Permitir que carros com vidros nigérrimos circulem pelo país é absurdo que minha cabeça não é capaz de entender.
Fiz conto a respeito. Já devo ter escrito aqui várias vezes a sobre o tema. Vou postar o conto a seguir. A leitura do conto é mais agradável, assim sugiro que leia primeiro um dos textos abordando aspectos sérios da coisa, digo, infernais insulfilmes.
Bem, antes de passar aos textos propriamente ditos, minha atitude no trânsito nos dias de hoje.
Sempre fui gentil, sobretudo no trânsito. A pessoa olhava para mim, indicava que queria/precisava entrar na minha frente por qualquer razão que fosse, eu sorria, acenava que sim com a cabeça ou fazia um de dedão de positivo. Pois bem, hoje se um motorista com vidros negros no carro encontra algum obstáculo e está precisando mudar de mão e entrar na minha frente, eu não deixo. Meu raciocínio é simples, lógico e respeitoso: se ele não quer ser visto, faço questão de atender seu desejo e ignorá-lo.
Link para o texto sério – clique aqui
Lá vai o conto:
Vidros Negros –
Laura estava mais do que Feliz com os vidros nigérrimos que acabara de colocar no seu Golf. Tão bons, mas tão bons, que, em plena luz do meio dia, sol a pino, ela mal conseguia distinguir a cor das pessoas na rua.
Para comemorar a novidade, Dry Martini com Tanqueray e Noilly Prat, no Tops, sofisticado bar/restaurante perto da Rua Augusta.
– D. Laura, mas a senhora caprichou mesmo nesses “vidros filmados”, hein??? Nem vi que era a senhora, disse o Porteiro, quando ela abriu a porta.
– Segurança, Tião, Segurança…
– Vai com calma nos drinques, viu D. Laura???!!!
– Tião, cê sabe que nunca bebo mais do que dois drys martinis. A partir do terceiro, não sou mais eu, é outra pessoa, falou repetindo a frase de algum ator famoso, cujo nome nunca conseguia lembra-se, principalmente depois dos drys martinis…
Medonho e Pimentinha, que moravam no Treme-Treme da Rua Paim, não acreditaram.
Eles beiravam à marginalidade, vendendo um ou outro objeto de procedência incerta. Sim, vou dar a eles de lambuja que não saber de onde vinham, notebooks, Iphones, Ipads, Aifodes, e todo tipo de gajets que revendiam, sempre por menos da metade do preço das lojas, não seja contravenção. Crimes, crimes mesmo, assaltos a mão armada, essas coisas, não eram com eles.
– Aquela delícia vai sair de lá de dentro bêbada igual a um peru, disse Medonho, esfregando as mãos e lambendo os beiços.
– E nós estamos às vésperas do Natal, Medonho!!!
Caíram na Gargalhada.
– Pimenta, o Espírito de Natal ainda não baixou em você???
– Lógico, Medonho. O próximo lap top que a gente “comprar” vou dar para minha madrinha levar para o orfanato onde ela é voluntária.
– Que generosidade mais mesquinha, Pimenta. A minha vai ser bem mais generosa, você vai ver!!!
Todo mundo que trabalhava na região servindo os bacanas era chapas deles; os eletrodomésticos que tinham em suas casas haviam ganho da dupla.
Não enfrentaram qualquer dificuldade para entrar no estacionamento, onde estava o carro de Laura, umas duas horas depois que ela havia entregue ao Manobrista. Quando ouviram o porteiro gritar o número do cone sobre o Golf, rapidamente, se acomodaram entre os bancos. Ninguém percebeu coisa alguma.
– Dona Laura, Dona Laura, tô vendo que a senhora tava mesmo seca por Dry Martini!!!
Os dois riram da gracinha de Tião.
– Vai com Deus, Dona Carla!!!
– Pode deixar, Deus protege as crianças e os bêbados, no caso bêbadas. Tchau Tião!!!
Quatrocentos metros depois do restaurante, Carla sente uma ponta de faca em sua barriga:
– Perdeu, Playboy, Perdeu!!! Digo, Playgirl!!!
E gargalharam de mais uma gracinha infame.
– Toca para a Raposo, lá a gente escolhe um motel.
– Calma Pimenta, calma . Agora é a hora da minha generosidade de Natal. Liga pro Tiozinho Teotônio do 51 do nosso prédio, fala para tomar dois Viagras porque ele vai participar da Festinha com a gente.
No caminho do restaurante ao Treme Treme da Rua Paim, da Rua Paim até o Motel Too Much Love, na Raposo, cruzaram com dezenas de policiais. Ninguém viu ninguém que estava dentro do Carro.
Pimenta, que, como o próprio nome de Medonho denuncia, tinha aparência mais legal, sentou-se no Banco da Frente. Passou para Laura uma carteira de identidade falsa que ela entregou na Portaria. Antes que Carla entrasse com o carro na área dos apartamentos, falou para a Funcionária:
– Por gentileza, pede um bom Champagne Branco, Um Rosé e quatro taças para nós.
Os três divertiram-se muito até altas horas.
Ao Abrir a Segunda Garrafa, Teotônio, animado como nunca, saúda:
– Um brinde a vocês e ao Inventor do Viagra.
– Pimenta, eu não lhe disse que minha generosidade seria muito mais generosa do que a sua???, falou, orgulhoso, o senhor Medonho.
No dia seguinte, a primeira providência de Laura foi levar o Golf à Loja de Auto-Peças:
– Arranca logo essa porra de insulfilme do caralho!!!, gritou ao abrir a porta.