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Pai

Eu via meu pai todos os dias.  Há trinta anos, moro sozinho, mas eu usava uma sala do escritório que ele tinha em Pinheiros.  Aos sábados e domingos, sempre passava pela casa dele para tomarmos um café pela vizinhança e levar uns pãezinhos portugueses (também conhecidos como pão caseiro)  da Nova Charmosa das Perdizes, como eu digo, a melhor padaria do mundo.

Esse período, então, era dedicado a ele.  Começo de agosto, dia dos Pais; cinco de setembro, seu aniversário.

Eu alternava os presentes de dias dos pais,  aniversári0 e Natal: um ou dois livros grossos ou uma Cesta de Frutas.    Pesquisava nas livrarias obras  recém-lançadas que certamente o  agradariam  e eu nunca errava.  Em menos de dez dias, terminava um deles; outro tanto de tempo para o segundo.

As cestas de frutas eram montadas no mesmo dia.   Eu estacionava o carro no estacionamento, a cerca de 200 metros do escritório e, feliz, ia pelas calçadas com o presente.  Nesse curto trajeto, sempre, sempre, pelo menos duas pessoas desconhecidas comentavam que estava uma maravilha,  mais de uma pessoa  chegou a dizer que estava  inveja de quem fosse ganhar o mimo.   Mas ele pediu que eu não levasse mais cestas, ainda que menores, porque não dava conta de comer aquela quantidade de  frutas.

Certamente agora,  ele está lá  no céu, se deliciando com frutas fresquinhas, sempre  em porções homeopáticas, batendo papo com os escritores e também com os compositores de música erudita.  Isso sem contar que deve estar visitando ou se encontrando com todas as pessoas queridas.

E eu aqui com saudades, sobretudo hoje.  Próximo dia cinco, essas saudades devem vir com mais força.

Se quiser conhecê-lo um pouco, veja o que escrevi aqui no TROMBONE, logo após sua morte.  Há algumas  frases dele e dois episódios  hiláriaos.  Sem contar um poema lindo que a querida Roberta Estrela D´Alva recitou no Zap por aqueles dias e dedicou ao meu pai.  Clique aqui

Homenagens ao Meu Querido Pai

Na madrugada da última  segunda-feira, aos 93 anos, após mais de um ano e meio de batalha pela vida, meu pai deixou este mundo.  A Missa de Sétimo dia será segunda-feira,  dia 16, às 20 horas, na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, R. Honório  Líbero, N.100  – Jardim Paulistano, São Paulo, Próximo ao cruzamento da Faria Lima e Rebouças.  Como escrevi em email comunicando os mais próximos, basta que peçam na hora da missa que o meu caminho e o dele sejam sempre iluminados e tranquilos.

É bom  nessas horas  lembrar-se  de coisas divertidas de quem parte.  E meu pai tinha muitas.

Vou começar por algumas frases dele.

Depois, duas crônicas minhas e, para terminar, belíssimo Poema da  querida Roberta Estrela D´Alva, que ela leu ontem na abertura do Zap e dedicou à memória do meu paizito.

As frases dele;   curioso, que bem a primeira é sobre velório.

  • O velório é a única solenidade em que o homenageado está impedido de se manifestar.
  • Minha mãe foi a última dona de casa que conheci.
  • “Nossos problemas acontecem porque nos levantamos da cama.”  Alguns,  porque nos deitamos na cama.
  • Com um ponto de apoio, Arquimedes seria capaz de levantar o mundo; com apoio moral, entretanto, não se levanta nem pensamento.
  • Se Deus fosse mesmo brasileiro, imagina  o que seria do Mundo!!!
  • O sujeito velho tem muita coisa pra contar e mais ainda para não contar.
  • O pior da festa é esperar por ela.
  • Quem canta seus males – Espanta!!! – É diferente do que já existe,  observe a pontuação.
  • Para Bolsa de Valores  despencar, basta um peido mais forte no pregão. (apesar de ele, tampouco eu, jamais termos aprovado o mau gosto, a frase é boa e verdadeira.)

As frases acabaram-se.

Agora os episódios que são o retrato escrito dele, pintado/digitado  por este escriba,  que tão bem o conhecia.

Episódio 1: Hiram, Édipo e Genoefa

Os amigos do meu pai dos tempos de São Francisco o definiam assim:

– O Hiram entra no restaurante e já vai logo pedindo, de uma só vez, filé bem passado com fritas, coca-cola, pudim de caramelo de sobremesa e troco para 10 mil Réis.

