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Filhos…

Teoria verdadeira no Brasil:  avô rico, filho nobre, neto pobre (lógico que há exceções, ainda bem).  Meu querido amigo José Vaidergorn diz que  com  intelectual é semelhante:  filho de intelectual já é uma merda; neto, então, nem se fala.

Isso  se aplica em geral na sociedade.  Filhos da maioria dos profissionais de grande destaque  seguem a carreira do pai.  Mas, ao invés de serem eles mesmos exercendo a coisa, parece que ficam pensando algo do gênero:

–  O que será que meu pai faria nessa situação para eu fazer igual???

E aí o  filho,  para quem a genética passou os olhos e cabelos do pai, mas não o talento, se transforma em  um pastiche, ou melhor, um simulacro,  para não dizer – conforme  a definição dos intelectuais  do meu amigo – uma merda, que, por óbvio, só vai fazer merda.

Como diz a garotada de hoje:

– Simples assim.

Que a vida me afaste cada vez mais desses tipos.

Beber de Manhã

Nove e meia da manhã de ontem, segunda feira brava, na mesa da calçada de Bar da Rua Santo Antônio, Bixiga, três homens e uma mulher já haviam derrubado (goela a dentro) três garrafas de cerveja.  Dentro do bar, deu para ver,  na mesa de dois sujeitos,  três cervejas grandes.

Sei lá, beber a essa hora…  Bem, talvez sejam trabalhadores noturnos e nove meia corresponda exatamente ao Happy Hour deles.

Há alguns anos, mais ou menos no mesmo horário, vi um senhor, dono de padaria no Jardim América, entrando no botequim em frente e pedir um conhaque.  Estranhei no início e em seguida me dei conta de que para ele, o dia já havia começado quando  eu ainda estava no primeiro sono.

É estranho beber de manhã, e, principalmente,   não é da minha conta, mas como eu escrevo e sempre há quem leia, tá aí!!!

Apelidos

Jamais chamei alguém por apelido pejorativo, por mais que os outros o fizessem.  Jamais!!!

Na Redação de jornal da Grande Imprensa, todos tratavam   aquele repórter, pelo fato de ser mal ajambrado,    por Pé na Cova.    Eu, sempre pelo nome.                       Graças a informação que ele me passou (já que estava ocupado em uma grande reportagem), eu fui o primeiro jornalista a anunciar que famoso pugilista brasileiro não poderia mais lutar por problemas sérios de saúde.  O fato é triste, mas, graças a ele,  eu dei o furo de reportagem.

Alguns meninos mensageiros do setor de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes, muito anos atrás, eram oriundos da Febem.  Havia um, o Ronaldo (nome fictício),  que, ao pular uma fogueira de S. João quando criança, caiu e teve queimaduras horríveis com sequelas, perdendo,inclusive, as pontas de alguns dedos.

Como todos o chamava, exceto eu???

É inacreditável:

– Churrasquinho.

Bem, mas quando o assunto é nego (a) arrogante, prepotente e, lógico,  desprezível, aí é comigo mesmo!!!

Nos tempos da fabulosa música do Gil, Pessoa Nefasta, trabalhei com uma mulher que era  Horrorosa de Ruim.  Batizei-a de Nefasta.  Talvez, exceto ela, ninguém a conhecia mais pelo nome.

Uma outra colega de trabalho deu algumas folhas para o mensageiro e falou com muita clareza  que ele as entregasse para a Nefasta.   Pois não é que a outra não viu que a Nefasta estava bem ali atrás.  O rapaz não teve dúvidas. Virou-se e disse:

– Toma, é pra você!!!

Ela  pegou os papéis, não entendeu ou fez que não entendeu.

Eu conheço um cara que tem verdadeira ojeriza à  luz.  Nos lugares em que trabalhou,  todas as janelas e cortinas permaneciam fechadas e um micro abat-jour, com lâmpada de 40 wats no máximo, protegida por uma cúpula,  iluminava infimamente  raio de  cerca de 20, 30 centímetros de sua mesa.

Como eu o batizei???

– Escondidinho no Escurinho!!!  É lógico, é ótimo e é o retrato do cara.

Suponho que esteja milionário pois deve ter sido o inventor desses insulfilmes que tornam os vidros dos carros  nigérrimos e praticamente opacos.

E finalmente a última, o mesmo perfil da Nefasta,  mas cercada de banha por todos os lados, desde a ponta do dedão do pé até a ponta do último fio de cabelo.  Como me refiro a ela???

– Oito Arrobas!!!

Arroba, como se sabe, é unidade de medida para pesar porcas e vacas.  Cada arroba vale 15 quilos.

Aliás, tenho quase certeza de que  acontece com ela o que o formidável Ari Toledo contou a respeito de uma mulher muito peluda, mas muito peluda mesmo.  A mulher peluda  foi transar com um cara e o sujeito não tinha noção  de onde atacar e falou para ela:

– Benzinho,  faz um xixi aí para me dar uma pista!!!

Apelidos cruéis os meus, não são???   Mas os titulares merecem até o ultimo ponto  da última letra de cada um!!!

