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Garrafa de Champagne

Mesmo com o preço camarada que o Toninho Mariutti,   banqueteiro de nove em cada dez  milionários paulistanos , cobrou, já que estudamos juntos no Ginásio, o  jantar para meu chefe,  a mulher,  eu e minha namorada saiu uma fábula.

Tudo na  vida é relativo.  Para qualquer um da Fiesp, aquilo era dinheiro de Pinga;  para mim,  suficiente para eu viver bem umas três semanas.

Mas era bom investimento:  o cargo de Diretor de Comunicação estava em Jogo.

Perfeição  discreta  nos mínimos detalhes.     Cardápio do Jantar,  em pergaminho,   escrito por  calígrafo ao lado dos prato de cada um dos convidados. Quatro taças:  para a água,  para o Jerez que acompanharia o melão com presunto cru;  a terceira para o Quinta da Bacalhoa para o bacalhau ao forno com arroz, batata ao murro e brocoli e a última para o Vinho do Porto 20 anos, que harmonizava à perfeição com os mini doces portugueses da sobremesa.

Na sexta, a mesa foi posta e coberta com uma toalha.

Chegou o sábado, chegou minha namorada, chegaram meu chefe e a mulher.  E, logo depois,  sem aviso,  sem nada, chegou  o Marcílio.  Mal  o interfone tocou e ele já estava com o dedo na Campainha.

Abro a porta.

–  Ora, uma festança dessas e você nem me convidou.

– Marcílio,  esse jantar é para o meu chefe  Roberto e Renata, mulher dele.

–  Paulo, onde comem 4, comem 5!  Junta mais os pratos que vou colocar um lugar para mim.

– Divertido seu amigo, Paulo. Boa ideia ele jantar conosco.

– Tá vendo, como eu sou aceito por todos.

– Jantar com chefe tem que ter Champagne, vou à geladeira pegar a garrafa que eu trouxe no Natal e não abrimos.

–  Marcílio, não, não.  Não chacoalha a Garrafa.

– Tem que estourar.  Um, dois, três.

A garrafa estava apontada na direção  da Renata.  Champagne por todo o colo dela e a rolha bem na sua testa.

– Vou à cozinha pegar sal para colocar nesse galo e já trago um pano de prato, disse Marcílio.

Quando demos pela coisa, ela já tava  passando sal na testa da Renata e o pano enxugava o champagne do Decote.

– Vou voltar para a cozinha e re-organizar o jantar.  Repetindo, onde comem 4, comem 5.

– Pensando bem…     ia continuar  Roberto

– Pensando bem, nada como o inesperado para dar sal ao Bacalhau.  Sal ao Bacalhau!  Gostaram dessa?

Quatro pratos de Pirâmides de melão entremeadas de Presunto Cru foram transformados em  cinco gororobas.

–  Esse é um clássico da gastronomia que nunca sai de moda.  É sempre uma delícia,  ainda  que o visual não esteja lá essas coisas,  não é mesmo, galera?

– É!  em uníssono!

– Terminem aí o melão, que eu vou cuidar do bacalhau.

– Não, não, protestou  Ana Cristina, minha namorada.

Faço questão.

Cinco minutos depois, ele aparece com uma imensa travessa.

– Vejam, criação minha:  risoto de bacalhau,  misturado com florzinhas de brócolis e pedacinhos de batata!  Não tá lindo?

– Faço questão de servir.

– Primeiro, a vítima da minha rolha mortífera, e dá uma gargalhada.

Para cada um que servia, uma piadinha.

– Atenção, atacar!

Pega uma azeitona do bacalhau, coloca entre os dentes e morde.  O caroço foi parar no olho  do meu chefe.

Enfurecido,  Roberto, levanta-se e, em voz alta, anuncia:

– Chega. Vamos embora.  Paulo, se ainda quiser ser diretor de alguma coisa, acho melhor cê procurar em outra empresa.  Marcílio,  vamos   patrocinar uma ONG que cuida de crianças excepcionais e você vai ser contratado para ser o Primeiro  Pallhaço   em Tempo integral.

Saiu e bateu a Porta.

–  Paulo, cê viu como eu agradei?

– Cala boca, Marcílio. Senão eu pego aquela rolha e coloco,  você sabe onde.  Aliás, acho que vou preferir a sua Garrafa de Champagne!

Insulfilme – Realidade e Ficção

Permitir que  carros com vidros nigérrimos   circulem pelo país é absurdo que minha cabeça não é capaz de  entender.

Fiz conto a respeito.  Já devo ter escrito aqui várias vezes a sobre o tema.   Vou postar o conto a seguir.  A leitura do conto é mais agradável, assim sugiro que leia primeiro um dos textos abordando aspectos sérios da coisa, digo, infernais insulfilmes.

Bem, antes de passar aos textos propriamente ditos, minha atitude no trânsito nos dias de hoje.