Quando eu ainda morava com ele, chego em casa e ele me diz:

– Paulo, o Mário ligou e disse que o pai do Fábio morreu.

Eu perguntei onde era o velório. Meu pai disse que o Mário não falou nada sobre velório. Ligo pro Mário e pergunto se ele estava a fim de me encher para deixar um recado que o pai do Fábio morreu e não informar onde era o velório.

O Mário reproduz para mim o diálogo com meu pai:

– Dr. Hiram, tudo bem? O Paulo está?
– Não, o Paulo não está!!!
– O senhor diz para ele que o Pai do Fábio morreu.
– Tá bom, eu digo!!!
– Mas dr. Hiram….
– Já entendi, o pai do Fábio Morreu
– Mas dr. Hiram…..
– Mário, eu não sou burro. O pai do Fábio morreu. Tchau!!!
E bateu o telefone (meu pai é muito educado; a aflição, entretanto, é infinitamente maior…)

Faz uns 25 anos que não moro mais com ele. Ou seja, isso se passou um quarto de século atrás. Imaginem, pois, como está o homem hoje, aos 86 para 87 anos de Idade!!!!

Esqueci de falar, talvez tenha ficado ansioso por osmose – o teclado por estar escrevendo sobre meu pai me passou ansiedade – meu pai é um sujeito brilhante, muito inteligente, lê bastante e usa o computador como um garoto de quinze anos.

Genoefa é a versão feminina e bem mais jovem do meu pai. Eu a conheci – há uns três anos – na entrada dos cines Belas Artes. Eu ia a um filme e ela, a outro. Trocamos meia dúzia de palavras. Na saída, eu devo tê-la impressionado muitississississimo mesmo porque ela estava me esperando. Genoefa e meu pai não são de esperar!!! Coisa alguma, pessoa alguma!!!!  A aflição os mata a ambos. São daquele tipo de pessoas que se jactam de fazer no mínimo três coisas ao mesmo tempo. Eu, ao contrário, fiz foi uma frase sobre isso:

Duas coisas fáceis ao mesmo tempo tornam-se difíceis e uma delas sai errado.
Outra coisa em comum – essa muito favoráveis aos dois, pois prova que são de muito bom gosto:

Eles têm uma “obsessão obsessiva” por mim!!!!

Parece divertido, né???? Mas queria ver qualquer outro no meu lugar !!!

Liás (sem aspas) Genoefa acabou de telefonar neste exato instante em que eu escrevia esse parágrafo – não tinha novidades, mas ficou 15 minutos falando!!!

Tivemos um namoro rápido e uma amizade colorida (essas coisas não terminam, né???).

O dia em que a Psiquiatria/Psicanálise descobrir meu pai, a Genoefa e eu, seremos colocados em uma espécie de carro forte de banco para que nada nos aconteça até que seja estudado exaustivamente o fenômeno que me acometeu:

Envolver-me – não com uma mulher que lembre minha mãe – mas com uma que é meu pai terminado.

Eu sou um Édipo Viado!!!!!!!!

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Episódio 2 – EDMUNDO

De 21.09.06

Segunda-feira, há alguns anos, por volta das 13 horas.

No Domingo, o Edmundo fora expulso com toda a pompa que seu nome requer. Muitas pernadas pra todo lado, um monte de polícia pra retirá-lo do campo, mais tentativas de pernadas nos policiais e assim por diante. Não tenho nada contra esportistas irreverentes, audaciosos e temperamentais. Pelo contrário, sou fã do John McEnroe, Nélson Piquet, entre outros. Também admiro esportistas bem comportados, é verdade. Aliás, faço restrição a poucas celebridades. Jogador de futebol, propriamente dito, só me lembro de um que realmente não agüento. Um dia posso escrever alguns episódios sobre ele.

Voltando ao Edmundo e àquela segunda-feira.

Estava com meu pai em um super-mercado de porte médio. Meu pai foi pagar as contas dele em um caixa e eu estava no caixa diametralmente Oposto. Meu pai é um homem de 85 anos, de ótima cabeça e das pessoas mais educadas do mundo. Fala muito alto, como todo velho, é verdade. Apesar de extremamente educado e tratar os humildes com imensa consideração (aliás, trata bem todo mundo), vira uma verdadeira fera se é alvo de qualquer arrogância e ou estupidez. E parece que arrogância e estupidez eram os grandes atributos do gerente que foi atendê-lo.