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Para levantar o Astral, ouça a música Pessoa Nefasta,  do Gil, com o próprio.  Se ele  quiser novamente retratar pessoas  do mal, estiver sem inspiração  e precisar conhecer mais sobre o tema, é  só me chamar que eu indico o endereço desses meus  conhecidos.

Pessoa Nefasta, clique aqui

Não é Inveja Ruim!!!

Alcançar o céu do sono profundo todas as noites e lá permanecer por oito horas. Todos querem, alguns conseguem.

Fiquem com minha inveja esses alguns.

Inveja, como se sabe, não é necessariamente  sentimento ruim.  Você diz:

– Que inveja do Mercedes 2013 de fulano.

Isso não é inveja.  É admiração!!!  Inveja seria se, ao invés de pensar/dizer isso, você fosse lá e riscasse com um prego  o Mercedes.

É essa a inveja (sinônimo de admiração) que tenho.  Não fico à noite batendo em um bumbo para o prédio inteiro me fazer companhia na insônia.

Filmar o Espetáculo Para Ver em Casa o Filme!!!

Ser importunado no cinema por  carentes de todos os sexos   que ficam o tempo inteiro mandando jatos de luz nos seus olhos para ler o email  que acabou de chegar na caixa postal já virou praxe.   Como também já virou praxe  ser agrediddo por  semelhantes jatos  nos seus olhos , mas por outra razão: para fotografar e filmar e depois ver em casa o que eles não estão vendo; afinal,  na hora do show “ao vivo”, eles estão filmando o show, para ver o show “ao morto” em casa.

Para evitar isso,  em cinemas e teatros, todos que querem ficar acendendo luzes para pegar mensagens, fotografando, filmando deveriam  se sentar nas duas últimas fileiras.  Eles se divertiriam lendo email,  filmando e fotografando o que vão ver em casa  e permitiriam que  os exóticos, que foram ao cinema ao teatro para ver  o filme/espetáculo, tivessem um mínimo de paz.

Ontem entrei no show do fabuloso Alceu Valença no intervalo da segunda para a terceira música.  Sujeito da platéia bate nos meus ombros , de certa forma irritado,  e manda  que eu tenha cuidado e não pise na  filmadora dele que estava no chão, no meio da escada da platéia.

Mundo de cabeça para baixo.  Escada não é mais para passar,  é para deixar filmadora filmando o que o infeliz vai ver depois.

Exótica Personagem de Ruy Castro Teria Ido a Woodstock???

Imperdível, como sempre, a coluna de Ruy Castro na página 2  da Folha de S. Paulo de hoje – Foragido de 1969 – .Para dar uma noção  da idade da personagem exótica  que ele descreve, diz: “até aí, tudo bem.  Seria apenas mais um foragido de Woodstock ou Arembepe – a idade era indefinida, algo entre 50 anos e uma gaveta no São João Batista.  Ou alguém mais jovem, que não se conformava por não ter vivido o tempo em que Jimi Hendrix, Janis Joplin, Santana, o Jefferson Airplane e o Creedence Clearwater Rivaval dominavam a Terra.” E a grande surpresa, lógico, fica para as últimas linhas…

No seu lugar, não perderia a coluna do Ruy Castro. Clique aqui.

E para conhecer um pouco sobre o fim dos anos 60, assistiria a trechos do lendário festival de Woodstock, clique aqui

Megasena, Você já Ganhou. Eu já Ganhei. Mas se Ganharmos de novo…

Você aí sonhando ganhar sozinho  o prêmio da Mega Sena da Virada e eu também,  lógico.   Afinal R$ 230.000.000,00 em aplicação segura rendem por mês 0,5%, R$ 1.150.000,00.  Só de juros, ou seja, você gasta tudo isso todo mês e seu capital continua lá,  corrigido pela inflação.

É muita grana, lógico que é muita grana.

Aí,  eu vejo na Internet que o Santos ofereceu R$ 800.000,00 de salários para o Robinho.  Mais uma vez,  muita grana, lógico.

Se você ganhar a Megasena, além do rendimento mensal, vai ter o capital à sua disposição.  Certamente que Robinho e todos os outros craques também têm um belo seguro que vai lhes garantir bela renda vitalícia, em caso de algum imprevisto.

Agora, se você nem eu ganharmos, duas boas frases a respeito.  A primeira, de um milionário,  retratando a realidade  de milionário.  A segunda, minha, para nóiiisss da classe média:

  • Não jogo em loterias.  Já ganhei a sorte grande quando nasci
  • Não jogo em loterias.  Quem nasce no Brasil, tem todos os dentes e ainda o que comer com esses dentes já ganhou a sorte grande.

Como se vê,  estou contrariando a minha frase.  Não para ter vida de milionário, mas para ter acesso aos mesmos mimos de um bom jogador de futebol.  Aliás, eles também ganharam na Loteria ao nascer  e começaram a usufruir do prêmio aos 17/18 anos de idade.  Talvez, a partir de hoje, muitos tempo após ter completado 18 anos, eu não possa chegar lá também!!!  Já tô na torcida.  E digo mais, se eu não ganhar, quero que você ganhe!!!

