Sempre gostei de crônicas. Quando era criança, dava-me bem nas aulas de redação. Lembro-me, inclusive, de um episódio. Roberto, que hoje é grande amigo, e eu estávamos no Ginásio. Precisávamos estudar matemática e ainda fazer uma redação. Na matemática, a mornice de sempre. Devo ter tirado um medíocre seis na prova.
Aí, na hora da redação, fiz a minha rapidinho e a dele não saía de forma alguma. O tema, vejam vocês, desde aquela época, já era assunto polêmico: a emancipação feminina.
Na introdução da crônica que escrevi para ele, dizia que o tema era vasto e que me restringiria a dois tópicos: mulheres ao volante e no mercado de trabalho. Discorri um pouco sobre os dois aspectos, certamente, usando o chavão que os homens dizem para mulher barbeira:
– Vai pilotar fogão, dona Maria.
E terminava mencionando mote de propaganda de TV na época, que a mulher lutou tanto, conquistando até o direito de tomar cafezinho no balcão.
Resultado, ninguém falou nem bem nem mal da minha redação, mas a do Roberto! Que sucesso. Eu, que sempre fui meio metido a engraçadinho, achei o maior paradoxo ter dado bem a mais divertida para ele.
E assim, quando me sobrava tempo livre, escrevia. Aliás, escrevo; usei escrevia porque até entrar em prestigiado curso de Criação Literária, achava que crônica era contar coisas leves, fluídas. Agora, descobri que crônica tem que ter conflito.
E sobre uma das últimas crônicas que fiz, o professor disse que havia o conflito, mas não era no ponto em que devia estar.
Aí lembrei-me de piada.
Mulher diz:
– Finalmente, tive um orgasmo, mas descobri que era do tipo errado.
Então, vou colocar um conflito aqui: minhas crônicas não agradam o Gilson (orientador do Curso), mas, mês passado, crônica minha foi classificada em 2. Lugar em Concurso do qual participavam associados de diversos clubes do Estado de São Paulo.
Usando a mesóclise do nosso tão desprestigiado presidente, poder-se-ia dizer: não foi orgasmo, digo crônica, do tipo certo, mas ganhou Prêmio.