Pois bem, meu pai não deixou barato. Com toda a razão, começou a gritar e a esbravejar com o tal gerente.

A moça do Caixa que estava me atendendo falou rindo para todos à sua volta:

– Ih gente, olha lá o Pai do Edmundo!!!!!!

Peguei meu troco às gargalhadas com a definição da mulher. Sem dizer nada, evidentemente.

Meu pai se diverte até hoje contando essa história para todo mundo. Eu, por minha vez, ganhei um irmão famoso!!!!
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Para terminar,  o Deslumbrante Poema da Deslumbrante Roberta Estrela D´Alva que ela leu ontem no Zap  e dedicou ao meu Pai.

Dança da morte –
Roberta Estrela D’Alva

Boom , e acabou
ou começou
o que restou
o que ficou
dor que chegou
dor que findou
roda girou
vento levou

a vela apagou
a chama ascendeu
a voz se calou
o corpo desceu

a saudade no peito não para, não cala , não sara
insiste não quer parar.

mas já sabíamos desde o começo
que essa vida é curta e tem seu preço
e o que vem depois eu desconheço
embora soubesse o fim já  desde  o berço

que a cada minuto, a cada segundo,
a cada palavra, a cada oração
caminhamos direta e inexoravelmente  nessa direção
e são tantas histórias
e são tantas feridas
e são de saudade
as lágrimas quentes agora vertidas
injustiças, inverdades, cometidas e ditas
pela não compreensão
da eternidade, da imortalidade
pela falta de fé e  ilusão
pois o retorno é inevitável
são só dois lados do mesmo som
morte e vida , vida e morte
matérias primas de toda criação

a carne se desfaz mas o espírito não
o flow  da vida segue,  o beat não para, só coração

a carne se desfaz mas o espírito não
o flow da vida segue, o beat não para, nem o coração!

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Que ele esteja bem lá no Céu e descanse de tanta correria aqui na Terra!!!

Beijo, Paizito Querido.

Fique com Deus, com seus amigos,  nossa família, mas dá sossego pra todo mundo aí cima, viu???

Batalha de Poesia

Amanhã, como toda segunda quinta-feira do mês, mais um Zap – Zona Autônoma da Palavra, a partir das 20 horas no Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, Rua Dr. Augusto de Miranda, 786 – Pompéia, Zona Oeste da cidade  de S. Paulo.  Trata-se de batalha de poesia, sobre a qual já escrevi diversas vezes aqui. Veja o simpático flyer, digo o simpático frasista do Flyer, deste mês.  Não tão importante quanto a foto, é lógico, o flyer contem  informações adicionais (muitos risos).  Se quiser ler outros posts sobre o Zap , clique

Microfone, Minhas Frases e Eu Mesmo no Zap - Flyer

Agora, para se animar mesmo, veja o vídeo da  apresentação de Roberta Estrela Dalva, uma das produtoras do Zap, no Slam de Poesia de  Paris, em 2011. Roberta foi uma das três  finalistas.  Clique

Slamer, Cantora, Performática – Roberta Estrela D´Alva Apresenta-se no Projeto Cidade Sonora

O Projeto Cidade Sonora, que divulga os novos sons de Sampa, na Funarte, sala Guiomar Novaes, Barra Funda/Centro de São Paulo,  apresenta no Domingo – 21/10 – Roberta Estrela D´Alva e Convidados, a partir das 16,30 horas.

Roberta é performática, slamer e cantora.  É ela quem apresenta – todas às segundas quintas-feiras do mês,  o Zap, Zona Autônoma da Palavra, batalha de poesias do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos.

Roberta ficou entre os três finalistas na Copa do Mundo de Slamer em Paris em 2011.  Assista ao  vídeo dessa performace internacional dela.  Clique aqui

Assistiu???  Gostou???  Vai perder???  Eu não perco de maneira alguma.

"Panfleto Eletrônico" de divulgação do Espetáculo de Estrela D´Alva no Cidade Sonora.

Mais informações sobre o Projeto Cidade Sonora, clique aqui .

