A propósito do Globo Repórter, sobre Feiras Livres, que vai ao ar logo mais pela TV Globo, além de colar texto já publicado aqui no Trombone, tinha editado interessante debate de leitores a respeito do tema e ainda tecido algumas considerações. Bem, lá vai o texto de 2010, quando o Prefeito Kassab restringiu o horário de funcionamento das Feiras Livres.
Lá vai o texto:
O decreto do Prefeito Gilberto Kassab restringindo o horário do funcionamento das feiras livres em S. Paulo, em vigência desde o dia 30 de janeiro, é um gancho (que pego meio atrasado) para algumas considerações.
1. Sempre achei extremamente anti-higiênico carnes, peixes e frangos serem vendidos na feira, debaixo daquele calorão, tomando sol e poluição por horas a fio. Jamais comprei.
2. A perpetuação de prática tão extemporânea, suponho, só se justifica por um certo atavismo. Não faz o mais mínimo sentido ruas de cidades de milhões de habitantes serem fechadas nos dias de feira, causando incômodo sem fim para os moradores e mais caos ainda (se é que é possível) no trânsito.
3. Mesmo o mito de que frutas e verduras são mais fresquinhas na feira é mito, apenas mito. Conversando com um feirante de frutas, comentei o trabalho que devia dar carregar e descarregar o caminhão ao chegar em casa. Ele me disse que não descarregava coisa alguma: as frutas ficavam no caminhão, assando debaixo da lona, sob o sol.
4. “Moça bonita não paga, mas também não leva”. A brincadeira é boa e não é tão brincadeira assim. Nas feiras, algumas barracas colocam preços; a maioria não. Ou seja, moças e moços bonitos (entender como fregueses e freguesas) mais bem vestidos fatalmente pagarão mais caro.
5. Aliás, a esse respeito, Mercados Municipais também têm a mesma postura. A prefeitura deveria obrigar o comerciante concessionário a colocar preços em todos os produtos.
6. Não conheço a cidade inteira, mas suponho que haja super-mercados espalhados para quase todos os cantos.
Ou seja, continuar comprando frutas cozidas pelo sol, carnes idem expostas ao sol e pagar preços aleatórios deveriam ser coisas do passado remoto!!!
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Agora pequena batalha travada entre alguns poucos leitores; batalha protagonizada por Cláudia Maria Crivellente e Vicente. Respondi todos os comentários na ocasião, mas aqui fica só o debate
Primeira Leitora a Comentar – Silvia Tieko:
Sou filha de feirante aposentado e posso garantir, sim, que eles vão todos os dias no Ceasa, levantando as 4 da manhã, para garantir mercadoria fresca todos os dias para os consumidores – faça chuva, Sol, borrasca ou o que for. Atualmente sou gerente de marketing de uma empresa de TI, e faço um serviço muito mais humano do que o dos meus pais. Por isso fico indignada com pessoas que criticam as feiras sem conhecer os esforçados feirantes, pessoas simples, que prefeririam trabalhar no ar-condicionado, como eu e você, mas muitos são pessoas de idade, sem outra opção para sobreviver.
Sim, existem mercadorias que não resistem ao Sol encontradas na feira. Mas qualquer dona-de-casa sabe diferenciar mercadoria passada para não comprá-la. E aqueles que comprarem mercadoria passada na feira, comprariam mercadoria passada no mercado também. Esse argumento de que não existe mercadoria fresca na feira é absurdo, quem compra sabe que as frutas e verduras da feira duram mais do que as compradas no mercado. Se não fosse assim, as feiras não estariam lotadas de fregueses.
Acho inadmissível ter que comprar tomate escondida, pois os feirantes estavam com medo dos policiais, como aconteceu comigo por ser 12:25 hs, sendo que compram crack na Praça da Sé 24 hs por dia. Enquanto a polícia está fiscalizando trabalhadores honestos e legalizados para que diminuam os lucros sem pagar menos impostos, os assaltantes e traficantes estão atuando 24 horas por dia com a atenção a menos desses policiais.
