Considero minha inteligência média.
- Se houver onze pessoas, eu vou ser mais inteligente do que cinco e cinco serão mais do que eu.
- Ou se for estabelecida a média do QI dessas dez pessoas, o meu vai estar bem próximo.
Entretanto, o que eu sou desligado e ingênuo é coisa astronômica.
A família inteira, desde sempre, desconfiou, aliás, tinha certeza, de que aquele nosso parente era gay. Eu o considerava assexuado. Minha impressão era de que mulher não fazia a menor falta para ele; tampouco homem.
Achava que não se importava com sexo e ponto.
Quando ele soube que eu ia passar o Carnaval fora, pediu minha casa emprestada porque precisava pintar o seu quarto. Concordei, afinal, mais do que parente, parente, é meu amigo:
– Luís, não vai trazer a mulherada aqui pra casa, viu?
– Fica tranquilo, Paulo.
Falei só pra levantar a moral dele e ele pareceu gostar das minhas palavras. Fiquei contente por, além de solucionar o problema de hospedagem, demonstrar que apostava no seu poder de sedução.
Dentre as manias que eu tenho, não, não é só entrar no chuveiro cantando a mesma canção, tampouco só pedir o cinzeiro depois de a cinza no chão, como personagem da música; mesmo porque não canto ou fumo.
Minha mania é sempre, sempre, voltar de viagem antes do prazo estipulado.
E não seria diferente daquela vez. Corrigindo, foi diferente daquela vez. Quero dizer, 50% diferente. Os cinquenta por cento semelhantes: voltei mais cedo.
E os 50% inéditos. Cheguei lá pelas duas e meia da tarde em casa. Silêncio absoluto. Assim, fui subindo para o meu quarto. Abro a porta devagar.
O Luís e um sujeito dormindo nus. N U S E DE CON-CHI- NHA!
Fechei a porta do quarto, desci a escada sem fazer o mais ínfimo ruído, peguei minha mala de volta, e fui pro cinema.
Na volta pra casa, já tratei de ir buzinando e metendo a mão na campainha.
– Paulo, cê chegou mais cedo. Que ótimo!
– Cheguei. Na verdade, cheguei B E M M A I S C E D O!
E nunca, em tempo algum, toquei no assunto, com ele, e, menos ainda, com qualquer parente.