Exatos dez anos atrás, Brasil conquistava sua quinta Copa do Mundo, na Ásia, derrotando na final a Alemanha por 2×0, com dois gols de Ronaldo.
Detalhe, e, como eu digo, é nos detalhes que reside todo o charme, que certamente muito poucos perceberam. A bela Taça estava sobre um suporte no próprio campo e não havia qualquer pódium ou lugar de destaque para os jogadores.
Ao receber o troféu, o Capitão Cafú, no meio daquele mundo de cartolas, dá uma examinada no frágil suporte de madeira onde estava pousada a taça, testa sua resistência e sobe para então levantar o troféu. Correu imenso risco, pois a frágil estrutura poderia não agüentar seu peso, abrir-se ao meio e atingir sua virilha e por um ponto final à sua carreira naquele momento.
Algum intelectual comentou que ele fez aquilo para mostrar ao mundo que no futebol o jogador é o mais importante, é quem merece estar acima daquele mar de cabeças de cartolas.
Corte.
Mil anos atrás, jovem professor de português dava complexa, longa e perfeita explicação do significado contido na marca de ferro em brasa que foi marcada na bunda de Vitorino Carneiro da Cunha, o Papa-rabo, do romance Fogo Morto, de José Lins do Rego.
Rapaz delicado, não bicha, porém delicado, de longos e lisos cabelos, pergunta ao professor:
– Você acha mesmo que em algum momento passou-se pela cabeça do escritor uma ínfima parte do que você está concluindo do texto dele?
Lembro-me de que na época da Copa do Cafu, disseram algo muito semelhante em relação à atitude do Cafú, que o jogador fez aquilo por fazer, sem pensar em estar acima de cartola e que era tudo uma viagem.
Pois eu tenho certeza de que Cafu quis significar com seu gesto exatamente isso (jogador acima de cartola) e que José Lins do Rego, ao escolher o símbolo do triângulo inserido no círculo, também quis dizer o que o professor explicou. Ao certo, de maneira insconsciente, mas eram essas as inteções de ambos. Repito, tenho certeza.