A propósito, duvido que o autor do texto ou os que escreveram os comentários comprem frutas ou verduras para saberem opinar sobre isso. Sem ofender, perguntem para suas mães, com certeza, elas apreciam as feiras-livres.
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2. Leitora – Cláudia Maria Crivellente:
Concordo com a Silvia e acrescento: feira para mim é uma coisa linda! É colorida, dinâmica, engraçada. Gosto de ver aquela coisa humana da feira: o contato direto com o vendedor, as mãos sujas de terra, os manuscritos nos varais, nada de balanças, propagandas chatas, ar refrigerado gelado. Sem contar a singeleza das graças, das brincadeiras, trocadilhos e gestos que fazem da feira um passeio divertido. Nenhum dia se repete ou é monótono. As coisas na feira são sérias, mas com graça e improviso. A feira tem calor e tem vida.
Eu vou à feira. E vou chegando, escolhendo, reclamando, pedindo… tô em casa.
Quanto aos alimentos eu não tenho nenhuma queixa; costumam estar sempre frescos, sem contar que são vendidos por um preço justo.
Viva a feira livre!
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3. Leitor – Vicente:
É tudo muito lindo!
Gostaria de saber se alguma dessas donzelas tem a feira livre na portya de suas casas! Tudo é muito lindo para elas que fazem feira na porta dos outros.
Não pago menos IPTU, a água potável que utilizo para lavar a calçada, pois a varrição e a lavagem da Prefeitura é para “inglês ver”´, sou eu quem paga. O estacionamento avulso que tenho que deixar meu veículo nos dias que precedem as feiras, sou eu quem paga. Então pergunto:
Onde está a poesia das feiras? A mão suja de terra do feirante? Minha filha, não viaje na maionese. O que proponho é que se faça um rodízio das feiras livres e que por dois anos seja na porta da casa das donzelas que acham tupo poético.
Completando o comentário do Paulo a respeito do extremamente anti-higiênico – Uma coisa que ninguém vê nas feiras livres: Banheiro para os feirantes. Onde eles fazem seu xixi e seu coco? Lavam as mãos? Estão com as mãos cheia de terra? Ou de bactérias? A prefeitura não disponibiliza banheiros químicos. Não há a menor higiene. Vou dizer como os feirantes da minha rua fazem: Xixi em sacos pláticos e jogam em cima dos telhados das garagens. Isso é poético?
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Réplica de Cláudia:
Caro fidalgo Vicente, a chuva lava a calçada, a bicicleta substitui o carro… Para que se estressar?
Quem sabe você ainda não terá a sorte de ver nascer na porta da sua casa um pé de maracujá. Faça com ele um bom suco, se acalme que eu te convido para um sarau de poesia.
Façamos um brinde: Tim, tim!!
Cláudia
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Tréplica de Vicente:
É prezada donzela, parece que na porta da sua casa não tem feira! Que pena! Pessoas como você deveriam exigir que montassem feiras livres na sua porta! E mais, na minha porta não nascerá um pé de maracujá, pois a barraca que fica em frente é a do Peixe! Que pena! O Sarau fica para um outro dia!
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Outro leitor, Vlamir J. Carvalho
Concordo. Feira-livre é uma prática medieval, atrapalha os moradores da rua e o trânsito, fora a sujeira que ela deixa e ainda desvaloriza o imóvel na rua da feira. Um local fixo em cada bairro, com os moldes da feira, seria muito melhor para todos.
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Estão todos convidados a conferir logo mais, às 22,22 hs, no Globo Repórter, embora, pelo que li no informe da programação da Editora, a vida dos feirantes é que estará sendo abordada. De qualquer forme, deve ser curioso, mas já vou assistir com a certeza de que não terá a vibração desse debate aqui do Trombone.