Eu, eu sempre fui um cara disciplinado e pontual; já meu amigo Antônio, sempre atrasado. Às vezes, na época do colegial, dormi em sua casa. A coisa era muito simples para ele. A aula começava às 7,30 da manhã. 7,30 era o horário que colocava para o despertador tocar.
Nessa sexta-feira mesmo, convidei para ir ver a estreia da peça em que trabalhei no fim de semana. Lógico, ele apareceu. Pontualmente, assim que terminou o espetáculo.
Quem seria o responsável pela única vez em que cheguei atrasado à Rodoviária? O Antônio, naturalmente.
-Tonhão, o ônibus para Santo Antônio da Platina sai às 20 horas. Meu irmão já deixou tudo organizado lá na Fazenda para um super churrasco no sábado. Não vai atrasar, hein!
-Pode deixar, Mayr, às 19,00, tô chegando de Uber ao seu Apartamento.
-Cê ficou louco? Sexta-feira, trânsito infernal e você acha que em menos de uma hora a gente anda de Higienópolis até a Rodoviária.
-Lógico que não fiquei louco. Não quero é estresse.
-Ah bom, então você virá de helicóptero me buscar para irmos à Rodoviária, é isso?
-Não faça ironia barata. Frasista, microcontista, como você não tem direito a fazer ironias baratas, deixa isso para os engenheiros como eu.
-Mas você, com essa sua obsessão pelo atraso, subverte as coisas. Eu faço ironias baratas e você, engenheiro, erra em cálculos que um garoto recém-alfabetizado tira de letra.
-Mayr, o cara com cujo pessimismo eu convivo há cinquenta e dois anos.
-Tonhão, não precisa ser Amyr Klink para saber ser impossível na hora do Rush das sextas-feiras, em uma hora, chegar a qualquer lugar que seja em São Paulo.
-Tá bom, eu chego às seis e meia.
-Tonhão, seis horas cê passa em casa e não se fala mais nisso.
-Seis e quinze.
-Seis horas, Tonhão!
-Seis e quinze.
-Seis Horas, Tonhão.
-Seis e quinze, Mayr.
-Tá bom, seis e quinze!
-Tonhão, sete e vinte e cinco, cê ficou louco!
-Mayr, o seu Jorge, aqui do Uber, disse que é mestre em pegar atalhos na hora do Rush
-Tonhão, além de mestre em Atalhos, o senhor Jorge precisa saber parar a passagem do tempo.
-Bota sua mala aí no banco de trás com você para a gente não perder tempo.
-Nem adianta a gente ir, é impossível.
-Chega de pessimismo.
-Seu Jorge, o senhor acha que dá?
-Seu Mayr, eu sou bom em atalho, mas não faço milagre.
-Chega de conversa mole, entra logo, Mayr.
-Tchau, seu Jorge.
-Por favor, o ônibus das oito para Santo Antônio da Platina.
-Agora são oito e quinze. O ônibus das oito saiu às oito.
-Meu irmão vai ficar muito magoado de a gente não ir ao churrasco que ele vem produzindo há três dias com tanto carinho.
-Mayr, amanhã você é meu convidado para um rodízio no Fogo de Chão!
-Tonhão..
-Fala, Mayr.
-Tonhão, vá à merda!
Mayr além de pontual tem muita paciência. Já aconteceu comigo em combinar um horário para ir em algum lugar, sou prático se a pessoa atrasa eu vou e largo ela para trás. Existem muitos Tonhao por ai e são assim por serem criados assim, quando criança se eu me atrasei foi só uma vez pois meu pai já tomava providência.
Pois é, caro Junior.
Esse cara é exatamente assim, como escrevi. A história do teatro aconteceu, de fato, desse jeito, com essa pequena margem de atraso: a duração do espetáculo.
Bom ter vc de volta aqui no Blog. Digo, vc sempre me prestigia, mas eu preciso escrever, né?
Brigado pela força de sempre.
Abraços
Paulo