Clóvis, amigo do meu pai, era arquiteto de bom gosto e elegância impressionantes. Morava em uma casa térrea que ocupava quase um quarteirão inteiro, atrás do Shopping Iguatemi, naquela época, década de 60, antes da invasão de prédios e a marginal se tornar o que se tornou, era região bem tranqülia. Detalhista, mandou colocar, próximo à janela do quarto do filho, uma folha de zinco, salvo engano, para que a chuva produzisse som agradável que embalasse sono e sonhos do jovem. Havia dentro da casa um espelho d´água mágico.
Chris Montez, cantor americano, ficou famoso mundialmente por regravar The More I See You, música de sucesso de décadas anteriores. Depois gravou Call Me e Suny. Estava no Brasil, nessa época do auge da carreira. Clóvis e Lúcia, sua mulher, ofereceram um coquetel para ele. Embora eu fosse garoto, fui convidado. Montes era a vedete da noite, mas havia outros artistas. Entre eles, Elis Regina. Naquele tempo não existia o termo tietar, mas eu estava firme sentado ao seu lado acompanhando atentamente tudo o que dizia.
Elis terminou o primeiro prato de estrogonofe que o garçon havia lhe trazido, mas ainda estava com fome. Perguntou para mim se eu não podia pegar mais um pouco de estrogonofe para ela e recomendou que eu mesmo fizesse o prato porque queria bem pouco mesmo.
Quando volto, entrego-lhe o estrogonofe na medida certa para saciar aquele resto de fome, ela agradece:
– Ah, que bonzinho que você foi. Merece até um beijinho.
E me deu o beijinho!!!
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Ouça The More I See You com Cris Montes – Clique aqui
Ouça Atrás da Porta, do Chico, na Emocionadíssima interpretação de Elis – Clique Aqui
Caro Mayr,minha reflexão na data de 30 anos sem Elis foi ouvir,e como sempre me emocionar,o disco de’66 da cantora inesquecível.”Carinhoso”,”Canção do sal”e a arrepiante “Boa palavra”.Ouvindo estas faixas,me proíbo até de pensar.Imagino o arrepio que a lembrança deste momento com Elis te provoca.Suponho que voce deve ter colocado algum disco dela,e lamentado os dias que temos de suportar.Abraços do Pawlow
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Caro Fernando:
Obrigado pelo simpaticíssimo, como sempre, comentário. Não, não ouvi qualquer música. Julguei que a homenagem que poderia prestar seria escrever esse texto.
Apenas como curiosidade. Exatamente no dia do aniversário de trinta antos, estava em um curso. Era uma pessoal bem mais novo. Alguém falou algo sobre a Elis e eu disse:
– Ela me deu um beijinho.
Ninguém entendeu. Ninguém acreditou. E alguém pediu que eu explicasse.
Reiterei que ela havia me dado um beijo. Não explique as circunstâncias, mas aí todos acreditaram. Como disse, era um pessoal mto mais jovem e nem imaginavam que alguém ali poderia ser contemporâneo da nossa grande Elis, certamente a maior cantora do Brasil.
Grande abraço, Fernando.
Paulo Mayr
Tenho certeza,que você ficou vermelho!!!
Poderia ser um beijo na sua boca…ai vc desmaiava!!!
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Caro Cícero:
Foi um beijinho no rosto, lógico. Mas não sei se fiquei vermelho.
É uma boa lembrança que guardo comigo.
Abraços
Paulo Mayr