Daqui a menos de duas horas, estréia, na Globo, Dercy de Verdade, mini-série sobre a fabulosa Dercy Gonçalves, cujo talento e absoluta irreverência a levaram aos 101 anos de vida.
Há cerca de 18 anos, assisti a um show dela em teatro no começo da Brigadeiro Luis Antônio.
Era jovem, no ginásio, não tão ingênuo, e também não tinha noção de que nas cirurgias plásticas – pelo menos naquela época- as pessoas eram esticadas. Vi na televisão a Dercy falando sobre o assunto:
– Já fiz tanta plástica que um dia ainda acabo barbuda.
No dia seguinte, na escola, eu disse que não havia entendido. Os colegas explicaram.
– Ah, bom!!!
12 horas depois, entendi a piada. Boa, mas bem primitiva!!!
No show, ela contou que durante os anos da ditadura, todos os dias, alguns militares pegavam os jornais, abriam na seção de necrologia para procurar o nome dela e exclamavam:
– Ah, aquela Filha da Puta ainda não morreu.
E aí, fulminou:
– Eu é que vi todos eles morrer!!!
Para ir a esse show havia estacionado em uma travessa bem próxima do teatro. Nessa travessa havia uma saída do teatro. Fiquei conversando ao fim do espetáculo. Cerca de uns 25 minutos após o fim da peça, ao passar em frente a essa saída lateral, encontro Dercy; em Pé e sozinha. Pergunto se não queria uma carona e ela me diz que viriam buscá-la em seguida. Ofereci-me para fazer companhia a ela enquanto não chegasse sua condução. Ela disse que eu podia ir embora sossegado porque ela estava bem. Agradeceu minha gentileza, mas não quis que eu esperasse com ela.
Dercy, lá no Céu, também deve estar se preparando para assistir à série e durante os capítulos dizer diversos palavrões de aprovação ou reprovação – mas, sempre uns bons palavrões!!!