Quiser ler análise interessante sobre os protestos de hoje, veja o que meu conhecido, desde os tempos da USP, brilhante jornalista, Paulo Moreira Leite escreveu. Clique aqui.
Como muitas vezes faço, vou para o lado cômico da coisa.
Eu e minha namorada fomos hoje, por volta das 14 horas, assistir ao excelente filme Ida, no Conjunto Nacional, na Avenida Paulista com Augusta, zona Oeste da Capital.
Corte.
Nas épocas do presidente Collor, havia, aqui em S. Paulo, um restaurante caríssimo, ultra babaca, frequentado por gente igualmente ultra-babaca.
Meu pai dizia:
– Para que eu fosse a tal restaurante, não bastaria que alguém me convidasse e pagasse a conta. Precisaria também me fornecer um disfarce. Porque eu teria vergonha de ser visto em um lugar desses.
Voltando a hoje. Saímos de casa e fomos a pé em direção ao Conjunto Nacional, onde naquele momento estavam ocorrendo protestos. Contei a história do meu pai e as condições dele para ir ao tal restaurante. Na falta do disfarce, combinei com ela que cruzaríamos a Paulista, próximo à Consolação, correndo, escondendo o rosto, e iríamos pela Alameda Santos até o cinema.
Assim fizemos e foi ótimo. Certamente, por conta dos protestos, aqueles que não sabem andar sem carro ficaram em Casa e havia menos de meia dúzia de pessoas na Sala.
Mayr, gostei. É isso ai. A tolice (e os búfalos) tomaram conta do mundo; e, embora todos concordem que o mundo está cheio de tolos, ninguém reconhece ser um. Em 1964 eu tinha 15 anos, sabia bem o que estava acontecendo. Quem levou a multidão a rua (“Marcha da Família”) foi a imprensa da época. Basta consultar arquivos. Tanto bateram na tela que uma “vaca fardada” (como ele próprio se denominava) desceu lá de Minas e acabou no que acabou. É tabu falar da imprensa. É como falar de Maomé, de Alál (“Aláh, meu bom alah/mande beijo pra io-io”). Mas deveriam falar mais dela, como funciona, como se mantem financeiramente, como as coisas acontecem para unir informação, credibilidade, propaganda oficial pago pelos cofres públicos, e muitas coisinhas mais). Ma você se comportou com razão. Usou o desprezo. Foi ver um filme. “As coisas terrenas são as sombras da eternas e se comportam como sobras. Fogem de nós quando a perseguimos e nos perseguem quando fugimos delas.” (“A arte da prudência”, Baltasar Gracián, texto 205, Editora Martin Claret, custa uma merreca e deve estar vendendo como água nesse tempo sombrio; ou melhor, como “rivotril” para as pessoa que não aceitam a “presidenta” e surtaram querendo virar a mesa). A coisa tá feia Mayr, acredite. Então é hora de NÃO fazer coisas daquilo que no futuro possa se envergonhar. Mas devemos colocar graça em tudo, riso e ironia nos acontecimentos, e me ocorre agora uma frase da Darcy Gonçalves: “Não tenho nada contra a imprensa. Tudo o que eu pago para ela dizer, ela diz.” Desculpe a extensão – quando escrevo, falo muito. Um abraço.
Caro Sidney:
Imagina pedir desculpa. Sempre acho o máximo seus comentários.
Sim, concordo com isso que vc disse:
“A coisa tá feia Mayr, acredite. Então é hora de NÃO fazer coisas daquilo que no futuro possa se envergonhar. Mas devemos colocar graça em tudo, riso e ironia nos acontecimentos”.
Perfeito, é isso aí mesmo.
Abraçaos
Tem erro de português e digitação no texto; corrija por mim ou desculpe-me. Abraço
A citação de “A arte da prudência”, de Baltasar Gracián, jesuíta espanhol que o publicou em 1647, surgiu porque estou a ler o livro, a procura de um caminho, pois que, como se diz aqui na região, “quando pasto pega fogo preia foge para o brejo”. Quase a terminar o livro tenho uma grande suspeita, esse Gracián prá mim era mineiro, porque fala como mineiro e ensina como ficar em cima do muro. Abraço.
Caro Sidney:
Buscar caminhos, sejam quais forem, é sempre bom. Mesmo que o guia seja mineiro, aliás, é melhor…. Prudência e caldo de galinha…
Abraços
Paulo Mayr