Semana Passada, fiz crônica sobre episódio que aconteceu comigo há muitos anos. Acho que ficou legal. Espero que os leitores do Trombone concordem comigo.
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A guia pegou o microfone do ônibus e propôs que não fizéssemos aquela última parada antes de chegar a Barcelona. Disse-lhe, e para a todos os passageiros, que eu estava precisando ir ao banheiro. Ela garantiu que em meia hora chegaríamos.
– Ah, meia hora. Meia hora, eu posso esperar. Mas não vai passar muito disso, vai?, perguntei em horrendo portunhol.
Em tenebroso espanhês, ela me garantiu que, na pior das hipóteses, a viagem demoraria, no máximo, quarenta minutos.
Concordei.
O trânsito não estava pesado, o motorista desenvolvia excelente velocidade, mas Barcelona teimava em não chegar. Uma hora e meia depois, continuávamos em boa velocidade e nada de Barcelona, tampouco o ABC espanhol, ou periferia de Barcelona. Estrada, só estrada, que ia muito além do horizonte.
– Há quase duas horas, você me disse que chegaríamos; o motorista está na velocidade máxima permitida e não vejo, sequer, placas com menção a Barcelona; argumentei com início de dolorosa sensação de bexiga explodindo.
A guia garantiu que mais quinze minutos chegaríamos.
O motorista fez uma cara esquisita.
Eu reiterei que não aguentava mais.
À esquerda do ônibus, gigantesca ruína de uma cidade e a guia descrevendo detalhes.
– Olha, eu murmurei…
Ela:
– Não me interrompas – gritou, enfática, ao microfone.
Termina de descrever a maldita da ruína e pergunta o que eu queria.
Gemendo, respondi:
– Nada, era só pra dizer que em frente à “sua ruína”, na nossa mão, havia gigantesco posto e, óbvio, banheiros. Mas, agora, ficou lá pra trás e, junto com eles, meu sonho…
Mesmo morrendo de pena de mim, vários passageiros riram.
Finalmente, hotel de Barcelona.
Minha bexiga estava a tal ponto que eu mal conseguia andar. Descer a escada, então, martírio absurdo. Finalmente, a calçada. Entre a porta do ônibus e o banheiro, demorei bem uns cinco minutos me arrastando.
Acho que fiquei cerca de sete minutos urinando sem parar.
No Hall do Hotel, alguns americanos, que estavam comigo no ônibus, vieram me dar parabéns pela maneira elegante com que eu aguentei ser tão enrolado pela guia mentirosa. Dois deles garantiram que, em meu lugar, teriam urinado no ônibus.
Até hoje, todas as vezes, quando estou com muita, muita mesmo, imensa, vontade de ir ao banheiro, me lembro de que não é nem 0,1%, isso mesmo, um milésimo, do que senti nas últimas duas horas daquela tarde e nos infinitos metros que separavam a minha poltrona do ônibus ao banheiro do hotel.