Ninguém se espanta; e eu não quero acreditar.
Minutos atrás, lindo fim de tarde, Jennifer, de uns dez anos de idade, não estava brincando.
No semáforo do cruzamento da rua Argentina com a av. Brasil, jogava aquelas varetas e pedia trocados para os motoristas que aguardavam o sinal verde. Trazia consigo um celular bem sofisticado. Puxo conversa e ela me diz que era seu. Pergunto quanto lhe custava por mês.
– Barato, mais ou menos trinta reais.
E emenda:
– Me dá umas moedinhas; não, me dá uma nota para me ajudar a pagar a conta do celular.
Acho que isso se chama, ou se chamava antigamente, inversão de valores. Talvez não se chame mais; certamente eu que sou o invertido de me espantar e escrever sobre tal ” banalidade absolutamente comum” dos dias de hoje
Está tudo invertido. Acabei de ver na televisão, agorinha cedo, enquanto tomava café, uma reportagem que mostrava um assalto (acho que pela quinta vez) a um estabelecimento comercial. Dai o reporter mostrou que o local tinha camera de vigilancia, mas que ela não estava funcionando. Dai corta pra delegacia e o delegado, indignado, passa uma descompostura no comerciante: “assim não dá, como quer que a gente trabalhe se o senhor é um relapso, etc e tal”. É mole? A inversão de valores não é coisa de gente menor, nossas autoridades ajudam muito a fomentar.
Pra ficar no teu exemplo, conto uma história. Alguns anos atrás eu e um amigo meu, num momento de desocupação, pegamos umas cartas no correio na época de natal (eram cartas colocadas num cesto e todas endereçadas ao papai noel, que os funcionarios tiveram a idéia de deixar ao público, com o recado de “faça alguém feliz neste natal” – uma boa idéia por sinal). Pois bem, pegamos algumas. Lemos algumas e a grande parte era de crianças pedindo celular. Claro, escolhemos coisas mais simples e mais baratas, umas quatro, cinco cartas). Compramos o brinquedinho pedido e acrescentamos uma cesta básica – contendo alguma guloseima. Enfim, coisa de quem nao tem o que fazer. Dai que saimos destribuindo, aqui a cidade é pequena e dá pra fazer sem esforço. Já na primeira casa (casa muito simples, mas nao miserável), tivemos que bater palmas muito alto, porque lá dentro uma dupla sertaneja se esforçava pra arrebentar a caixa de som. Pois bem, dai a pouco sai uma mulher com um celular na orelha, falava com alguém, nos atendeu sem interromper a conversa, pelo jeito namorava, compreendeu mais ou menos o que a gente dizia e achou muito natural e justo que a gente lhe tivesse levado uma cesta básica. Nem despediu, nem interrompeu a ligação pra agradecer, virou as costas e levou nossos mimos pra dentro. Ficamos os dois na calçada. Sem querer desmerecer quem realmente necessita. As demais não foram muito diferente, sem contar que na última casa quase fomos liquidados por um enorme cachorro, que pelo tamanho e gordura, deveria comer um saco de ração de 45 kg por dia. Um abraço Mayr, vai contando tuas histórias, ,que vou me lembrando das minhas…
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Caro Sidney:
É tudo inacreditável, o que eu conto e também o que vc narra.
Grande abraço
Paulo Mayr
Paulo mayr!!!
Sou um grande protagonista em observar crianças e respansáveis no farol do cruzamento da av.nove de julho com a groelândia.Sempre soube que pedir é uma arte, mas quem da esmola indevidamente é mais doente e irresponsável,que aquele que pede.Pois é ,durante oito anos passando neste cruzamento,pude observar uma grande familía pedindo esmolas e era de se surpreender as táticas usadas por eles.Eles ganhavam roupas de grifes de madames que passavam nos carrões e levavam para casa para venderem no brechô.Pediam dinheiro dizendo que se não levassem tal quantia,seus pais iam bater neles(muitas vezes pessoas davam 30 ou 50 reais de uma só vez).
Muitas madames convidavam as meninas para irem na casa delas e davam tudo de bom e ainda iam com elas nos supermercados fazer compras.Muitas vezes elas ganhavam 50 reais cada uma de uma só vez,mas quem dava exigia que elas fossem embora na hora.A mãe e o padrasto só observavam as crianças.Uma vez observei que uma das crianças estava pedindo dinheiro com uma muleta e simulando como se estivesse aleijada,mas não ela dizia que de muleta ganhava mais dinheiro.Eles mesmo ganhando muita roupa e calcados bons,sempre ficavam no farol com roupas sujas para sensibilizar as pessoas e ganhar mais.Tenho certeza que eles ganhavam muito dinheiro,em media mais de 100 reais por criança por dia.
Tenho certeza de tudo que digo,pois eu sempre via esta familia no onibus (jardim varginha) que eu pegava para ir para casa de volta do meu trabalho e com o tempo eu peguei amizade com eles.Obs:a mãe e uma das suas filhas que pediam esmola tinham telefone celular.
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Caro Cicero:
É isso aí. O celular é o grande objeto de desejo de todas as classe, inclusive das madames que nós conhecemos, não é mesmo???
Abraços
Paulo Mayr
O menino precisa do celular para traficar drogas e fazer contatos com os clientes.
No Brasil já temos mais celulares em uso que gente. Passam de 200 milhões. Ficam obsoletos rapidinho e viram lixo.
Todo dia há um novo lançamento.
Mayr,
Você tem razão em reclamar. Esses meninos são muito folgados e além do mais sempre há alguém por trás que os orienta e arrecada. Mas falando em reclamação, que é típica em jovens de outrora como nós, lembrei-me de uma piadinha sobre quem reclama da vida:
Antes de reclamar da vida, pense na seguinte situação: Você é um gêmeo siamês e seu irmão colado ao seu ombro é gay, e você não. Ele tem um encontro essa noite e vocês só possuem uma bunda.
realmente que mundo é esse?