O radialista João Carlos Rodrigues escreve carta para o Guia da Folha (9 a 15 de Janeiro de 2009) afirmando que “assistir aos filmes no HSBC Belas Artes está se transformando em programa ingrato para quem quer ver obras-primas em silêncio”. Ele relata que na sessão Cineclube de 1/12 duas mulheres conversavam e não atendiam aos seus pedidos de silêncio. Ele estranha ainda os outros espectadores não terem pedido para que elas se calassem. João Carlos propõe que se faça uma campanha “pedindo bom senso e mais educação”. André Sturn, diretor de programação do cinema, afirma o incontestável: esse problema está se tornando freqüente em todas as salas. Ele explica (é fato) que algumas empresas exibidoras estão apresentando vinhetas antes de o filme começar pedindo silêncio. Finalmente, André Sturn, mesmo sabendo que de nada vai adiantar, suponho eu, diz que exibirá a carta do leitor no painel de recortes e críticas de filmes que existe no saguão do Cinema.
Ingenuidade total, uma vez que seria como acreditar em cegonhas sonhar que búfalos que conversam em cinemas vão ler cartas de leitor a respeito do assunto. Acreditar que essa carta será respeitada chega a ser uma piada. Há quase um ano, publiquei texto abaixo sobre o mesmo assunto. Sem falsa modéstia, suponho que minha sugestão seria bem mais eficaz do que propõe o atencioso e sonhador gerente do Belas Artes. Leia e opine.
Quem quiser o link, lá vai: http://bocanotrombone.ig.com.br/2008/02/07/liberdade-e-uma-coisa-barbarie-e-outra/
Quem quiser ler direto, lá vai:
Liberdade é uma coisa, barbárie é outra
Publicado aqui no Boca em 7/2/08
As salas de cinema e de teatro cumprem a lei e antes do início de cada sessão informam a respeito de hidrantes, saídas de emergência e da proibição de fumar. Solicitam ainda que a platéia permaneça em silêncio, desligue os celulares e não faça barulho.
Acontece que a falta de educação e a falta de respeito pelo próximo imperam e essas solicitações de nada adiantam. A platéia imagina que quando os atores estão em silêncio é a deixa para bater papo com o amigo, namorada e começa a conversar como se estivesse em uma sala de visitas, no mesmo volume de voz, inclusive. Muitos esquecem de desligar o celular e, acreditem, atendem o celular sem a menor cerimônia. Nessa selva, certamente o búfalo (elemento grosseiro, verdadeiro bárbaro, no mau sentido) que se limita a mandar jatos de luz no olho do vizinho a cada dois minutos para verificar quem ligou, considera-se verdadeiro príncipe, de tão educado.
Um conhecido meu que freqüenta círculos endinheirados atribui a falta de educação ao fato de as crianças não serem mais educadas pelas mães e pais e sim pelas babás. Sendo ou não as babás responsáveis, o certo é que abusos continuados não podem ser admitidos. Vítimas de uma barbárie rapidinha (rapidinha pra barbárie é curioso, né???; rapidinha combina muito mais com substantivo imensamente mais saboroso) todos nós somos o dia inteiro e a maioria nem se dá conta. Agora, agüentar o búfalo ao seu lado durante duas horas, conversando, fazendo barulho com papel de bala e de pipoca, mandando jatos de luz no seu olho a cada cinco minutos, apesar de acontecer em todas as sessões de cinema e de teatro, é demais e deveria ser mesmo proibido.
Curioso que numa época em que seguranças imensos fardados de ternos pretos circulam por todo lugar o tempo todo, nas salas de cinema não exista um único funcionário para reprimir e até mesmo expulsar aqueles que incomodam. Se for complicado explicar para o segurança o que incomoda, basta fazer que ele assista àquele filminho de proibições que já existe e dar autoridade para ele expulsar da sala quem estiver desobedecendo o que diz o filminho.
Saída mais divertida também existe, mas julgo que não fará o menor efeito. Alguma cadeia de cinema poderia lançar um concurso para escolher o roteiro de um filme/animação de um ou dois minutos que ridicularizasse ao máximo esses bárbaros que tanto incomodam nos cinemas e nos teatros. O autor do roteiro premiado teria a produção do filme e honorários bancados pelo promotor do concurso. A cada tantos meses, poderia ser produzido um novo filme com o mesmo intuito. Para baratear a coisa, uma ou mais cadeia de salas de cinema/teatro poderia (m) patrocinar essa iniciativa.
Esse filme seria exibido sempre antes do início de cada sessão. Segurança de terno preto do tamanho de um armário estaria de prontidão em todas as sessões apenas para lembrar que o filminho é para valer. Aliás, deve fazer parte do roteiro do filme que o anúncio é sério e um segurança está ali para provar isso.
Não me venha ninguém dizer/escrever que minha idéia é de ditador, de nego autoritário, de cara mal humorado. Quem me conhece sabe que não sou nada disso. O que sugiro é o mínimo dos mínimos. E digo mais, sem querer ser megalomaníaco: algum órgão do governo, ligado à educação, deveria até me mandar um email agradecendo pelo texto.
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Bote a Boca no Trombone
Sem querer polemizar com o Belas Artes, cinema que admiro bastante, convido os leitores, principalmente aqueles que gostam de cinema, a se manifestar se acreditam mais nos anúncios expostos no mural de recortes do cinema ou na minha idéia do filminho. Filminho reforçado por Seguranças-Armários, naturalmente, já que búfalos só entendem a força bruta e concreta!!!!