Essa minha crônica abaixo NÃO ficou entre as três finalistas do Prêmio Sindi Clube de 2017. Eu gosto muito dela. Não li as classificadas, mas discordo e protesto. Brincadeira! De qualquer forma, suponho que vc vá se divertir.
Nesse mesmo Prêmio, em 2013, crônica minha – PRAGAS CONTEMPORÂNEAS recebeu menção honrosa. No final, deixo o Link para minha crônica e também colo o Poema do meu amigo Luis Carlos de Moura Azevedo, classificado em terceiro lugar, este ano, no mesmo Prêmio.
Lá vai:
Genética e Injustiça
Começo do ano, vi uma mulher albina no metrô, lembrei-me da Lady. Não, a Lady não era Albina. A Lady foi minha professora particular de genética. Fiquei de recuperação no último período do primeiro colegial. Não tinha noção da coisa e meu colega de classe Mário, hoje amigo há quarenta e seis anos, apresentou-me à ela.
Não era bonita, mas Muito charmosa; devia ter uns vinte e sete anos no máximo e – solteira. Naquele tempo, mulheres com essa idade, que ainda não haviam se casado, eram consideradas solteironas.
Recordo-me de que em uma das aulas, a coisa não entrava na minha cabeça de maneira alguma. A sala de casa, onde tinha aula particular, dava para pátio interno e um salão. Havia ali bar, mesa, cadeiras, duas espreguiçadeiras e uma mesa de pebolim.
Ela propôs:
– Vamos jogar um pouco de pebolim para você relaxar.
Jogamos, voltamos à genética e desempaquei. Fui muito bem na prova de recuperação e hoje entendo um pouco da coisa.
Se um dia eu vir um casal de olhos azuis e o filho de olhos castanhos, vou estranhar.
Boa professora, queria mostrar que a coisa funcionava na prática, Lady disse que iria criar um exercício de genética para resolvermos, envolvendo meus pais, eu e meus irmãos. Eu falei que não seria possível, pois minha mãe havia se casado duas vezes.
Inconscientemente, ela pensou em voz alta:
– Mundo injusto. Sua mãe se casou duas vezes e eu nenhuma…
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Quiser ler, crônica Minha PRAGAS CONTEMPORÂNEAS, que, em 2013, recebeu Menção Honrosa no mesmo Prêmio Sindi-Clube de Literatura, clique aqui
Bem, agora leia a estonteante Poesia do meu Amigo Luis Carlos Moura Azevedo, classificado em Terceiro Lugar. Lá vai:
No último andar a cidade pertence aos urubus
um pouco mais abaixo a coisa toda muda
na semana passada os bombeiros resgataram três pichadores
encalacrados no décimo-quinto andar
de um edifício modernista na rua santa efigênia
certos edifícios ancoram em suas esquinas prediletas
e com o passar dos anos
ficam mais e mais parecidos com cargueiros envelhecidos
corroídos pela maresia
diversos pontos de ferrugem e alguns pecados desculpáveis
em outra encarnação não fui lago nem montanha
penso num prédio baixo vagamente gótico chamado oásis ou osíris
camelos entre as palmeiras do saara
o painel de azulejos
os corredores de granilite
os metais dourados do elevador
à noite os moradores mais antigos custam a pegar no sono
vez por outra surpreendem um estranho do outro lado da persiana de enrolar
escalando a fachada com uma lata de spray na mão
há sempre um marinheiro disposto a esconder os possíveis clandestinos
nos andares intermediários a cidade foi tomada pelas formigas
minúsculas quase imperceptíveis
indestrutíveis em sua formação militar
esquadrões em fila atacando o açucareiro na cozinha
batalhões no banheiro atrás do copo das escovas de dente
tão difícil ancorar um navio nas nuvens do pensamento
encontramos a cidade invadida pelos cupins
eles preferem as estantes carregadas de livros e pecas frágeis de porcelana
mas saboreiam com prazer especial
as escrivaninhas que possuem inúmeros escaninhos
perfeitos para esconder cartas indesejáveis
não sei mais se são mesmo meus estes versos sem rima
como se alguém digitasse por mim as teclas do micro
talvez o mesmo sujeito da lata de tinta
prefiro ignorar os resquícios da dor mais aguda
nos andares mais baixos a cidade pertence às baratas
no rés-do-chão aos cachorros
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Gostou, né? Particularmente, achei muito boa mesmo!