Sempre fui gentil, sobretudo no trânsito.  A pessoa olhava para mim, indicava que queria/precisava entrar na minha frente por qualquer razão que fosse,  eu sorria, acenava que sim com a cabeça ou fazia um de dedão de positivo.  Pois bem, hoje se um motorista com vidros negros no carro encontra algum obstáculo e está precisando mudar de mão e entrar na minha frente, eu não deixo.  Meu raciocínio é simples, lógico e respeitoso: se ele não quer ser visto, faço questão de atender seu desejo e ignorá-lo.

Link para o texto sério –  clique aqui

Lá vai o conto:

Vidros Negros

Laura estava mais do que Feliz com os vidros nigérrimos que acabara de colocar  no seu Golf.  Tão bons, mas tão bons, que, em plena luz do meio dia,  sol a pino, ela mal conseguia  distinguir a cor das pessoas na rua.

Para comemorar a novidade,  Dry Martini com Tanqueray e Noilly Prat, no Tops, sofisticado  bar/restaurante  perto da Rua Augusta.

– D. Laura, mas a senhora caprichou mesmo nesses “vidros filmados”, hein???   Nem vi que era a senhora, disse o Porteiro,  quando ela abriu a porta.

– Segurança, Tião, Segurança…

– Vai com calma nos drinques, viu  D. Laura???!!!

– Tião, cê sabe que nunca bebo mais do que dois drys martinis.  A partir do terceiro, não sou mais eu, é outra pessoa, falou repetindo a frase de algum ator famoso, cujo nome nunca conseguia lembra-se, principalmente depois dos drys martinis…

Medonho e Pimentinha, que moravam no Treme-Treme da Rua Paim, não acreditaram.

Eles beiravam à marginalidade,  vendendo um ou outro objeto de procedência incerta.  Sim, vou dar a eles de lambuja que não saber de onde vinham, notebooks,  Iphones, Ipads, Aifodes,  e todo tipo de gajets que revendiam, sempre por menos da metade do preço das lojas, não seja contravenção.  Crimes, crimes mesmo, assaltos a mão armada, essas coisas,  não eram com eles.

– Aquela delícia vai sair de lá  de dentro bêbada igual a um peru, disse Medonho,  esfregando as  mãos e lambendo os beiços.

– E nós estamos às vésperas do Natal,  Medonho!!!

Caíram na Gargalhada.

– Pimenta, o Espírito de Natal ainda não  baixou em você???

– Lógico,  Medonho.   O próximo lap top que a gente “comprar” vou dar para minha madrinha levar para o orfanato onde ela é voluntária.

– Que generosidade mais mesquinha, Pimenta.  A minha vai ser bem mais generosa, você vai ver!!!

Todo mundo que  trabalhava na região   servindo  os bacanas era chapas deles;   os eletrodomésticos que tinham em suas casas haviam ganho da dupla.

Não enfrentaram  qualquer  dificuldade para  entrar no estacionamento, onde estava  o carro de Laura, umas duas horas depois que  ela havia entregue ao  Manobrista.  Quando ouviram o porteiro gritar o número do cone sobre o Golf, rapidamente, se acomodaram entre os bancos.  Ninguém percebeu coisa alguma.

– Dona Laura, Dona Laura, tô vendo que a senhora  tava mesmo seca por Dry Martini!!!

Os dois riram da gracinha  de Tião.

– Vai com Deus, Dona Carla!!!

– Pode deixar, Deus protege as crianças e os bêbados, no caso bêbadas.  Tchau Tião!!!
Quatrocentos metros depois do restaurante, Carla sente  uma ponta de faca em sua barriga:

– Perdeu, Playboy, Perdeu!!!  Digo,  Playgirl!!!

E gargalharam de mais uma gracinha infame.

– Toca para a Raposo,  lá a gente escolhe um motel.

– Calma Pimenta, calma .  Agora é a hora da minha generosidade de Natal.  Liga pro Tiozinho Teotônio do 51 do nosso prédio, fala para  tomar dois Viagras porque ele vai participar da Festinha com a gente.

No caminho  do restaurante ao Treme Treme da Rua Paim, da Rua Paim até o Motel  Too Much Love, na Raposo, cruzaram com dezenas de policiais.  Ninguém viu ninguém que estava dentro do Carro.

Pimenta, que, como o próprio nome de Medonho denuncia, tinha aparência mais legal,  sentou-se no Banco da Frente. Passou para Laura uma carteira de identidade falsa  que ela entregou na Portaria.  Antes que Carla entrasse com o carro na área dos apartamentos,  falou para a Funcionária:

– Por gentileza, pede um bom Champagne Branco, Um Rosé e quatro taças para nós.

Os três  divertiram-se muito até altas horas.

Ao Abrir a Segunda Garrafa, Teotônio, animado como nunca, saúda:

– Um brinde a vocês  e ao Inventor do Viagra.

– Pimenta, eu não lhe disse que minha generosidade seria muito mais generosa do que a sua???, falou,  orgulhoso,  o senhor Medonho.

No dia seguinte, a primeira providência de Laura foi levar o Golf à Loja de Auto-Peças:

– Arranca logo essa porra de insulfilme do caralho!!!, gritou ao abrir a porta.