Última terça-feira, na sede da Fiesp, na Av. Paulista, em S. Paulo, minha crônica Inesquecíveis e Desprezados recebeu o Prêmio de Segundo Lugar na Mostra ACESC de Literatura. ACESC é a sigla de Associação de Clubes Esportivos e Sócio-Culturais de São Paulo.
Se quiser ler, lá vai.
Inesquecíveis e Desprezados
Há cerca de um mês, aconteceu fato quase inédito na minha vida.
Fim de tarde, como sempre, eu a pé pelo bairro; aliás, meu carro mais parece fazer parte da estrutura da garagem do prédio do que meio de transporte. Moro perto da Estação Marechal Deodoro. Se tem metrô próximo ao local aonde vou, você pode me oferecer um Jaguar com motorista, que eu dispenso. E ando léguas diariamente. Ao invés de fazer baldeação na Sé, quando uso a linha azul, desço ali e vou caminhando para casa. Essa é apenas uma das tiradas que faço quase todos os dias.
Um mês atrás, na Cardoso de Almeida, esquina com a Cândido Espinheira, uma Loja de Sapatos. Parece que um anjo falou para eu entrar. Explico: meu pé é muito alto e curto. A ponta de um sapato, em que meu pé entre, vai chegar sempre meia hora antes de mim. Falei sobre isso com a gerente da loja e que sempre, exceto duas vezes na vida, tive que comprar sapatos sob medida. Ela disse que esse problema é comum e que eles produzem sapatos com quase o dobro de tamanho na altura. Pedi um 38. E não é que ficou perfeito no meu pé. Foi confortador saber que não era um “desprivilégio” exclusivo ter pés assim. Confortador, não por inveja dos pés da imensa maioria, mas por encontrar uma loja para mim e meus pezinhos.
As duas únicas vezes em que havia conseguido comprar sapatos prontos foram na Calle Lavalle, em frente ao hotel em que me hospedei em Janeiro de 72, em Buenos Aires. Ficaram ótimos, confortáveis como só vendo, ou só andando para sentir.
Coincidentemente, voltei para a Argentina seis meses depois. Fui à loja, o vendedor era o mesmo, disse-lhe que os sapatos que comprara em janeiro eram confortabilíssimos e perguntei se ele lembrava-se de mim.
– Lógico que me lembro. Quem se esqueceria de pés como os seus?
Toda essa dificuldade para encontrar sapatos sempre fizeram que eu os usasse até seus últimos suspiros. Havia um, em particular, que era eu calçar e, em uníssono, meus amigos e família:
– Paulo, joga fora esse sapato, que absurdo!
E eu firme com ele. Como digo, errar é humano, persistir no erro é personalidade.
Eu no colégio. Um pedinte na porta da minha casa. Minha mãe não teve dúvidas: despachou meu sapato.
No domingo, na praça em frente de casa, amigos, amigas e eu conversávamos próximos à gangorra, o escorregador e o trepa-trepa.
Um dos meus amigos aponta:
– Paulo, olha, os seus sapatos estão aqui embaixo da gangorra.
E lá estavam eles, desprezados também por um pedinte!
O pedinte aceitou, com certeza, na convicção de que “pé de pobre não tem tamanho”. No entanto tem, sentiu-se desconfortável e descartou. Bela crônica, parabéns pelo prêmio. Abraços
Caro Clerson:
Cê quer saber? Acho que ele ficou mesmo indignado com as condições do pisante!
Brigado pelo elogio. Contente que vc tenha gostado da crônica.
Abraços
Paulo Mayr
Assim como você se afeiçoou aos sapatos, eu arrisco, os sapatos se afeiçoaram à você. Eu acho que eles fugiram do pedinte e voltaram para você, e com testemunhas oculares!
Brigado, pelas gentis palavras, colega Carlos Relva!
Abraços
Paulo Mayr
Sensacional . Criativa e bem escrita . Belo trabalho como todos que Paulo faz .
Brigado Bila, você gentil como sempre.
Valeu a força.