Mais sobre o Zap, excelente programa para quem gosta de Batalha de  Poesia, clique aqui

Lia Cordoni com Seu Samba Fusão, Sarau Sopa de Letrinhas e Hip-Hópera Brasileira – Alternativas de Lazer

Quem gosta de bons espetáculos, e não está em busca de lugares badalados para  ver e ser visto,  tem boas opções para os próximos dias.

Na sexta-feira, dia 28, a bela e talentosa cantora Lia Cordoni apresenta seu show Samba Fusão, com músicas do marido, Jairo Cechin, no Espaço Cultural Alberico Rodrigues, na Pça Benedito Calixto, 159, Pinheiros, São Paulo. Fone 3064-3920, a partir da 20 hs. Amostra Grátis do Show clique aqui. Mais informações no site da Lia. Clique aqui

Aviso importante: marmanjos, não se entusiasmem demais com a beleza da moça porque ela é casada com o Jairo que vai estar ali, bem pertinho:  no Palco.

Mais lazer fora do circuito da badalação:  Sopa de Letrinhas, tradicional Sarau do Clube Caiubi que está completando 10 anos.  O Sopa é uma festa/confraternização tropicalista onde vale tudo: poesia, mágica, música, absolutamente tudo.  Nesse mes de outubro, excepcionalmente, acontecerá sábado dia 29, a partir das 21 horas, no Bar Bagaça: Rua Clélia com Jeroaquara, na Lapa.

Normalmente, o Sopa é na última sexta-feira do mês.  Ficou ótimo assim: Lia sexta; sopa, Sábado.

Leia mais sobre o Sopa , (lembrando apenas que o endereço que vale é Rua Clélia com Jeroaquara, e que em outubro, excepcionalmente, será  sábado e não sexta-feira.  Sopa de Letrinhas, vou deixar link de um post antigo aqui do Boca. É bom esse post porque ele contem links para músicas do Vlado Lima e de um Grupo ultra-irreverente que se apresentou lá, chamado de Moral de Bons Costumes.  Clique aqui, ouça as músicas cujos links estão no post e ria muito

Finalmente, Orfeu, uma Hip-Hópera Brasileira,  do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos. Colo  abaixo  o Release.

“Entre 28/10/2011 e 04/12/2011

A montagem Orfeu Mestiço – Uma Hip-hópera Brasileira, com linguagem inovadora, traz para o palco o mito de Orfeu, relacionando-o ao período da ditadura militar. A peça une o virtuosismo da ópera aos elementos da cultura popular urbana.

A narrativa mostra o retorno de um político ao seu passado, atrelado à ditadura. Um telefonema sobre a exumação do corpo da esposa, desaparecida no período naquele período, coloca o homem em contato com um passado que, por anos, tentou esquecer”

ORFEU MESTIÇO – UMA HIP-HÓPERA BRASILEIRA

FICHA TÉCNICA

Texto e Direção: Claudia Schapira.

Direção Musical: Eugênio Lima e Roberta Estrela D’Alva.

Direção de Movimento e Coreografias: Luaa Gabanini.

Atores-MCs: Cristiano Meirelles, Daniele Evelise, Eugênio Lima, Luaa Gabanini, Ricardo Leite e Roberta Estrela D’Alva.

Músicos-Ogãs: Alan Gonçalves, Cassio Martins, Eugênio Lima e grupo Treme Terra: Bruna Braga, Bruna Maria, Daniel Laino, Giovane Di Ganzá, João Nascimento e Lígia Nicacio.

Cenografia: Daniela Thomas.

Vídeo: Tatiana Lohmann e ZoomB Laboratório Audiovisual

Desenho de Luz: Francisco Turbiani sob orientação de Cibele Forjaz.

SERVIÇO

Estreia: dia 28 de outubro

Temporada: até o dia 4 de dezembro.

Sextas, sábados e domingo às 20h

Capacidade: 50 lugares

Duração: 150 minutos

Ingresso: contribuição voluntária, pague quanto puder

Classificação: 14 anos

Núcleo Bartolomeu de Depoimentos

Rua Dr Augusto de Mirada 786, Pompeia

(11) 3803-9396  (11) 7737-9565

Não assisti aos ensaios, tampouco sei maiores detalhes, mas Roberta, Eugênio, Cláudia e Luaa Gabanini também produzem o Zap, sobre o qual já falei  algumas vezes. Se quserem ler sobre o Zap, cliquem aqui

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Como foi dito, diversão garantida e variada para os próximos dias. Aproveitemos, pois.  Pretendo ir a tudo!!!