No começo, não era o verbo. No começo era o Válido.
Você deve se lembrar. Década de 70: era só alguém dizer qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo – Que tal um café???, por exemplo – e a possibilidade de um pseudo-intelectual responder: – Muito válida essa idéia!!!- era de mais de 90%.
Há cerca de quinze anos, foram as invasões do De Repente e do A nível de, expressões que não servem absolutamente para coisa alguma. Ou seja, o “pseudo” pode falar ou escrever quantos de repente e quantos a nível de ele quiser. Se cortarem todos eles, não farão a menor falta; pelo contrário, será um alívio para o ouvido.
O válido era um ligeiro horror; o de repente e o a nível de, horrores médios. Mas, presta atenção, como diz um amigo, os chavões de hoje me fazem ter saudades deles!!!
Inventaram uma língua nova!!!
Não se diz mais que uma pessoa é legal, inteligente, bacana. Reduziu-se tudo isso a: PODEROSA. Que POBREZA!!!
Mas ainda pode piorar. Sujeitos com os atributos (será que quem fala poderoso sabe o que é atributo???) acima também podem ser DIFERENCIADOS!!!
Os ditos diferenciados não gostam de uma roupa, de um restaurante. Para dizer que gostam, exclamam:
– Tal coisa é a minha cara!!!
Afe!!!
Também tem o Tudo de Bom que deve ser mais ou menos aquilo que é a minha Cara – cara deles, naturalmente – já que dentro dessa riqueza morfológica, tô fora!!!
Dá até para fazer um diálogo:
– Vamos combinar: com certeza, vai bombar.
O outro apresenta alternativas, digo, eventos:
– A gente dá uma passada, vê o que tá rolando. Aí a gente liga (faz o gesto pondo o dedão no ouvido e o dedo mínimo na boca) pra Galera. Se der caixa postal, a gente pede pra retornar a ligação.
– Caiu a minha ficha!!! Quem sabe, a gente já alavanca outra balada para amanhã.
Que saudades do Válido. Vou me dar direito, não a um chavão, mas um verso: Eu era feliz e não sabia!!!
Terminando com lamento modernoso:
NINGUÉM MERECE!!!