o Lula não tinha soltado o verbo nas suas metáforas e eu já usava uma metáfora tão ao gosto do presidente. Eu dizia:
– É curioso, o tenista Bjorn Borg ( ganhou, entre outros, cinco ou seis vezes o Torneio de Wimbledon) dá aproximadamente 150/200 saques por jogo. A cada saque, sua concentração é total. O jogador brasileiro cobra um ou dois pênaltis por mês, um pênalti na vida e outro na morte em Copas do Mundo. Pois é, apesar de tudo, ele vai para a bola com a mesma tranqüilidade que se vai para cama na hora de dormir.
Que a atitude de Daniel Alves sirva de exemplo não só para jogadores de futebol patrícios como para muitos profissionais – de todos os níveis – que muitas vezes em momentos decisivos tem a displicência dos irresponsáveis na hora do pênalti.