Se nem eu, tampouco você ganharmos, resta o consolo de termos  todos os dentes…  Cá entre nós, que não é pouco….

Agora, se esses dentinhos puderem ir comer caviar em Paris uma vez por ano …

São Silvestre – “Eu Venci o Queniano”

Fim dos anos 90, corri uma São Silvestre.

Reminiscências divertidas.

Talvez mais legal do que a corrida em si, foi  ter feito todo o percurso correndo, com o treinador seus auxiliares e os outros colegas de equipe, um ou dois domingos antes da prova, a partir das  seis horas da manhã.

Mal chegamos à Consolação e desabou temporal, mas temporal mesmo.  A parte baixa do trajeto foi feita com água pela canela.  Uma  epopéia. Concluído com êxito o percurso,  lá pelas 13 horas, estava almoçando em um sofisticado bufê, na companhia de um bom amigo e sua tia, um velha que confessava ter prazer em fazer fofoca.  Comi uma salada, e o primeiro prato.  Quando fui me servir do prato seguinte, a maldosa coroa disse que eu comia demais.  Meu amigo:

– Mas tia, ele acabou de correr 15 quilômetro, é natural que esteja com muita fome.

Terminado o percurso com sucesso, estava confiante para fazer a prova na tarde do dia 31.   Mas antes tive que ouvir gracinha do meu pai:

– Paulo.  Por que você não faz o seguinte?   Calcula mais ou menos até onde você consegue chegar e deixa o seu carro estacionado nas proximidades.  Aí você pára de correr, anda um pouco, pega o carro e volta para casa.

Engraçadinho ele!!!

Muito legal é a reação do público.   Não faltou em momento algum incentivo.  Mas  sempre tem um gozador.  Lembro-me bem que eu e meu “pelotão” não tínhamos concluído um terço da prova e um cara disse:

–  Os africanos já  estão  cruzando a faixa de chegada…

E era verdade.  O pelotão de elite, sem aspas, fez a prova em 45, 46  minutos. E nós ali ainda nos primeiros sete, oito  quilômetros.

O fato é que uma hora e trinta e oito minutos após   a largada, eu também estava chegando, exatamente no tempo em que meu treinador disse que eu  completaria a prova.  E além de tudo, estava me sentindo como se tivesse acabado de acordar.   Passei um reveillon perfeito, sem qualquer incômodo ou cansaço.

E quer saber???

Eu ganhei do queniano que julga ter vencido a prova.   O cara tem o dobro do meu tamanho, o triplo da minha perna, a metade  da minha idade e a metade do meu peso.  Corrigindo tudo isso, quem foi melhor o queniano ou eu???

É lógico que eu ganhei dele!!!

Brincadeira minha, uma coisa é o meu tempo e outra coisa é a batida do pessoal de elite.  São ordens de grandeza muiiiito diferentes.

Mas se pensar bem…

Solidão???

Depois de longa caminhada com uma amiga  pelo bairro, no portão do seu  prédio, ao se despedir, ela lembrou-se da S. Silvestre amanhã cedo e me convidou para ver os atletas passarem pela Av. Pacaembu, perto de nossas casas.

Uma mulher de uns  70 anos  com seus dois cachorros que passava, antes mesmo de eu dizer qualquer coisa,  já foi logo contando que achava um absurdo a mudança de horário da corrida.

Não tenho nada contra quem quer que seja emitir  opinião  para desconhecidos a respeito do que eles estão conversando.  Aliás, acho super legal.  Eu mesmo,  quando estou no supermercado próximo a algum produto que acho muito bom e alguém ali por perto está comprando o similar,  aconselho a levar o que já conheço.

Escritores têm o hábito de ao verem uma pessoa desconhecida, nas mais diversas cirscunstâncias,  começarem a imaginar como é a vida dela.   Sem a riqueza de imaginação deles, fui no óbvio.  A velhinha deveria ser uma solitária e a corrida de S. Silvestre vinha, até então.   preenchendo tão  bem o espaço entre o fim de seu jantar mais caprichado na companhia de seus cães, até à meia-noite, quando brindaria a chegada do novo ano, antes de ir para a cama.  Ou então, desde que a prova  passou para o período da tarde,  se constituia em mais uma opção para se distrair antes dos comes e bebes.

A partir daquele momento, a velhinha monopolizou pelo menos dois dos meus pedidos, tão comuns nessa época..

1)  Que sua vizinha de apartamento seja outra solitária e que sempre  as duas  produzam ceias fabulosas para brindar a chegada do ano novo.

2) E o desejo mais desejado.  Que eu esteja muito péssimo no desempenho desse exercício de imaginar a verdadeira história das pessoas;  e que ela tenha um monte de filhos e netinhos, ou até mesmo alguns irmãos, sobrinhos e sobrinhos-netos que não podem, em hipótese alguma,  prescindir da presença da mana,  da tia e da  tia-avó querida no reveillon!!!

Agora, vou começar a pensar nos meus pedidos de Ano Novo  para mim mesmo!!!