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Há dinheiro que pague

A proposta era fazer texto, prosa ou poesia, usando anáfora – “repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois ou mais versos” Lá vai meu conto, cheio das minhas idiossincrasias.

Sou redator de publicidade, ganho dois milhões  por mês.  Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar,  taquicardia.

A Microsoft  contratou a agência onde  trabalho para a campanha do novo  smarthphone  para   adolescentes.

Adivinha um, a dupla escolhida  foi a minha.

Adivinha dois,  o briefing traz as palavras chaves  que, obrigatoriamente,  deverão ser usados: expressões batidas, nada além de expressões batidas.

Sou redator de publicidade, ganho dois milhões  por mês.  Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar,  taquicardia.

Veja as palavras.  Vou me limitar a copiar e colar para não ter que escrever, pois, como você  sabe, sou redator de publicidade, ganho dois milhões  por mês.  Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar,  taquicardia.

Aliás, vou pedir para minha secretária fazer isso, já que não consigo, sequer,  olhar para as malditas palavras e expressões.

Ela fez:

•    Poderosa

•    Diferenciados

•    Tal coisa  é a minha cara•

Tudo de Bom

  • •    Bombar

•    Eventos

•    Rolar, no sentido de acontecer

•    Galera

•    Caiu a fixa

  • Ninguém merece
  • Menos é mais                                                                                                                             E, obrigatoriamente, no anúncio para televisão,  um dos jovens que aparece, ao invés de falar “liga pra mim, mais tarde”, faz o gesto de  botar o dedão no ouvido e o minguinho na boca.  Deveriam cortar a mão de quem faz esse gesto, como disse conhecida minha.  Sempre odiei isso.  Quando a ouvi se expressar com tal  veemência,  fiquei em êxtase.

Mas achei solução, afinal trabalho com criação, essa rima ficou bonitinha, não ficou?

Combinei com o diretor de arte que ele faria o trabalho  com redator amigo nosso de outra  Agência de Publicidade.  Os dois aceitaram e me prometeram  sigilo absoluto.  Como teriam que trabalhar fora do expediente, prometi quinhentos mil reais para cada um.

E mais, programei viagem para nossa filial no Rio de Janeiro,  exatamente no dia da apresentação da campanha para o cliente.

Afinal, sou redator de publicidade, ganho dois milhões  por mês.  Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar,  taquicardia.

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Na verdade, o texto acima é uma colagem de dois outros já postados aqui: Rico Vocabulário e Rico Vocabulário 2. Também há texto aqui sobre fabulosa peça de Lúcio Mauro Filho em que ele passa o espetáculo inteiro só falando Clichês.  Quiser ler e assistir a um trecho, clique

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Esses tópicos ficaram meio fora de ordem por culpa do blog e não por falta de tarimba minha para trabalhar com ele, afinal já são mais de 10 anos.

 

RICO VOCABULÁRIO!!!

No começo, não era o verbo.  No começo era o Válido. 

Você deve se  lembrar.  Década de 70:  era só alguém dizer qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo – Que tal  um café???, por exemplo – e a possibilidade  de um pseudo-intelectual responder:  – Muito válida essa idéia!!!- era de mais de 90%.

Há cerca de quinze anos,  foram  as invasões do De Repente e do A nível de, expressões que não servem absolutamente para coisa alguma.  Ou seja, o “pseudo”  pode falar ou escrever quantos de repente e quantos a nível de ele quiser.  Se cortarem todos eles, não farão a menor falta; pelo contrário, será um alívio para o ouvido.

O válido era um ligeiro horror; o de repente e o a nível de,  horrores médios.  Mas, presta atenção, como diz um amigo, os chavões de hoje me fazem ter saudades deles!!!

Inventaram uma língua nova!!!

Não se diz mais que uma pessoa é legal, inteligente, bacana.  Reduziu-se tudo isso a:  PODEROSA.  Que POBREZA!!! 

Mas ainda pode piorar.  Sujeitos  com os atributos (será que quem fala poderoso sabe o que é atributo???) acima também podem ser DIFERENCIADOS!!!

Os ditos diferenciados  não gostam de uma roupa, de um restaurante.  Para dizer que gostam, exclamam:

– Tal coisa é a minha cara!!!

Afe!!!

Também tem o Tudo de Bom que deve ser mais ou menos aquilo que é a minha Cara – cara deles, naturalmente – já que dentro dessa riqueza morfológica, tô fora!!!

Dá até para fazer um  diálogo:

Vamos combinar: com certeza,  vai bombar.

O outro apresenta alternativas, digo, eventos:

– A gente dá uma passada, vê o que tá rolando. Aí a gente  liga (faz o gesto pondo  o dedão no ouvido e o dedo mínimo na boca) pra Galera. Se der caixa postal,  a gente pede pra retornar a ligação.

Caiu a minha ficha!!!  Quem sabe,   a gente já alavanca outra balada para amanhã.

Que saudades do Válido.  Vou me dar direito, não a um chavão, mas um verso:  Eu era feliz e não sabia!!!

Terminando com lamento modernoso:

NINGUÉM MERECE!!!