CONVERSA ANTIGA- MILLÔR FERNANDES
(…)
Ah que tempos, Dona Santa!
– E que moral, seu Moreira!
Eu aqui onde me vê
Lavo e passo meio dia
Fico o resto na cozinha
Enquanto minha filhinha…
Juventude transviada!
– Eu nunca pensei viver.
Em era tão desregrada
– Ah, não me faça falar,
Se continuar assim
Onde é que vamos parar?
– Que modos, que roubalheira
Que moral, dona Santinha!
– No meu tempo de solteira
O mundo viria abaixo
com metade disso aí.
Quanta falta de juízo!
– Até as roupas, me diga,
Voltamos ao Paraíso!
– Isso mesmo, seu Moreira;
Aqui mesmo, essa vizinha,
Vai à Praia nuazinha.
– Não há mais respeito ao próximo:
E sem Falar na Política!
Ah, isso, então, seu Moreira,
Falar é até besteira.
O Tempo dos conselheiros,
Dignidade, nobreza.
– E o Senado, que grandeza!
– Hoje só há maroteira.
– Ah, que tempos, dona Santa!
– Ah, que moral, seu Moreira
(E assim por Diante)
INCREDULIDADE – MILLÔR FERNANDES
Poesia com quase certeza
– Político rico
ex-abrupto
vem me dizer que não é
corrupto
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Adivinhe de quando são os poemas!!! Não olhe para baixo, empenhe-se em adivinhar.
CONVERSA ANTIGA – 1950; INCREDULIDADE – 1954.
Bobinhos todos aqueles que pensam que escândalos são coisas recentes, inéditas e/ou exclusivas de políticos brasileiros.
Escrevi, menos de um mês atrás:
“Agora é Palocci quem aparece no noticiário como tendo multiplicado seu patrimônio por 20 em quatro anos.
Quase todos que ocupam um cargão sempre enriquecem muito. Não é de hoje e não é só no Brasil. Porque é comum não quer dizer que está certo. É só um fato.
As provas.
- Político brasileiro importante, muito respeitado, sobre quem jamais pairou a menor dúvida, conhecido como professor universitário, que ocupou cargo importante na década de 50, nasceu em um casa ultra modesta de dois ou três metros de frente. Ao morrer, entre os bens que deixou, havia uma fabulosa fazenda no Interior de São Paulo, na qual já me hospedei quando era do dono anterior.
- O político/astro de cinema Ronald Regan, ao deixar a presidência dos Estados Unidos, ganhou uma mansão de alguns milhões de dólares. Terá sido por conta dos relevantes serviços prestados à arte cinematográfica americana???”
Digo brincando. Sou como o Chacrinha: ouça o que eu digo porque o que eu digo não tem nos livros!!! Estão aí poesia/verso de Millôr mostrando que o que eu digo não está tão errado assim.
Quando a direita babona e raivosa vem espumando a falar besteira, lembro-me de frase ótima, também do Millôr que, pretensioso, suponho tê-la tornado ainda mais contundente. Lá vai:
(…) “um cara muito opinativoraramente tem opinião própria (Millôr)” – e o mais grave: escolhe sempre ser porta-voz do que há de pior.